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Entenda o que é o grupo Wagner, que lançou uma rebelião contra o comando militar da Rússia

Em reação, o presidente Vladimir Putin prometeu neste sábado 24 punir a ‘traição’ do líder do grupo, Yevgueni Prigozhin

O líder do Wagner, Yevgeny Prigozhin, ao lado do general Vladimir Alekseev e do vice-ministro da Defesa da Rússia, Yunus-Bek Evkurov, em registro de 24 de junho. Foto: Handout/TELEGRAM/@razgruzka_vagnera/AFP
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O grupo Wagner iniciou na última sexta-feira 23 uma rebelião na Rússia. Seu líder, Yevgueni Prigozhin, anunciou a ocupação do quartel-general do Exército russo em Rostov, um centro nevrálgico das operações na Ucrânia, e assegurou controlar várias instalações militares.

“Todos nós estamos prontos para morrer. Todos os 25 mil e depois mais 25 mil”, reforçou Prigozhin pelo Telegram. “Estamos morrendo pelo povo russo, que deve ser libertado de quem bombardeia a população civil”.

Mais cedo, Prigozhin acusou o Exército da Rússia de bombardear suas bases na retaguarda do front com a Ucrânia, provocando “um grande número” de vítimas entre os seus combatentes.

Em reação, o presidente Vladimir Putin prometeu neste sábado 24 punir a “traição” do líder do grupo paramilitar, cuja rebelião contra o comando militar de Moscou representa uma “ameaça mortal” e o risco de uma “guerra civil” para o país em pleno conflito com a Ucrânia.

Vestindo terno e gravata pretos, com semblante sério e tom solene, o presidente russo se dirigiu, sem nomeá-lo explicitamente, a Prigozhin: “é uma punhalada pelas costas para o nosso país e o nosso povo”.

Como surgiu o Grupo Wagner?

O Grupo Wagner está sob os holofotes por seu papel na guerra na Ucrânia.

O grupo foi fundado em 2014 e uma de suas primeiras missões conhecidas foi na península ucraniana da Crimeia, naquele mesmo ano, quando mercenários com uniformes sem identificação ajudaram forças separatistas apoiadas pela Rússia a tomar a região.

Após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, Moscou inicialmente usou os mercenários para reforçar as forças da linha de frente, mas, desde então, passou a contar cada vez mais com eles em batalhas críticas, como nas cidades de Bakhmut e Soledar.

A empresa paralimitar, seu dono e a maioria dos seus comandantes foram alvo de sanções dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia.

Quem integra o Grupo Wagner?

A companhia militar privada Wagner já existia muito antes do início da guerra na Ucrânia e era composta por alguns milhares de mercenários.

Acreditava-se que a maioria deles eram ex-soldados de elite altamente treinados. Mas quando as perdas da Rússia durante a guerra na Ucrânia começaram a se avolumar, Prigozhin passou a expandir o grupo, recrutando prisioneiros e civis russos, assim como estrangeiros.

Em um vídeo que circula na internet desde setembro de 2022, Prigozhin é visto no pátio de uma prisão russa se dirigindo a uma multidão de condenados e prometendo que, se eles servissem na Ucrânia por seis meses, suas sentenças seriam comutadas.

Apesar de sua crescente presença na guerra, a eficiência do Grupo Wagner não é clara, com analistas sugerindo que o grupo sofre um grande número de baixas sem fazer avanços significativos.

Operando em uma zona cinzenta legal

O estabelecimento de empresas militares privadas é ilegal de acordo com a Constituição russa, a estabelecer que a responsabilidade pela segurança e pela defesa cabe exclusivamente ao Estado.

O Código Penal da Rússia proíbe que os cidadãos sirvam como mercenários, mas empresas estatais podem ter forças de segurança armadas privadas. Tais brechas na lei permitem que o grupo Wagner opere em uma zona cinzenta semilegal.

O Wagner já trabalhou na África, por exemplo, fornecendo apoio e segurança para mineradoras russas e outros clientes. A Rússia tem sido acusada de usar o grupo como uma ferramenta para obter controle sobre os recursos naturais na África, bem como para influenciar a política e os conflitos em nações estrangeiras, incluindo Líbia, Sudão, Mali e Madagascar.

Também há conhecimento sobre a presença de combatentes do Wagner na Síria.

A Rússia não é o único país com empresas militares privadas. Outras nações, incluindo Estados Unidos, África do Sul, Iraque e Colômbia, têm empresas militares privadas operando dentro e fora de suas fronteiras. Muitos desses grupos operam discretamente.

O Tribunal Penal Internacional e as Nações Unidas alertaram sobre o crescente número de mercenários e empresas militares e de segurança envolvidos nos atuais conflitos armados.

Patrocínio do governo

O grupo Wagner se destaca, porém, por seus laços estreitos com o governo russo, bem como por sua ampla gama de atividades. Enquanto muitas empresas privadas se concentram na prestação de serviços de segurança, o Wagner esteve envolvido em uma ampla gama de tarefas em conflitos e guerras civis.

Os mercenários do grupo também trouxeram descrédito para a organização. Dmitry Utkin, fundador do grupo, tem laços estreitos com uma organização supremacista branca e ultranacionalista conhecida como The Night Wolves (Lobos da noite), um clube de motociclistas que recebeu sanções de EUA, Reino Unido e UE.

(Com informações da Deutsche Welle)

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