Economia
China anuncia tarifas de 125% a produtos dos EUA e diz que vai ignorar eventual reação de Trump
Segundo o Ministério das Finanças do país, essa foi a última resposta da China na guerra comercial promovida pelo republicano


A China anunciou nesta sexta-feira 11 que aumentará as tarifas sobre os produtos dos Estados Unidos para 125%, aprofundando ainda mais a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.
“A imposição por parte dos Estados Unidos de tarifas anormalmente elevadas contra a China viola gravemente as normas comerciais internacionais, as leis econômicas básicas e o bom senso”, afirmou a Comissão Tarifária do Conselho de Estado de Pequim em um comunicado divulgado pelo Ministério das Finanças.
A nova tarifa entrará em vigor no sábado 12.
A medida é uma resposta direta ao aumento de taxas impostas pela gestão de Donald Trump aos produtos da China, que chegaram a 145% nesta semana, segundo a Casa Branca.
Ignorar novos aumentos
Para a China, essa será a última reação ao tarifaço de Trump, independentemente se o norte-americano anunciar um novo aumento nas taxas ao país asiático. Segundo defendeu o Ministério das Finanças chinês, há poucas chances dos produtos norte-americanos entrarem no mercado com o atual nível dos impostos.
“Levando em consideração que neste nível de tarifas os produtos americanos exportados para a China já não têm mais nenhuma chance de serem aceitos no mercado, se Washington continuar aumentando suas tarifas, a China vai ignorar”, afirmou a Comissão Tarifária do governo, em um comunicado divulgado pelo Ministério das Finanças.
A imprensa estatal informou ainda que Pequim apresentará uma nova queixa à Organização Mundial do Comércio (OMC) para questionar as tarifas dos EUA.
‘Resistir à intimidação’
“A China e a União Europeia devem assumir suas responsabilidades internacionais, proteger juntas a globalização econômica e resistir juntas a qualquer assédio unilateral”, afirmou o presidente Xi Jinping ao comentar o tarifaço de Trump.
A declaração foi dada pelo presidente chinês à a agência estatal de notícias Xinhua após uma reunião com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, em Pequim.
“Isto não apenas protegeria seus direitos e interesses legítimos, mas também protegeria a justiça e a equidade internacional”, insistiu o político asiático sobre o tema.
Oportunidade de aproximação
Em uma entrevista coletiva posterior, Sánchez, partidário da aproximação entre UE e Pequim, declarou que as tensões comerciais entre as potências não devem interferir no desenvolvimento de sua cooperação.
“Tanto a Espanha como a Europa têm um importante déficit comercial com a China em que devemos trabalhar para sanar”, afirmou o líder social-democrata.
“Mas não devemos permitir que as tensões comerciais interfiram no potencial crescimento de nossa relação, entre China e Espanha e entre China e a UE”, acrescentou.
A Espanha importa produtos chineses no valor de 45 bilhões de euros (289 bilhões de reais), mas suas exportações para a segunda economia mundial são de 7,4 bilhões de euros (49 bilhões de reais).
Em sua terceira viagem à China em pouco mais de dois anos, Sánchez tenta estimular as exportações e atrair investimentos que criem “valor agregado” e “emprego qualificado de qualidade”.
Na visita anterior a Pequim, em setembro, Sánchez estabeleceu uma distância da UE e pediu ao bloco que reconsiderasse o plano de impor tarifas elevadas aos carros elétricos chineses.
Bruxelas defendia que as tarifas eram necessárias para proteger os fabricantes europeus da concorrência desleal das empresas chinesas, que recebem apoio estatal.
Pequim respondeu à medida com uma investigação sobre as importações de carne de porco da UE, um tema delicado para a Espanha, a maior exportadora de produtos suínos europeus para a China.
Sánchez anunciou que assinou um protocolo para ampliar as possibilidades de acesso dos produtos suínos espanhóis ao mercado chinês.
A nova viagem gerou críticas da direita espanhola e da imprensa conservadora, que temem uma aproximação da China e consideram que Sánchez não está alinhado com UE.
O secretário do Tesouro de Donald Trump, Scott Bessent, advertiu esta semana os governantes espanhóis que um alinhamento maior com a China “seria como cortar o próprio pescoço”.
(Com informações de AFP)
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