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Dos ataques às reações: os fatos essenciais do 1º dia de operação russa contra a Ucrânia

Segundo o governo ucraniano, 137 pessoas morreram e 316 ficaram feridas após a deflagração da ação russa

Dos ataques às reações: os fatos essenciais do 1º dia de operação russa contra a Ucrânia
Dos ataques às reações: os fatos essenciais do 1º dia de operação russa contra a Ucrânia
Foto: Daniel Leal/AFP
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Chegou ao fim o primeiro dia da operação militar da Rússia contra a Ucrânia autorizada pelo presidente Vladimir Putin. Segundo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, pelo menos 137 cidadãos de seu país morreram e 316 ficaram feridos.

Zelensky anunciou uma mobilização militar geral para contra-atacar a ação russa, segundo um decreto publicado na internet. No início desta sexta-feira 25 (noite da quinta 24 no Brasil), ele ainda apontou a presença de “grupos de sabotagem” do governo Putin em Kiev e lamentou que seu país tenha ficado “sozinho” no enfrentamento à Rússia.

“Nos deixaram sozinhos para defender nosso Estado”, afirmou Zelensky em uma gravação. “Quem está disposto a lutar conosco? Não vejo ninguém. Quem está disposto a dar à Ucrânia uma garantia de adesão à Otan? Todos estão com medo.”

A quinta-feira foi marcada por uma série de respostas de atores políticos ocidentais, embora o alcance da reação ainda não esteja claro. Um dos pronunciamentos mais aguardados era o do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. O democrata foi questionado por jornalistas na Casa Branca se as sanções anunciadas serão suficientes para deter a ofensiva de Putin e respondeu que as medidas “demoram para surtir efeito”.

Segundo Biden, os países do G7 concordaram em aplicar as sanções mais graves já vistas contra a Rússia. Ele lembrou que a sexta-feira 25 reserva uma reunião da aliança militar do Ocidente, a Otan, e que novas punições podem “maximizar impactos a longo prazo”.

Além disso, os líderes dos 27 países que compõem a União Europeia acordaram a aplicação de sanções com consequências “maciças e severas” contra a Rússia.

“As sanções vão cobrir os setores financeiro, de energia e transportes da Rússia”, diz um documento emitido pela UE após uma cúpula realizada em Bruxelas. Os detalhes, porém, ainda não vieram à tona.

Enquanto isso, países relevantes do xadrez geopolítico tensionam a corda retórica. É o caso da França, cujo ministro das Relações Exteriores declarou que Putin “tem de entender” que a Otan é uma aliança nuclear.

Segundo a ordem militar ocidental, as armas nucleares de seus membros – França, Reino Unido e Estados Unidos – são um componente de dissuasão e defesa.

Ainda na França, o presidente Emmanuel Macron, conversou por telefone com Putin para “exigir o fim imediato” da ofensiva contra a Ucrânia. O francês lembrou ao russo o peso de sanções aplicadas pela comunidade internacional.

Outros países, como Canadá e Reino Unido, também anunciaram punições contra a Rússia.

E Putin?

O governo da Rússia se disse disposto, nesta quinta, a negociar os termos de uma trégua em sua operação militar contra a Ucrânia. O comunicado foi apresentado pelo secretário de imprensa do Kremlin, Dmitry Peskov.

De acordo com o funcionário do governo russo, o presidente Vladimir Putin defende discussões sobre o fim da ação com Volodymyr Zelensky, sob duas condições: a garantia de um status de neutralidade da Ucrânia – ou seja, fora da Otan – e a promessa de não contar com a instalação de armas em seu território.

O Kremlin argumenta que as condições permitiriam o que considera a “desmilitarização” e a “desnazificação” da Ucrânia – isso, na visão do governo de Putin, reduziria a percepção de ameaças à segurança da Rússia.

Peskov também afirmou que caberá a Putin determinar o timing das negociações, mas adiantou que o presidente russo só iniciará as tratativas “se a liderança da Ucrânia estiver pronta para falar sobre isso”.

Também nesta quinta, Putin declarou a empresários que seu governo não tinha outra opção para defender o território do país além do lançamento de tropas contra a Ucrânia.

