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Enfermeiro é condenado por matar 10 para trabalhar menos

Tribunal na Alemanha considerou homem culpado de assassinar pacientes do setor de cuidados paliativos, ao sedá-los para aliviar sua carga de trabalho durante turnos noturnos

Enfermeiro é condenado por matar 10 para trabalhar menos
Enfermeiro é condenado por matar 10 para trabalhar menos
Enfermeiro condenado por homicídios tenta se esconder em julgamento em Aachen, na Alemanha, em 5 de novembro de 2025. Foto: Oliver Berg/dpa/AFP
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Um ex-enfermeiro foi condenado nesta quarta-feira 6 em Aachen, na Alemanha, à prisão perpétua por uma série de assassinatos de pacientes do setor de cuidados paliativos. O Tribunal Regional de Aachen considerou o homem de 44 anos culpado, entre outros crimes, de dez homicídios e 27 tentativas de homicídio.

Assim, o condenado tem pouca chance de ser libertado após 15 anos, o tempo mínimo que pode ser cumprido por uma sentença de prisão perpétua na Alemanha.

O “comportamento cínico” do réu durante o julgamento “exigiu muito” tanto das famílias enlutadas quanto do tribunal, disse o juiz presidente Markus Vogt ao final da exposição da sentença, que durou mais de duas horas.

De acordo com o tribunal, o réu cometeu os crimes entre dezembro de 2023 e maio de 2024 em um hospital em Würselen, perto de Aachen. O enfermeiro injetava medicamentos nos pacientes, geralmente idosos e com necessidades complexas, “a seu próprio critério”, principalmente o sedativo midazolam, disse Vogt. Os crimes ocorreram durante os turnos da noite, quando o enfermeiro geralmente trabalhava sozinho e sem supervisão.

Os promotores pediram a condenação pela morte de 13 pessoas, a constatação de culpa agravada e proibição vitalícia de exercer a enfermagem. A defesa pediu a absolvição.

Inicialmente, ele foi acusado por nove homicídios e 34 tentativas de homicídio, mas, à medida que o processo se aproximava do fim, o tribunal se convenceu de que o réu havia matado uma décima pessoa. Ele foi considerado culpado de tentativa de homicídio em 27 casos.

Os promotores acusaram o enfermeiro de sedar pacientes para aliviar sua carga de trabalho durante os turnos da noite. O réu afirmou que não administrava medicamentos com o objetivo de tirar a vida de alguém.

“Autorizado a decidir pelo paciente”

O réu se considerava “autorizado” a decidir “se a vida de um paciente valia a pena”, disse Vogt. O homem de 44 anos não agiu por compaixão. Em vez disso, ele percebia o sofrimento dos pacientes como uma perturbação ao seu próprio bem-estar e senso de ordem. A potencial morte dos pacientes era “indiferente” para ele.

Vogt descreveu o réu como alguém com distúrbios narcisistas, incapaz de empatia genuína. Em seu trabalho, o enfermeiro reagia “rápida e frequentemente com mágoa” a tratamentos que considerava injustos. Além disso, ele se sentia “constantemente incompreendido e subestimado” por causa de sua experiência. Ele “não reconhecia” a autoridade profissional dos médicos, disse Vogt.

Quando os pacientes morriam, o réu considerava isso “um resultado perfeitamente desejável”. Ele chegou a afirmar durante o julgamento que havia feito um “excelente trabalho” quando os pacientes morriam em paz. Aparentemente, ele queria que suas ações servissem de modelo para outros enfermeiros.

O homem de 44 anos admitiu em grande parte ter administrado a medicação. No entanto, negou qualquer intenção de matar. Alegou que apenas queria aliviar o sofrimento dos pacientes.

“Ótima fase”

O tribunal, porém, não aceitou esse argumento. Vogt afirmou que o réu sabia, com base em sua experiência, que administrar os medicamentos poderia ser fatal. Os “comentários cínicos” do réu sobre o sofrimento dos pacientes e sua difamação das vítimas durante o julgamento também demonstraram sua falta de compaixão, de acordo com o juiz. Entre outras coisas, o réu comentou, após a morte de vários pacientes, que estava “em uma ótima fase”.

Vogt também comentou sobre as deficiências da clínica. O clima no local não oferecia “nenhuma restrição” às ações do réu, mesmo que seus superiores tivessem notado o aumento no número de mortes. Em maio de 2024, colegas do enfermeiro suspeitaram do que ocorria e contaram os medicamentos, descobrindo discrepâncias. O enfermeiro foi então suspenso de suas funções, sendo preso em meados de 2024.

Legalmente, o tribunal considerou que os homicídios foram cometidos com motivações vis em todos os casos e, em muitos casos, também com premeditação. O tribunal também determinou a gravidade agravada da culpa e impôs a proibição vitalícia de trabalhar em profissões da área da enfermagem. O julgamento estava em andamento desde março.

Este pode não ser o último julgamento contra o enfermeiro. Segundo um porta-voz, a Procuradoria de Aachen está investigando outras mortes, e corpos foram exumados como parte dessa investigação. De acordo com as informações disponíveis, novas acusações são esperadas.

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