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Eleições no Paraguai não resolverão a crise, diz Lugo

Em conversa com CartaCapital, o presidente deposto do Paraguai diz que o governo de Franco não é capaz de assegurar eleições livres e transparentes

O ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo. Foto: Norberto Duarte/AFP
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Alguns minutos após às 21 horas da quinta-feira 2, o presidente deposto do Paraguai, Fernando Lugo, entra pela sala aonde aconteceria a entrevista coletiva, em um hotel de São Paulo. Com o objetivo de tratar um câncer linfático no Brasil, o ex-presidente e ex-bispo aproveitou a viagem para se encontrar com o ex-presidente Lula e conversar com a imprensa. De pronto, Lugo, sorridente, cumprimenta a todos e arrisca frases em português, demonstrando que ainda guarda o carisma de quando ocupava a presidência. E, mais do que isso, diz que não perdeu as esperanças em relação ao seu país.

“Tenho esperanças de que mudanças ocorram no Paraguai. Não serão mudanças rápidas, mas alguns processos já estão em curso”, disse em alusão a programas de seu governo – que asseguram o acesso gratuito à saúde, por exemplo – e em referência à Frente Guasú, composta por 12 partidos e oito organizações populares. Segundo o ex-bispo católico, seu impeachment-relâmpago, deflagrado em 22 de junho, serviu para unir a esquerda paraguaia. “A próxima eleição será de uma esquerda renovada e uma direita não reciclada. Como se diz no Paraguai: às vezes, quem perde, ganha e quem ganha, perde”, conta Lugo, cercado por cerca de 30 fotógrafos e jornalistas.

Apesar do entusiasmo, Lugo faz ressalvas quanto às eleições presidenciais de 2013, que podem recolocá-lo no poder. “As eleições não solucionam o problema e podem, inclusive, agravá-lo. Acreditamos que um governo golpista não é capaz de assegurar eleições livres e trasparentes”, afirma. As aposta do presidente deposto para contra-atacar em 2013 estão focadas na Frente Guasú. Mas ela, embora unida, não chegou a um consenso sobre quem disputará as eleições presidenciais. Alguns setores da organização ainda atrelam a decisão a uma definição da Corte paraguaia sobre o futuro político de Fernando Lugo.

Após 23 tentativas frustradas registradas em ata no Parlamento do país, o parlamento paraguaio conseguiu a pouco mais de um ano das próximas eleições destituir, em um processo de votação sumário, Fernando Lugo. Até hoje, os parlamentares não apresentaram explicações concretas sobre o que motivou a destituição do presidente que fez o Paraguai obter o segundo maior crescimento econômico (15,3%) do mundo, em 2010, resolveu 130 conflitos agrários e capturou o maior número de narcotraficantes da história do país.

De qualquer forma, Lugo ainda se apega nas duas chances que restaram a ele para voltar ao poder. Uma pela via jurídica e outra pelo processo político.

Após o golpe, Lugo moveu um recurso de inconstitucionalidade na Corte paraguaia, argumentando que sua deposição ocorreu de maneira excessivamente acelerada, em um processo ilegítimo e que não proporcionou ao ex-presidente o devido direito de defesa. No entanto, os recursos foram negados pela Corte, que, segundo Lugo, foi ameaçada pelo parlamento em um exemplo claro de “ingerência inconstitucional”. “Regressar à presidência pela via jurídica é possível, mas acho quase impossível”, diz. “Creio muito em Deus e em milagres, mas neste milagre, não”, afirma, sorrindo.

Fato é que com o impeachment, Lugo não completou os cinco anos de mandato presidencial. Portanto, de acordo com uma interpretação da Constituição paraguaia, o ex-bispo pode se candidatar novamente à presidência, em 2013, ou ao cargo de senador. A constituição do país veta reeleições presidencias e confere aos presidentes o cargo de senador vitalício, os impedindo de se candidatar a cargos eletivos. Contudo, como Lugo não exerceu seu mandato até o final, a regra não se aplicaria a ele.

A sombra do poder


“O poder não mostra o seu rosto, ele está na sombra”. Esta foi a declaração de Fernando Lugo quando indagado sobre quais setores da sociedade contribuíram para a sua destituição. Além de mencionar o evidente posicionamento da mídia paraguaia a favor de sua cassação, o ex-presidente cita quatro resoluções do governo paraguaio, emitidas em pouco mais de um mês, que poderiam dar pistas sobre o rosto do poder no Paraguai.

De acordo com Lugo, o atual presidente, Federico Franco, e o Congresso aprovaram resoluções que livram a produção de soja de impostos – o país é o quarto maior exportador do grão no mundo. Além disso, também estão permitidas a entrada de sementes transgênicas.

As medidas mais controversas, no entanto, dizem respeito ao pagamento de uma dívida de 80 milhões de dólares a um credor suíço e às instalações da mineradora Rio Tinto. Segundo Lugo, o dinheiro cobrado pelo credor jamais chegou ao Paraguai e a instalação da mineradora no país não é vantajosa. “O Paraguai não possui mercado e matéria-prima para que a Rio Tinto instale uma fábrica de processamento de alumínio. Isso só interessa à empresa porque o preço da energia oferecida pelo governo é muito barato”, argumenta.

