Economia

Dois terços da riqueza do mundo são acumulados por 1% da população mundial, diz Oxfam

Em relatório divulgado antes do Fórum Econômico Mundial, a Oxfam sugere a taxação de grandes fortunas

A desigualdade extrema cresce no Brasil e no mundo
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Dois terços de todas as novas riquezas geradas no mundo, nos últimos dois anos, foram acumulados por 1% da população. O dado consta no mais novo relatório da Oxfam, publicado no domingo 15. A pesquisa chama a atenção para o crescimento exponencial da desigualdade no mundo, sinalizando para a necessidade de adoção de medidas urgentes contra a expansão da pobreza.

A divulgação do documento ocorreu na véspera do início do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. O Brasil será representado pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad (PT) e do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede). 

Segundo a pesquisa, o mundo gerou 42 trilhões de dólares em dois anos. Dois terços desse valor ficou nas mãos de 1% da população mundial. Na última década, o 1% mais rico do mundo acumulou, aproximadamente, 50% da riqueza mundial. A Oxfam estima que as fortunas bilionárias crescem atualmente 2,7 bilhões de dólares por dia. Enquanto isso, 1,7 bilhão de trabalhadores vivem em países onde a inflação cresce acima dos seus salários. A Oxfam afirma, no seu relatório, que cada bilionário do mundo representa “um fracasso político”.

A pesquisa concluiu, também, que as empresas de alimentos e de energia mais do que dobraram os seus lucros em 2022, pagando mais de 257 bilhões de dólares aos seus acionistas. A questão alimentar é especialmente simbólica em se tratando da acumulação de riquezas, uma vez que, segundo a pesquisa, 800 milhões vão dormir, todas as noites, com fome. Segundo a Oxfam, é a primeira vez, em 30 anos, que a riqueza extrema e a pobreza extrema crescem simultaneamente.

Além disso, as empresas dos setores de alimentos e energia têm experimentado um cenário de grande inflação global. Contexto, aliás, agravado pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia. A Oxfam avaliou 95 grandes empresas desses setores, chegando à conclusão de que 84% de todos os lucros foram repassados diretamente para acionistas, enquanto os preços crescentes foram repassados aos consumidores.

Segundo a ONG, parte importante da concentração passa pela existência de uma estrutura tributária mundial que, na maioria das vezes, abre mão de uma taxação expressiva sobre patrimônios e heranças, por exemplo. Isso permite com que os detentores das maiores fortunas transmitam seus patrimônios para os seus filhos, fazendo com que a concentração de renda seja garantida no presente e no futuro.

A pesquisa apontou que, a cada dólar de receita tributária, apenas 4 centavos são de impostos sobre patrimônio. Além disso, metade dos bilionários do planeta vive em países que simplesmente não aplicam imposto sobre herança. Assim, cinco trilhões de dólares vão parar, livres de impostos, nas mãos de herdeiros. Esse valor, por exemplo, supera todo o Produto Interno Bruto (PIB) da África, e garantirá a perpetuação de novas gerações de elites financeiras. A expansão desse tipo de concentração de renda gera uma elite cada vez mais restrita de indivíduos cuja riqueza não deriva do trabalho, mas do capital de renda.

No relatório, a Oxfam sugere ainda taxar fortunas bilionárias como forma de reduzir as desigualdades. A organização defende a implementação de um imposto geral de até 5% sobre as fortunas dos mais ricos. 

A alíquota seria progressiva dividida da seguinte maneira:  2% sobre as fortunas dos milionários, 3% sobre quem possui fortuna acima de 50 milhões de dólares, e 5% sobre bilionários. Segundo o relatório, esse percentual poderia gerar até 1,7 trilhão de dólares todos os anos e retirar 2 bilhões de pessoas da pobreza.

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