Mundo
Embaixadas israelenses distribuem cartilha contra a atuação do Irã na América Latina
Documento afirma também que o grupo libanês Hezbollah apoia o narcotráfico e outras atividades criminosas na região
De Kfar Saba, Israel
Não é possível afirmar que o temido confronto militar entre Israel e Irã vai se tornar realidade, mas no que tange a diplomacia ele é bastante intenso e envolve a América Latina. Uma cartilha produzida pelo Centro de Informação e Documentação de Israel para a América Latina (Cidipal) e distribuída pelas embaixadas israelenses nos países sul-americanos é prova disso.
No informe Cidipal.doc – Documentos sobre Medio Oriente Irán-Latinoamérica – Sangre, Terror y Dinero, o centro de informação apresenta suposições no lugar de documentação e o que diz serem evidências da influência do Irã e do grupo xiita libanês Hezbollah em países da América Latina. O grande perigo reside, segundo o texto, no eixo Teerã – Caracas – La Paz, capitais que estariam mantendo relações de grande proximidade e afinidade ideológica. “O Irã incrementa sua presença política e econômica na América Latina, desafiando os Estados Unidos e tentando minar a hegemonia americana. Além disso, fomenta a islamização radical xiita e exporta a ideologia revolucionária do Irã, utilizando o Hezbollah para estabelecer redes de inteligência, terrorismo e crime para ser – provavelmente – exportadas contra EUA e Israel”. Não custa lembrar, como lembra o capitão e coordenador de estratégia das Forças de Defesa de Israel, Roni Kaplan, que “atualmente o Hezbollah é a maior preocupação do Estado de Israel, seguido do Irã e do Hamas (que controla a Faixa de Gaza).”
Na tentativa de ampliar sua “presença política, econômica, religiosa e de inteligência terrorista”, segundo o informe, Teerã estaria buscando na região apoio ao seu programa nuclear contra a “identidade sionista (Israel e seus conflitos contra os EUA e o Ocidente)”.
O centro de informações e documentação é ligado ao Centro de Inteligência e Informação sobre Terrorismo Meir Amit, localizado desde 2001 em Gilgal, a 11 km de Tel Aviv. De acordo com o documento distribuído pelas representações diplomáticas, antes mesmo da “intensiva atividade iraniana dos últimos anos”, o Hezbollah havia visto na região um “terreno fértil para uma ampla atividade criminosa e terrorista”. “Isso se deve à penetração das comunidades xiitas libanesas que vivem na América Latina e seus laços profissionais estreitos com os cartéis de droga”, diz o texto ao afirmar que o controle do Hezbollah sobre a indústria do crime no Vale do Bekaa, no Líbano, concede ao grupo a vantagem de saber combinar suas habilidades criminosas no Líbano com outras da região latino-americana.
Assim, o principal foco dessas atividades criminosas seria na Tríplice Fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai, além de novos lugares, como Colômbia, México e a Ilha Margarita, na Venezuela.
Pirataria. No trecho em que cita o estudo Pirataria fílmica, crime organizado e terrorismo, do think tank RAND Corporation, o documento afirma que todos os anos são enviados 20 milhões de dólares à Tríplice Fronteira para financiar o Hezbollah. Além disso, o grupo teria baixado uma regra religiosa (fatwa) para “permitir o tráfico de drogas, a fim de investir em atentados terroristas antiamericanos e antijudeus”.
O grupo libanês teria, também segundo o Cidipal, conexões com cartéis de drogas locais, especialmente aqueles com sede no triângulo do Gran Chaco, na fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, assim como os grupos narcotraficantes da Venezuela, Colômbia e México. Além disso, o texto afirma que redes ligadas ao Hezbollah e ao Irã na Argentina “foram usadas para perpetrar dois ataques terroristas, com muitos mortos em Buenos Aires (o bombardeio à Embaixada de Israel em 1992 e ao edifício da Associação Mutual Israelita Argentina em 1994) em vingança aos golpes sofridos pelo Hezbollah no Líbano”.
Ao lembrar a visita do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez a Teerã em julho de 2007, o centro de informação fala em cooperação econômica e petrodólares como pilares que sustentam a influência política do Irã na região, especialmente em Caracas – “Caracastã”. Além disso, busca ressaltar características comuns ao Irã e à Venezuela, dentro do grupo dos cinco maiores exportadores de petróleo mundial, e acordos de cooperação econômica, como a construção pelo Irã de “10 mil edifícios na Venezuela e fábricas de bicicletas, tratores e ladrilhos e, no futuro, uma planta automotriz.”
Por fim, o relatório oferece endereços de sites onde seria feita a disseminação da influência iraniana e do grupo xiita libanês pela América Latina. Seriam blogs que simpatizam com o Irã, com o Hezbollah e com uma comunidade indígena denominada Autonomia Islâmica Wayuu. Todos, segundo o documento, de teor neonazista e contrários à existência do Holocausto.
*A repórter foi enviada por CartaCapital para Israel para participar do curso Os Meios de Comunicação em Zonas de Conflito, promovido pelo Ministério das Relações Exteriores israelense
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