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Dos Brics, só o Brasil apoia resolução pela retirada de tropas russas; confira os outros votos do bloco

O grupo é formado também por Rússia, Índia, China e África do Sul; o texto foi aprovado na ONU com 141 votos favoráveis

A Assembleia-Geral da ONU em Nova York, em 23 de fevereiro. Foto: Michael M.Santiago/Getty Images North America/Getty Images via AFP
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A Assembleia-Geral da ONU aprovou na última quinta-feira 23 uma resolução a exigir a “retirada imediata” das tropas russas da Ucrânia e uma paz “justa e duradoura”.

Foram 141 votos a favor (incluindo o do Brasil), 7 contra (Rússia, Belarus, Coreia do Norte, Eritreia, Nicarágua, Mali e Síria) e 32 abstenções. O documento, avalizado na véspera do primeiro aniversário da invasão russa, apela à “cessação das hostilidades” e “enfatiza a necessidade de alcançar uma paz abrangente, justa e duradoura na Ucrânia o mais rápido possível, de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas”.

O Brasil foi o único país dos Brics a endossar a resolução. O bloco, formado também por Rússia, Índia, China e África do Sul, deve voltar a ganhar atenção do governo brasileiro após os anos de Jair Bolsonaro (PL).

Ao se manifestar pela abstenção na Assembleia-Geral, a África do Sul lamentou “o fato de que a guerra na Ucrânia continua a destruir vidas inocentes e infraestrutura crítica”. Afirmou ainda que “esta é uma guerra cujo impacto se espalha pelo mundo inteiro, afetando a vida dos mais vulneráveis”.

“No entanto, fomos incapazes incapazes de produzir propostas concretas para encerrar a guerra. A África do Sul acredita que diplomacia e diálogo são os únicos caminhos a nos levarem a uma sustentável e pacífica resolução do conflito”, prosseguiu a representação do país. “Apoiamos o foco da resolução nos princípios do direito internacional, mas ela não nos aproxima da base para uma paz duradoura e para o fim da devastação e da destruição. Precisamos de um firme compromisso pela paz de todas as partes.”

A Índia, por sua vez, declarou que “o conflito resultou na perda de incontáveis vidas e na miséria, particularmente para mulheres, crianças e idosos”. Apesar de elogiar a “ênfase em ampliar os esforços diplomáticos”, ponderou que relatos “do campo de batalha mostram um cenário complexo, com o conflito se intensificando em diversos fronts“.

“É importante que nos questionemos sobre algumas coisas. Estamos mais perto de uma possível solução aceitável para os dois lados?”, perguntou. “A Índia continua comprometida com o multilateralismo e sempre apelará ao diálogo e à diplomacia. Atestamos os objetivos da resolução, mas, considerando suas limitações para atingir nosso objetivo de assegurar a paz duradoura, temos de nos abster.”

Embora a representação da China não tenha justificado a abstenção durante a votação de quinta-feira, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, se manifestou sobre a guerra durante uma coletiva de imprensa na sexta 24.

Ele afirmou que o principal diplomata chinês, Wang Yi, em visita à Rússia nesta semana, “elogiou a reafirmação da Rússia sobre sua disposição de resolver os problemas por meio do diálogo e das negociações”.

“Wang enfatizou que quanto mais complicada a situação, mais importante é não desistir dos esforços pela paz. Esperamos que todas as partes superem as dificuldades, continuem a criar condições de diálogo e negociação e encontrem um caminho eficaz para um acordo político”, prosseguiu Wenbin. “A China seguirá, como sempre, uma posição objetiva e justa e desempenhará seu papel construtivo na busca de uma solução política para a crise.”

Segundo o embaixador Ronaldo Costa Filho, representante do Brasil na ONU, “o elemento mais importante da resolução é o apelo à comunidade internacional para redobrar seus esforços para alcançar uma paz justa e duradoura na Ucrânia”.

Ele argumentou haver um “importante elemento humanitário” na resolução, ilustrado pelo “apelo à integral adesão de todas as partes a suas obrigações sob o direito humanitário internacional”.

“Todas as medidas possíveis devem ser adotadas para minimizar o sofrimento da população civil”, prosseguiu. “É hora de iniciar conversas pela paz em vez de estimular o conflito. O Brasil considera o apelo pela cessação de hostilidades como um chamado aos dois lados para interromper a violência, sem pré-requisitos.”

Costa Filho declarou ainda que “nenhuma suposta dificuldade para implementar nosso apelo pela interrupção das hostilidades deve ser vista como um obstáculo para iniciar as negociações”. E emendou: “O Brasil está pronto para participar dos esforços para uma solução duradoura para este conflito”.

Na resolução, o fórum da ONU reiterou o “compromisso” com a “integridade territorial” da Ucrânia. A Assembleia-Geral exigiu que a Rússia “retirasse imediata, completa e incondicionalmente todas as suas forças militares do território da Ucrânia dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas”.

“É uma maioria esmagadora da comunidade internacional e isso confirma o alto nível do apoio à Ucrânia como vítima da agressão russa”, afirmou o alto representante de Política Externa da União Europeia, Josep Borrell. “É muito mais do que somente o Ocidente”, disse o chanceler ucraniano Dmytro Kuleb.

A Rússia evidentemente votou contra a resolução. A agência estatal TASS, ao noticiar a aprovação, criticou o teor do texto. “Com o apoio das nações ocidentais, a Ucrânia apresentou previamente um projeto de resolução para a Assembleia-Geral da ONU, que afirma ter como objetivo a reconciliação. No entanto, o documento não contém apelos a negociações ou ao cessar-fogo, mas exige que a Rússia retire as suas tropas do território ucraniano. Além disso, o documento coloca toda a culpa pelo início do conflito na Rússia“, diz a nota.

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