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Em 20 anos, mais jornalistas foram mortos em zonas ‘de paz’ do que em conflitos, denuncia RSF

Iraque e Síria dominaram o ranking dos países mais perigosos para a profissão, mas foi na América Latina que ocorreu o maior número de mortes em 2022, indica o relatório

Onde estão Bruno Pereira e Dom Phillips? Foto: EVARISTO SA / AFP
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De 2003 a 2022, 1.668 jornalistas foram mortos em todo o mundo, ou em média 80 por ano, de acordo com um relatório publicado sexta-feira (30) pela organização Repórteres Sem Fronteiras.

“Com um total de 578 mortos em 20 anos”, Iraque e Síria, abalados pela guerra, “representam, sozinhos, mais de um terço dos repórteres mortos”, à frente do México (125), Filipinas (107), Paquistão (93 ), Afeganistão (81) e Somália (78). Mais de 95% dos mortos eram homens.

Em escala global, embora a cobertura de conflitos armados explique muitas mortes nos últimos 20 anos, “mais jornalistas foram mortos em ‘zonas de paz’ ​​do que em ‘zonas de guerra’, por causa de suas investigações sobre o crime organizado e a corrupção”. Assim, quase a metade dos jornalistas assassinados em 2022 (47,4%) estavam no continente americano (México, Brasil, Colômbia, Honduras, etc.), que se mostra “inquestionavelmente o mais perigoso para a mídia”, segundo a RSF.

Sozinho, o México teve 7% dos assassinatos contra profissionais da imprensa nas últimas duas décadas e se tornou o país mais perigoso para o exercício da profissão, à exceção de zonas em guerra.

Mortes na cobertura de conflitos

No período, os piores anos para o exercício da profissão de jornalista remontam a 2012 e 2013, com “respectivamente 144 e 142 assassinatos de jornalistas, em particular devido ao conflito na Síria”, sublinha a RSF. A estes picos, seguiram-se “uma calmaria gradual, depois números historicamente baixos a partir de 2019”, nota a organização de defesa da liberdade de imprensa.

Entretanto, o número de mortos voltou a subir em 2022, com 58 jornalistas mortos em serviço, contra 51 no ano anterior, devido à guerra na Ucrânia. Oito repórteres perderam a vida ao cobrirem a invasão russa a partir de fevereiro, somando-se aos 12 jornalistas que foram mortos no país “nos 19 anos anteriores”.

“Por trás destes números, há rostos, personalidades, talentos e comprometimentos dessas e desses que pagaram com a vida por sua coleta de informações, a sua busca pela verdade e a sua paixão pelo jornalismo”, ressalta Christophe Deloire, secretário-geral da RSF, em Paris. “Este fim de ano de 2022 é uma ocasião para homenageá-los e pedir pelo respeito absoluto da segurança dos jornalistas em todo o lugar nos quais eles são levados a trabalhar e a testemunhar a realidade do mundo.”

Na Europa, Ucrânia e Rússia no topo

A Ucrânia está, assim, em segundo lugar no ranking dos países mais perigosos da Europa, atrás da Rússia, com 25 mortos em 20 anos. “Desde que Vladimir Putin chegou ao poder, os ataques – inclusive fatais – à liberdade de imprensa têm sido sistemáticos lá, como a RSF denunciou com frequência, com destaque para a emblemática execução de Anna Politkovskaia em 7 de outubro de 2006”, insiste a ONG.

Com oito mortes registradas, a França aparece em quarto lugar na Europa, atrás da Turquia, “devido aos assassinatos do Charlie Hebdo em Paris em 2015”.

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