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Em cúpula sobre pedofilia, o papa cita a “praga dos abusos sexuais”

“Iniciemos nossa trajetória armados de fé e coragem”, prega Francisco

O papa Francisco em reunião no Vaticano (Foto: AFP)
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O papa convidou patriarcas, cardeais, arcebispos, bispos e superiores religiosos para encarar “a praga dos abusos sexuais” cometidos por integrantes da Igreja. “Iniciemos nossa trajetória armados de fé e coragem”, pediu. “Peço ao Espírito Santo que nos ajude nestes dias a transformar este mal em uma oportunidade para tomar consciência”, disse. “Que a Virgem Maria nos ilumine para tentar curar as graves feridas que o escândalo da pedofilia provocou tanto aos pequenos como aos fiéis”, concluiu.

A conferência começou com uma oração, seguida de um vídeo com depoimentos das vítimas e as palavras de introdução de Francisco, que viu seu pontificado ofuscado pela multiplicação de denúncias nos Estados Unidos, Chile, Austrália e Espanha. Serão três dias de debates, discursos, reuniões intercaladas com orações, e depoimentos comoventes de vítimas de abusos sexuais quando eram crianças.

“É o momento da verdade. Apesar de dar medo e nos humilhar”, admitiu o arcebispo maltês Charles Scicluna, um dos maiores especialistas sobre o tema e um dos organizadores da reunião, que reunirá 114 pessoas. Entre elas, 12 homens e 10 mulheres que têm funções importantes na hierarquia da Igreja.

A participação das mulheres é um elemento de destaque, três delas estarão envolvidas na sessão plenária: Linda Ghisoni, subsecretária do dicastério do vaticano “Laicos, Vida e Família”, a freira nigeriana Veronica Openibo, madre superior da Sociedade do Menino Jesus, e a vaticanista mexicana Valentina Alazraki.

Papa quer quebrar o silêncio

A responsabilidade, a culpa e a transparência são os principais temas da reunião sobre os abusos sexuais perpetrados pelo clero. O papa Francisco quer quebrar o silêncio em torno dos escândalos de pedofilia e a responsabilidade da Igreja e discutir o que fazer com os que cometeram abusos e também com os bispos que os acobertaram.

Em muitos casos, os sacerdotes culpados foram protegidos pelos próprios bispos que, em vez de puni-los, transferiram os religiosos para outras paróquias, onde continuavam a cometer os abusos. O objetivo também é a transparência da informação para não alimentar a suspeita de que o Vaticano está escondendo segredos nefastos.

Na quarta-feira 20, um grupo da associação ECA Global (Ending Clergy Abuse-Global Justice Project) que representa vítimas de abuso de membros do clero em 22 países protestou nos arredores da Praça São Pedro. Eles queriam entrar no Instituto Maria Bambina, onde outros 12 emissários eram recebidos pelos organizadores do encontro.

“Eles não querem nos deixar entrar sem nos dar explicações, sem critérios. Eles bloquearam nosso caminho. Na prática, as autoridades do Vaticano que estão organizando a cúpula sobre abuso escolheram falar apenas com as vítimas que querem, mas precisam entender que representamos 22 países “, disse Peter Sanders, vítima australiana representante do ECA Global, e ex-integrante da comissão pontifical sobre abusos. Ele pediu demissão no ano passado alegando atitude ambígua e conspiratória da cúria.

Leia também: Pedofilia e conservadorismo entre os muros da Igreja Católica

O Vaticano agradeceu a disponibilidade das vítimas que foram recebidas pelos organizadores da cúpula. “Os membros da Comissão são muito gratos às vítimas que participaram do colóquio pela sinceridade, profundidade e força de seus testemunhos, que certamente os ajudará a entender melhor a gravidade e a urgência dos problemas que serão enfrentados durante o encontro” disse o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti.

“Estimativas são superdimensionadas”

Segundo o monsenhor Charles Scicluna, “promotor da justiça” da Congregação para a Doutrina da Fé, as estimativas de pedofilia seriam superdimensionadas em comparação com o número de queixas sobre os padres acusados de abusos. Dos cerca de 3 mil casos de abusos sexuais denunciados, apenas 10% são de pedofilia.

A reunião vai tratar principalmente das violências sexuais contra os menores de 18 anos, mas não exclui casos de abusos sexuais em maiores de idade. No fim de janeiro, por exemplo, uma ex-freira, a alemã Doris Wagner, acusou o sacerdote Hermann Geissler, um importante membro da Congregação para a Doutrina da Fé, de tê-la violentado em 2009 no confessionário.

O estupro teria acontecido durante um evento em Roma sobre abusos sexuais do clero. O padre pediu demissão imediatamente depois das acusações, embora tenha negado os crimes.

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