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De olho na eleição, Trump investe em carta sobre assistência alimentar

Essa pode ser a última grande cartada do republicano para angariar votos

Donald Trump
Trump tenta angariar votos na reta final da campanha presidencial. Foto: Joseph Prezioso/AFP Trump tenta angariar votos na reta final da campanha presidencial. Foto: Joseph Prezioso/AFP
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Por Clarissa Carvalhaes

A menos de um mês das eleições presidenciais nos Estados Unidos, Donald Trump (Republicanos) decidiu investir no que talvez pode ser sua última grande cartada para angariar votos. As caixas de assistência alimentar, que vêm sendo distribuídas em bancos de alimentos de todo o país pelo departamento de agricultura americano desde maio, passaram a contar nas últimas semanas com uma surpresa dentro delas: uma carta assinada pelo presidente Trump.

 

As caixas são destinadas às famílias com baixa renda e fazem parte do Programa de Assistência Alimentar Coronavírus, uma iniciativa de distribuição de alimentos que iriam para restaurantes e pequenos negócios que ficaram parados durante a pandemia mundial.

“Como parte de nossa resposta ao coronavírus, priorizei o envio de alimentos nutritivos de nossos fazendeiros para famílias necessitadas em toda a América”, dizem as mensagens escritas em inglês e espanhol, em papel timbrado da Casa Branca. “Apoiaremos a recuperação da América em cada etapa do caminho. Juntos, superaremos esse desafio, e nossa nação sairá desta crise mais forte do que nunca”.

Ao The Washington Post, Joel Berg,executivo-chefe da Hunger Free America, uma organização sem fins lucrativos contra a fome em todo o país, criticou a medida. “Politizar isso é absolutamente ultrajante. Essencialmente, chantageia instituições de caridade alimentícias apartidárias para ajudar a campanha de reeleição de Trump, ameaçando mais americanos de passar fome se essas caixas de comida não forem distribuídas. Este movimento da Administração Trump é ilegal e imoral”.

Segundo especialistas a medida viola a lei federal Hatch, de 1939que limita certas atividades políticas dos funcionários federais, bem como alguns funcionários do governo estaduae local que trabalham em conexão com programas financiados pelo governo federal.

Os objetivos da lei são garantir que os programas federais sejam administrados de forma apartidária, para proteger os funcionários federais da coerção política no local de trabalho e para garantir que os funcionários federais sejam promovidos com base no mérito e não em afiliação política.

Não é a primeira vez que uma decisão de Trump cheira a partidarismo – uma tentativa clara de promover sua candidatura a reeleição. Em abril, quando a pandemia começava a avançar no país, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou que o nome e a assinatura de Trump também estariam nos cheques de estímulo econômico enviados a milhões de americanos e contribuintes de Imposto de Renda – mesmo que o presidente não seja um signatário autorizado para desembolsos legais do Tesouro. Ainda assim, o nome do presidente apareceu na seção “memorando” do cheque.

Em setembro, os democratas do Comitê de Reforma e Supervisão da Câmara chamaram de “propaganda política” o plano do governo de lançar a campanha “Derrotar o desespero e inspirar esperança” avaliada em $250 milhões e promovida pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos.

Em agosto, Trump usou todas as fichas possíveis para sabotar a capacidade dos Correios de realizar uma votação postal em tempo hábil.

O co-diretor do Centro de Pesquisa Econômica e Política em Washington, Mark Weisbrot, afirmou que a ação do presidente era mais uma forma de tentativa de golpe.

Ele declarou abertamente suas intenções de impedir a votação pelo correio. É muito provável que essa seja sua melhor chance de ganhar a eleição, tanto para ele quanto para seu partido. Cerca de 62% dos apoiadores de Joe Biden (Democratas) planejam votar pelo correio; mas apenas 24% dos apoiadores de Trump o fazem. Assim, explica-se os esforços de seu Postmaster General DeJoy – um importante doador para Trump e os republicanos – para reduzir a capacidade dos Correios de entregar dezenas de milhões de cédulas de correio”,explicou Weisbrot a CartaCapital em setembro.

Leia a carta na íntegra:

Querida Família,

Como Presidente, salvaguardar a saúde e o bem-estar de nossos cidadãos é uma das minhas maiores prioridades. Como parte de nossa resposta ao coronavírus, priorizei o envio de alimentos nutritivos de nossos fazendeiros para famílias necessitadas em toda a América. Estamos fazendo parceria com organizações locais, fazendas e ranchos para garantir que você receba frutas e vegetais frescos de origem local, bem como laticínios e produtos de carne.

Nas últimas quatro semanas, entregamos 50 milhões de “Farmers to Families Food Boxes” para famílias americanas e continuaremos a servir aos mais necessitados durante este período de desafios.

À medida que nosso país reabre, eu insisto que todos os americanos continuem a aderir às importantes precauções estabelecidas nas Diretrizes do Coronavírus do Presidente para a América e pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças em relação a melhor forma de proteger você e sua família. Algumas das principais práticas recomendadas para apoiar nossa recuperação em todo o país são:

1. Pratique uma boa higiene e lave as mãos;

2. Pessoas que se sentem mal devem ficar em casa;

3. Proteja os indivíduos mais vulneráveis, incluindo aqueles com mais de 80 anos de idade e aqueles com doenças pré-existentes.

4. Pratique o distanciamento social e considere usar uma cobertura para o rosto quando estiver em público.

Para saber mais, visite: www.coronavirus.gov

Você e seus entes queridos são membros queridos de nossa grande família americana. Esta pandemia trouxe muitas dificuldades para milhões de indivíduos e comunidades que trabalham duro, mas não por culpa própria. Apoiaremos a recuperação da América em cada etapa do caminho. Juntos, superaremos esse desafio, e nossa Nação sairá desta crise mais forte do que nunca.

Atenciosamente,

Donald J. Trump

Presidente dos Estados Unidos

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