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Dinamarca convocará embaixador dos EUA após nomeação de emissário para Groenlândia

Donald Trump indicou para o cargo o governador do estado da Louisiana, Jeff Landry, que seguirá à frente da administração estadual

Dinamarca convocará embaixador dos EUA após nomeação de emissário para Groenlândia
Dinamarca convocará embaixador dos EUA após nomeação de emissário para Groenlândia
Vila de Tasiilaq, na Groenlândia. Foto: Christine Zenino/Wikimedia Commons
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A Dinamarca anunciou, nesta segunda-feira 22, que convocará o embaixador dos Estados Unidos e pediu a Washington que respeite sua soberania depois que o presidente Donald Trump nomeou um emissário especial para a Groenlândia, um território autônomo dinamarquês cobiçado por Washington.

Desde seu retorno à Casa Branca em janeiro, Trump afirma que “precisa” da ilha de localização estratégica e rica em recursos naturais para garantir a segurança dos Estados Unidos. Ele se negou, inclusive, a descartar o uso da força para assumir o controle da Groenlândia.

O presidente americano anunciou na noite de domingo que designou o governador da Louisiana, o republicano Jeff Landry, como emissário especial dos Estados Unidos para a Groenlândia.

O ministro das Relações Exteriores da Dinamarca, Lars Løkke Rasmussen, afirmou que está “profundamente indignado” com a nomeação.

Em sua rede Truth Social, Trump defendeu a nomeação: “Jeff compreende o quão essencial a Groenlândia é para a nossa segurança nacional e defenderá firmemente os interesses do nosso país para a segurança e a sobrevivência dos nossos aliados e, de fato, do mundo”.

Landry agradeceu a Trump na rede social X pela “honra” e se declarou “voluntário para tornar a Groenlândia parte dos Estados Unidos”. Também explicou que o novo cargo “não afeta de forma alguma” suas funções como governador da Louisiana.

Rasmussen declarou em uma entrevista ao canal local TV2 que a nomeação e as declarações eram “totalmente inaceitáveis”. Também afirmou que o Ministério convocará o embaixador dos Estados Unidos nos próximos dias “para obter uma explicação”.

“Enquanto tivermos um reino na Dinamarca que compreenda a Dinamarca, as Ilhas Faroe e a Groenlândia, não podemos aceitar que alguém mine a nossa soberania”, advertiu.

O primeiro-ministro da Groenlândia, Jens-Frederik Nielsen, e a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, emitiram uma declaração conjunta na qual recordaram que “as fronteiras nacionais e a soberania dos Estados se baseiam no direito internacional”.

“Não se pode anexar outro país. Nem mesmo com o argumento da segurança internacional”, afirmaram. “Esperamos que nossa integridade territorial conjunta seja respeitada”, acrescentaram.

Localização estratégica

Em uma publicação no Facebook, Nielsen também afirmou que a nomeação não muda “nada para nós aqui em casa”.

“Nós mesmos determinaremos o nosso futuro. A Groenlândia é o nosso país”, escreveu. “A Groenlândia pertence aos groenlandeses e a integridade territorial deve ser respeitada”.

A Comissão Europeia expressou seu firme apoio à Dinamarca.

“Preservar a integridade territorial do reino da Dinamarca, sua soberania e a inviolabilidade de suas fronteiras é essencial para a União Europeia”, declarou aos jornalistas Anouar El Anouni, porta-voz do serviço diplomático do bloco.

A maioria dos 57 mil habitantes da Groenlândia deseja a independência da Dinamarca, mas não quer fazer parte dos Estados Unidos, segundo uma pesquisa realizada em janeiro.

As autoridades, tanto da Dinamarca como da Groenlândia, insistem que a ilha não está à venda e que a população decidirá seu futuro.

“A nomeação confirma o contínuo interesse dos Estados Unidos na Groenlândia”, afirmou nesta segunda-feira o ministro dinamarquês das Relações Exteriores em um comunicado enviado à AFP

“Insistimos que todos, inclusive os Estados Unidos, devem demonstrar respeito pela integridade territorial do Reino da Dinamarca”, acrescentou.

A Groenlândia tem uma localização estratégica, entre a América do Norte e a Europa, no momento em que Estados Unidos, China e Rússia demonstram interesse crescente pelo Ártico, onde foram abertas rotas marítimas devido às mudanças climáticas e há grandes reservas de terras raras.

A localização da Groenlândia também a deixa na rota mais curta em caso de lançamentos de mísseis entre a Rússia e os Estados Unidos.

Em agosto, a Dinamarca convocou o encarregado de negócios dos Estados Unidos após denúncias de tentativa de interferência na Groenlândia.

Pelo menos três funcionários de alto escalão do governo americano próximos a Trump foram vistos em Nuuk, a capital da Groenlândia, tentando identificar pessoas a favor e contra uma aproximação com os Estados Unidos, informou a imprensa dinamarquesa.

O governo dos Estados Unidos abriu um consulado na Groenlândia em junho de 2020.

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