No entanto, o maior temor é o partido Colorado, de Federico Franco, usar a máquina pública para interferir nos resultados das eleições. Mas Lugo já deixou claro que não confia no atual governo para fiscalizar o processo eleitoral.

Alguns minutos após às 21 horas da quinta-feira 2, o presidente deposto do Paraguai, Fernando Lugo, entra pela sala aonde aconteceria a entrevista coletiva, em um hotel de São Paulo. Com o objetivo de tratar um câncer linfático no Brasil, o ex-presidente e ex-bispo aproveitou a viagem para se encontrar com o ex-presidente Lula e conversar com a imprensa. De pronto, Lugo, sorridente, cumprimenta a todos e arrisca frases em português, demonstrando que ainda guarda o carisma de quando ocupava a presidência. E, mais do que isso, diz que não perdeu as esperanças em relação ao seu país.

“Tenho esperanças de que mudanças ocorram no Paraguai. Não serão mudanças rápidas, mas alguns processos já estão em curso”, disse em alusão a programas de seu governo – que asseguram o acesso gratuito à saúde, por exemplo – e em referência à Frente Guasú, composta por 12 partidos e oito organizações populares. Segundo o ex-bispo católico, seu impeachment-relâmpago, deflagrado em 22 de junho, serviu para unir a esquerda paraguaia. “A próxima eleição será de uma esquerda renovada e uma direita não reciclada. Como se diz no Paraguai: às vezes, quem perde, ganha e quem ganha, perde”, conta Lugo, cercado por cerca de 30 fotógrafos e jornalistas.

Apesar do entusiasmo, Lugo faz ressalvas quanto às eleições presidenciais de 2013, que podem recolocá-lo no poder. “As eleições não solucionam o problema e podem, inclusive, agravá-lo. Acreditamos que um governo golpista não é capaz de assegurar eleições livres e trasparentes”, afirma. As aposta do presidente deposto para contra-atacar em 2013 estão focadas na Frente Guasú. Mas ela, embora unida, não chegou a um consenso sobre quem disputará as eleições presidenciais. Alguns setores da organização ainda atrelam a decisão a uma definição da Corte paraguaia sobre o futuro político de Fernando Lugo.

Após 23 tentativas frustradas registradas em ata no Parlamento do país, o parlamento paraguaio conseguiu a pouco mais de um ano das próximas eleições destituir, em um processo de votação sumário, Fernando Lugo. Até hoje, os parlamentares não apresentaram explicações concretas sobre o que motivou a destituição do presidente que fez o Paraguai obter o segundo maior crescimento econômico (15,3%) do mundo, em 2010, resolveu 130 conflitos agrários e capturou o maior número de narcotraficantes da história do país.

De qualquer forma, Lugo ainda se apega nas duas chances que restaram a ele para voltar ao poder. Uma pela via jurídica e outra pelo processo político.

Após o golpe, Lugo moveu um recurso de inconstitucionalidade na Corte paraguaia, argumentando que sua deposição ocorreu de maneira excessivamente acelerada, em um processo ilegítimo e que não proporcionou ao ex-presidente o devido direito de defesa. No entanto, os recursos foram negados pela Corte, que, segundo Lugo, foi ameaçada pelo parlamento em um exemplo claro de “ingerência inconstitucional”. “Regressar à presidência pela via jurídica é possível, mas acho quase impossível”, diz. “Creio muito em Deus e em milagres, mas neste milagre, não”, afirma, sorrindo.

Fato é que com o impeachment, Lugo não completou os cinco anos de mandato presidencial. Portanto, de acordo com uma interpretação da Constituição paraguaia, o ex-bispo pode se candidatar novamente à presidência, em 2013, ou ao cargo de senador. A constituição do país veta reeleições presidencias e confere aos presidentes o cargo de senador vitalício, os impedindo de se candidatar a cargos eletivos. Contudo, como Lugo não exerceu seu mandato até o final, a regra não se aplicaria a ele.

A sombra do poder


“O poder não mostra o seu rosto, ele está na sombra”. Esta foi a declaração de Fernando Lugo quando indagado sobre quais setores da sociedade contribuíram para a sua destituição. Além de mencionar o evidente posicionamento da mídia paraguaia a favor de sua cassação, o ex-presidente cita quatro resoluções do governo paraguaio, emitidas em pouco mais de um mês, que poderiam dar pistas sobre o rosto do poder no Paraguai.

De acordo com Lugo, o atual presidente, Federico Franco, e o Congresso aprovaram resoluções que livram a produção de soja de impostos – o país é o quarto maior exportador do grão no mundo. Além disso, também estão permitidas a entrada de sementes transgênicas.

As medidas mais controversas, no entanto, dizem respeito ao pagamento de uma dívida de 80 milhões de dólares a um credor suíço e às instalações da mineradora Rio Tinto. Segundo Lugo, o dinheiro cobrado pelo credor jamais chegou ao Paraguai e a instalação da mineradora no país não é vantajosa. “O Paraguai não possui mercado e matéria-prima para que a Rio Tinto instale uma fábrica de processamento de alumínio. Isso só interessa à empresa porque o preço da energia oferecida pelo governo é muito barato”, argumenta.

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