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Desigualdade alta deixa o mundo mais vulnerável a pandemias, diz ONU
As doenças também aumentam as desigualdades, mantendo uma relação cíclica que se retroalimenta, conclui a pesquisa das Nações Unidas
Os altos níveis de desigualdade econômica deixam o mundo “mais vulnerável” a pandemias e alimentam um círculo vicioso que coloca em risco a saúde pública e as economias, alertaram nesta segunda-feira 3, economistas e especialistas da ONU.
O relatório encomendado pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) é o resultado de dois anos de pesquisas realizadas pelo Conselho Mundial sobre Desigualdades, Aids e Pandemias, conduzidas por especialistas como o Nobel de Economia Joseph Stiglitz, a ex-primeira-dama da Namíbia Monica Geingos e o epidemiologista Michael Marmot.
“Níveis elevados de desigualdade, tanto dentro dos países quanto entre eles, tornam o mundo mais vulnerável às pandemias, tornando-as mais perturbadoras para a economia e mais mortais, além de fazê-las durar mais”, aponta o relatório.
Por sua vez, as pandemias aumentam as desigualdades, mantendo uma relação cíclica que se retroalimenta.
Esse “ciclo pandemia-desigualdade” pôde ser observado durante crises de saúde pública mundiais como a Covid-19, a Aids, o ebola, a gripe aviária e o Mpox, apontam os especialistas.
“A incapacidade de enfrentar as desigualdades fundamentais e os determinantes sociais desde a Covid-19 deixou o mundo extremamente vulnerável e mal preparado para a próxima pandemia”, acrescentaram.
A pandemia da Covid-19 “empurrou 165 milhões de pessoas para a pobreza enquanto as pessoas mais ricas do mundo aumentaram sua riqueza em mais de um quarto”, destacaram.
Os autores do relatório instam os líderes do planeta a melhorar a preparação para pandemias ao investir em “mecanismos de proteção social” em seus países, ao mesmo tempo que abordam os problemas de desigualdade no mundo, em particular mediante a reestruturação da dívida dos países em desenvolvimento.
“As pandemias não são apenas crises sanitárias, são crises econômicas que podem agravar as desigualdades se os dirigentes tomarem decisões políticas equivocadas”, afirmou Stiglitz.
“Quando os esforços para estabilizar as economias atingidas por uma pandemia são financiados por altas taxas de juros sobre dívidas e por medidas de austeridade, privam de recursos os sistemas de saúde, educação e proteção social. As sociedades tornam-se então menos resilientes e mais vulneráveis às epidemias”, explicou o Nobel.
“Romper esse ciclo requer permitir que todos os países tenham a capacidade orçamentária necessária para investir na segurança social”, acrescentou.
O relatório também recomenda um acesso mais equitativo aos tratamentos e às tecnologias de saúde, e pede uma “eliminação imediata dos direitos de propriedade intelectual” a nível mundial tão logo seja declarada uma pandemia.
Stiglitz deve apresentar nos próximos dias um relatório sobre as desigualdades e a pobreza no mundo aos líderes do G20, grupo que reúne as grandes economias do planeta e que realizará uma cúpula no final de novembro em Joanesburgo.
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