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Discrição e simpatia foram as marcas da Rainha Elizabeth II, diz ex-embaixador em Londres

Para Rubens Barbosa, representante brasileiro no Reino Unido no governo de FHC, a Rainha transmitia imagem positiva até para ex-colônias

A Rainha Elizabeth II. Foto: Kirsty O'Connor/POOL/AFP
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“Discreta, simpática, deixou um lugar de relevo na história britânica.” Assim a Rainha Elizabeth II foi descrita por Rubens Barbosa, embaixador do Brasil em Londres durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), de 1994 a 1999. Em entrevista a CartaCapital, o diplomata disse que, durante sua passagem como representante no Reino Unido, notou na monarca um grande interesse pelo Brasil.

Para Barbosa, a Rainha transmite uma imagem positiva até mesmo para as ex-colônias. Ele destaca somente o período após a morte da Princesa Diana como o de menor popularidade. “Muita gente ficou contra ela”, relembra o ex-embaixador. Contudo, ele considera que houve uma mudança gradual nessa percepção.

Com relação ao novo ocupante do posto, o Rei Charles III, Barbosa prevê a continuidade da busca pela simpatia e pela reserva. “A discrição é uma marca da Família Real”, afirmou o diplomata, por telefone.

A morte da Rainha Elizabeth II, aos 96 anos, foi comunicada nesta quinta-feira 8 durante a tarde. Lideranças políticas de diferentes países se pronunciaram sobre o acontecimento, inclusive o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio da Silva (PT).

Confira os destaques da entrevista com Rubens Barbosa:

CartaCapital: Qual a marca da Rainha Elizabeth II que o senhor destacaria?

Rubens Barbosa: A Rainha foi um símbolo da união nacional britânica. Ela foi chefe de Estado, chefe da Igreja da Inglaterra… Foi uma figura nacional. Discreta, simpática, deixou um legado de serviço público e um lugar de relevo na história britânica. Ela conheceu 16 primeiros-ministros, 15 presidentes dos Estados Unidos durante os 70 anos de governo dela. Então, acho que a monarquia na Inglaterra é um fato político, de unidade nacional e de prestígio.

Você sabe que nem todo o período dela foi tranquilo. Durante a Guerra, ela trabalhou no Serviço Territorial Auxiliar. A mãe dela era chefe desse serviço. Então, ela teve um serviço público, viajou muito pelas colônias com o marido, era um símbolo da unidade nacional.

CC: A população do Reino Unido via nela uma figura positiva?

RB: Acho que sim. Durante a crise da morte da Diana, muita gente ficou contra. Mas gradualmente isso foi mudando. A monarquia é muito popular na Inglaterra. Houve uma comoção nacional com a morte dela.

CC: Como o senhor vê a figura da Rainha sob o ponto de vista de outros países?

RB: Ela não é chefe de governo, então ela não se mistura com as políticas dos países. Acho que ela transmite uma imagem muito positiva, mesmo nas ex-colônias. Já há muitas manifestações lamentando a morte dela.

CC: É possível descrever algo sobre a relação dela com o Brasil?

RB: Eu fui embaixador lá durante cinco anos e meio e tive muito contato com ela. Tivemos a visita do Fernando Henrique lá, ela esteve na Embaixada e jantou com a gente e a Família Real. Sempre muito simpática. Também ofereceu uma recepção grande ao Fernando Henrique no Buckingham Palace. Na primeira vez que tive contato com ela, eu era um jovem secretário e estive no Brasil acompanhando a visita dela. Comigo, sempre foi muito interessada no Brasil. Tive boas lembranças dela.

CC: Como o senhor vê o perfil do sucessor da Rainha Elizabeth?

RB: Acho que ele vai procurar ser simpático e continuar a servir o Estado, a participar de reuniões e visitas, mas não tem uma função política. A Rainha recebe o primeiro-ministro, como aconteceu agora com a Liz Truss, e é claro que ela conversa e deve ter opiniões, mas o seu pensamento não é tornado público. A discrição é uma das marcas da Família Real.

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