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Cubanos aprovam nova Constituição, mas apoio ao regime diminui

Novo documento, aprovado por 87% dos eleitores, prevê avanços econômicos sem renunciar ao regime socialista

Cubanos aprovam nova Constituição, mas apoio ao regime diminui
Cubanos aprovam nova Constituição, mas apoio ao regime diminui
Membros da Assembleia Nacional começaram a debater texto da nova Carta do país
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Com quase 87% dos votos, os cubanos aprovaram em referendo neste fim de semana a nova Constituição do país, que prevê avanços econômicos sem renunciar ao regime socialista.

Apesar de o resultado ter sido considerado satisfatório pelas autoridades da ilha, a consulta popular, realizada neste domingo 24, mostrou uma queda no apoio ao regime.

O novo documento substitui a Constituição de 1976, que havia sido apoiada de forma quase unânime na época, com aprovação de 97%. De um total de 9,2 milhões de eleitores, 7,8 milhões votaram no referendo deste fim de semana, resultando em uma participação de 84,41%.

A nova Constituição foi aprovada com 86,85% dos votos. Cerca de 9% dos eleitores votou contra, 2,53% votaram em branco e houve 1,62% de votos nulos. Os resultados foram divulgados nesta segunda-feira pela Comissão Eleitoral Nacional, mais de 20 horas depois do fechamento das urnas.

O novo texto ratifica o caráter “irrevogável” do socialismo como sistema social da ilha, mas abre a economia cubana ao mercado, à propriedade privada e a investimentos estrangeiros – tudo sob o controle do Estado. O Partido Comunista Cubano (PCC) é reconhecido como único e como “força política dirigente superior da sociedade e do Estado”.

O novo texto constitucional também introduz a garantia da presunção de inocência e do habeas corpus em processos criminais, o estabelecimento da liberdade de imprensa e a possibilidade de os cubanos denunciarem violação de direitos constitucionais cometidos pelo governo.

Mas, para os adversários do regime de partido único, a revisão constitucional é apenas um pretexto para manter o status quo.

Após a divulgação do resultado, o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, que substituiu Raúl Castro em abril de 2018, celebrou os números em sua conta no Twitter.

“Sinto imenso orgulho de fazer parte de nosso povo heroico, valente e firme. Um povo assim merece sempre a vitória. Que tremenda homenagem aos pais da nação e [ao herói da independência José] Martí, Fidel e Raúl [Castro]. Vencemos e vamos adiante. Viva Cuba Livre!”, escreveu.

Díaz-Canel agradeceu ainda a uma mensagem de parabéns do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pelo resultado do referendo.

Outras autoridades também expressaram satisfação com o resultado através de suas contas em redes sociais e usando a hashtag #EuVotoSim (#YoVotoSí, em espanhol), após uma intensa campanha a favor do “sim” nas últimas semanas com cartazes em ruas, estabelecimentos e meios de transporte.

Como a oposição é ilegal em Cuba, onde o voto é voluntário, os eleitores contrários ao regime manifestaram sua oposição através da abstenção, do voto em branco ou rasurando a cédula com slogans para que fosse anulada.

Ativistas, dissidentes e cubanos no exílio lideraram uma campanha a favor do “não” nas redes sociais para enviar uma mensagem contra o regime socialista.

“Um voto pelo não só revela que não há unanimidade, um aspecto com o qual os mais altos dirigentes cubanos têm se deparado de novo e de novo”, disse o acadêmico Rafael Hernández em um artigo publicado no portal independente Oncuba.

A Assembleia Nacional de Cuba deve realizar uma sessão em abril para proclamar a Constituição, que a seguir deve ser publicada na Gazeta Oficial, entrando assim em vigor.

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