Ele insistiu ter sido “obrigado” a tomar uma decisão no âmbito militar e alegou que “não tinha como agir diferente”.

Em entrevista à emissora Russia Today nesta quinta, a ministra russa de Relações Exteriores, Maria Zakharova, declarou que o Ocidente ignorou por oito anos o “mar de sangue” em Donbass, onde ficam Lugansk e Donestk – áreas cuja independência Putin reconheceu nesta semana.

“A Rússia não cometeu nenhum tipo de agressão”, reforçou Zakharova. “Isso não começou ontem. Há um mar de sangue que apareceu nos últimos oito anos”, completou, em referência ao conflito nas regiões de Donetsk e Lugansk.

O que fizeram as tropas russas?

O porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, Igor Konashenkov, afirmou que seus militares alcançaram os objetivos no primeiro dia da operação militar.

“Todas as operações atribuídas a grupos de tropas das Forças Armadas da Federação Russa para o dia foram concluídas com sucesso”, disse Konashenkov. O governo russo afirma ter destruído 83 alvos terrestres ucranianos.

Um conselheiro do gabinete presidencial da Ucrânia declarou que forças russas assumiram o controle da usina nuclear de Chernobyl.

Segundo a CNN Internacional, por volta de 0h15 da sexta 25 pelo horário local (18h15 de quinta em Brasília), foi possível ouvir um som que parecia ser de foguetes de artilharia disparados em direção à Ucrânia.

A emissora diz ter visto grandes concentrações de tropas russas ao sul de Belgorod, na Rússia, próximo ao posto de controle final para a Ucrânia.

Além disso, em poucas horas, o aeroporto militar de Antonov, às portas de Kiev, caiu nas mãos das tropas russas, que desceram com cordas de helicópteros, disparando com metralhadoras, conforme relatos de testemunhas à agência AFP.

As informações dão conta de que os helicópteros russos chegaram por volta das 11h (horário local), a partir de Belarus. O aeroporto fica em Gostomel, no limite norte de Kiev.

Belarus, a propósito, também foi alvo de sanções anunciadas pelos Estados Unidos. O governo Biden decidiu punir 24 pessoas e organizações bielorrussas por “apoiar” e “facilitar” a invasão” da Ucrânia.

Belarus é um aliado da Rússia que faz fronteira com o norte ucraniano. O país – que também é uma ex-república soviética – abriga dezenas de milhares de soldados russos.

O presidente bielorruso, Alexander Lukashenko, disse que suas forças armadas não participam da invasão da Ucrânia pela Rússia, mas Kiev afirma que a Rússia ataca com o apoio de Belarus.

O que mais você precisa saber:

  • Os Estados Unidos decidiram expulsar o número dois da embaixada russa em Washington, segundo um funcionário do Departamento de Estado. Serguei Trepelkov foi informado de que teria de deixar o território norte-americano;
  • O Departamento de Defesa dos EUA enviará um contingente extra de cerca de 7.000 militares à Alemanha em resposta à invasão da Ucrânia. O objetivo, diz a gestão Biden, é “tranquilizar os aliados da Otan, dissuadir um ataque russo e ficar de prontidão para apoiar as necessidades da região”;
  • Quase 100.000 pessoas fugiram de suas casas na Ucrânia e milhares buscaram refúgio no exterior;
  • No entanto, brasileiros que desejam deixar a Ucrânia devem fazê-lo por conta própria, já que a embaixada brasileira em Kiev não poderia cuidar dos procedimentos. A informação foi divulgada pelo secretário de Comunicação e Cultura do Itamaraty, Leonardo Gorgulho, durante entrevista coletiva em Brasília. “É mais seguro que os brasileiros usem de meios de transporte locais ou próprios caso queiram deixar a Ucrânia. A embaixada do Brasil – ou de qualquer outro país – não tem condições de fazer a operação de resgate”, afirmou Gorgulho. O Brasil tem cerca de 500 cidadãos na Ucrânia;
  • Segundo a organização OVD-Info, mais de 1.600 pessoas foram presas enquanto participam de protestos contra a invasão da Ucrânia em diversas cidades da Rússia. 51 cidades russas registraram manifestações.

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