O presidente Jair Bolsonaro sugeriu nesta quarta-feira 16 a possibilidade de sua presença em Moscou ter contribuído com a retirada de parte das tropas russas da fronteira com a Ucrânia, embora não tenha fornecido qualquer indício a sustentar tal associação.
De fato, não há ligação entre o anúncio do governo de Vladimir Putin e a viagem do ex-capitão ao país. Mesmo assim, Bolsonaro declarou a jornalistas: “Mantivemos a nossa agenda e, coincidência ou não, parte das tropas deixou as fronteiras. Ao que tudo indica, a grande sinalização é que o caminho para a solução pacífica se apresenta no momento para Rússia e Ucrânia”.
O anúncio de recuo de tropas russas veio ainda na madrugada desta quarta, pelo horário de Brasília. O governo Putin comunicou o fim de manobras militares e, por consequência, a retirada de parte de seu contingente da península da Crimeia, onde a presença de soldados alimentou os temores de uma invasão.
“As unidades do distrito militar do sul finalizaram os exercícios táticos nas bases da península da Crimeia, retornando a suas bases permanentes”, afirmou o ministério russo da Defesa em uma nota.
Ainda na segunda-feira 14, antes da chegada de Bolsonaro, Putin e os ministros Sergei Lavrov (Relações Exteriores) e Sergei Shoigu (Defesa) já haviam afirmado que encerrariam em breve os exercícios militares na fronteira.
Na ocasião, conforme vídeo divulgado por agências russas, Lavrov declarou: “Enquanto ministro das Relações Exteriores, preciso dizer que sempre há uma possibilidade de resolver os problemas que precisam ser resolvidos. As oportunidades de diálogo não foram exauridas”.
Desde o início da tensão, o governo russo acusa o Ocidente, em especial os Estados Unidos, de fazer “histeria e alarmismo” sobre a suposta intenção de Putin de concretizar uma invasão à Ucrânia.
Apesar da sinalização de redução das tropas, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, afirmou nesta quarta que a Rússia estaria ampliando o número de soldados na área.
Segundo o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, “não vimos nenhuma redução”.
“Vemos que eles aumentaram o número e que mais tropas estão a caminho. Estamos preparados para o pior”, disse, em contato com jornalistas em Bruxelas.
Pouco antes da alegação da Otan, o governo russo divulgou um vídeo que mostrava um trem carregado de veículos blindados atravessando uma ponte para deixar a Crimeia, península ucraniana anexada por Moscou em 2014.
Stoltenberg minimizou a relevância do vídeo, mas admitiu ver “uma mensagem de Moscou de que eles darão uma chance à diplomacia”. Logo em seguida, entretanto, mandou um novo recado: “Estamos prontos para encontrá-los para conversar e encontrar uma solução diplomática, mas também estamos preparados para o pior”.
A Rússia se opõe frontalmente à entrada da Ucrânia na Otan e denuncia o que considera um avanço de potências ocidentais sobre antigas repúblicas soviéticas, especialmente por meio da ordem militar.
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