Mundo
Diário fecha portas no México após mortes de jornalistas
O veículo “Norte de Ciudad Juárez” anuncia fechamento por “perigos e condições adversas” para o exercício do jornalismo
Um jornal de Ciudad Juárez, no estado mexicano de Chihuahua, anunciou no domingo 2 seu fechamento definitivo por “perigos e condições adversas” para o exercício do jornalismo no país. O periódico em que trabalhava a jornalista assassinada Miroslava Breach Velducea, aponta que as mortes impunes de jornalistas no México tornaram perigosa a continuidade do jornal.
Em editorial publicado no portal digital e na versão impressa, o diretor Oscar Cantu Murguia anunciou que depois de 40 anos promovendo a imprensa livre, o Norte de Ciudad Juárez publicou sua última edição no domingo. Murguia comunicou os leitores numa carta de despedida intitulada “Adeus!”. O jornal empregava cerca de mil funcionários.
“A trágica e sentida morte de Miroslava Breach Velducea, nossa colaboradora, em 23 de março, fez-me refletir sobre as condições adversas em que se desenvolveu o exercício do jornalismo atualmente. O alto risco é seu ingrediente principal”, escreveu Murguia. “As agressões mortais, assim como a impunidade contra os [crimes cometidos a] jornalistas, têm ficado em evidência, impedindo-nos de continuar livremente com nosso trabalho.”
O editorial destaca que o “irresponsável descumprimento” das autoridades públicas dos três níveis do governo também “motivou-nos a tomar essa decisão”. “Tudo na vida tem um começo e um fim, um preço a pagar. E se esta é a vida, não estou disposto que nos paguemos com mais nenhuma vida de nossos colaboradores, nem com a minha própria”, acrescentou Murguia.
O diretor mencionou também questões financeiras, acusando as autoridades estatais de se recusarem a pagar pelo serviço público. No México, a publicidade governamental é a principal fonte de receita para diversos meios de comunicação. Muitos críticos consideram que essa dependência leva a uma cobertura noticiosa e à autocensura.
Breach Velducea trabalhou vários anos para o Norte de Ciudad Juárez, e ocupava o cargo de diretora editorial. Seu assassinato a tiros em frente ao portão de sua casa somou-se à morte de outros dois jornalistas, em diferentes partes do México, no mesmo mês: Ricardo Monlui, do portal El Político, em 19 de março, e Cecilio Pineda Birto, diretor do periódico La Voz de Tierra Caliente, em 2 de março.
Ao menos 38 jornalistas foram mortos no México, desde 1992, em resultado da sua atividade profissional, de acordo com o Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ), com sede em Nova York.
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