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‘Cristina presidenta’: palavra de ordem ultrapassa manifestações e vira plano real de peronistas para 2023

‘O que vemos é que o povo pede, porque é a força da esperança’, afirmou a CartaCapital um deputado governista

Ato de Cristina Kirchner em La Plata em 17 de novembro de 2022. Foto. Luís Robayo/AFP
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Os gritos entusiasmados de “presidenta” marcaram uma grande manifestação protagonizada pela vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, na noite da quinta-feira 17. Cerca de 50 mil pessoas lotaram o Estádio Diego Armando Maradona, em La Plata, em um dia simbolicamente importante para os peronistas, por marcar 50 anos do retorno de Juan Domingo Perón ao país após quase 18 anos de exílio.

A data, no fim das contas, era menos importante que a mensagem a ser transmitida por Cristina a seus apoiadores. No segundo evento público após ser alvo de um atentado frustrado em 1º de setembro, a líder peronista reivindicou o legado de seus governos – e da gestão de Nestor Kirchner – e disparou: “Podemos voltar a ser aquela Argentina, porque já fizemos uma vez. As pessoas têm de decidir se querem voltar a ter aquela Argentina”.

Cerca de vinte minutos após iniciar seu discurso, fez uma pausa para beber água, intervalo preenchido por cânticos de “presidenta, Cristina presidenta”. A resposta, lacônica, veio rapidamente: “Como disse o general [Perón], tudo na sua medida e harmoniosamente”. Ao longo do pronunciamento de quase uma hora, utilizou mais a expressão “compatriotas” que o usual termo “companheiros”.

CFK também exaltou o início dos anos 2000 por marcar a era de ouro do movimento progressista na América do Sul. Ela citou diretamente os governos de Lula, no Brasil; de Evo Morales, na Bolívia; de Rafael Corrêa, no Equador; e de Hugo Chávez, na Venezuela.

Figura ausente no discurso de Cristina e no brado dos militantes foi o presidente Alberto Fernández. A aliança entre o chefe de Estado e sua vice, a bem da verdade, é pouco azeitada desde os primórdios do governo. Há diferenças sobretudo na condução da política econômica, ante (mais) uma grave crise a se abater sobre a população argentina.

Eleito em 2019 na esteira do fracasso do governo neoliberal de Mauricio Macri, Alberto pode, em tese, se candidatar à reeleição. Se Cristina também decidir concorrer, tende a haver uma pouco usual disputa entre presidente e vice em busca de uma candidatura unificada.

O deputado federal Marcos Cleri, da Frente de Todos – coalizão de apoio ao governo de Alberto e Cristina -, repetiu nesta sexta a CartaCapital a declaração da vice sobre tudo ocorrer “harmoniosamente”. Afirmou, porém, que “o que vemos é que o povo pede [uma candidatura de Cristina], porque é a força da esperança, aquela que nos garante um futuro melhor, aquela que mais representa plenamente o projeto de desenvolvimento com inclusão e justiça social”.

“Hoje, Cristina expressa o movimento político que, de mãos dadas com Perón e Evita, deu voz e direitos a uma Argentina silenciada e esquecida. Que construiu a Argentina do equilíbrio virtuoso e harmonioso entre trabalho e capital, a da celebração do Bicentenário com o país de pé, a das universidades, do trabalho, da produção, dos satélites. Erguendo novamente nossas bandeiras: soberania política, independência econômica e justiça social.”

Questionado sobre como ficaria a situação de Alberto no caso de uma candidatura de Cristina, Cleri – deputado representante do distrito de Santa Fé – avaliou que o presidente “conseguiu recuperar o governo” e “teve de enfrentar a restrição da jaula geopolítica do acordo com o Fundo Monetário Internacional, mais a pandemia”.

Ele mencionou ainda o retrocesso imposto ao país pelas políticas neoliberais de Macri e emendou: “Para o que está por vir, todas as opções serão consideradas na mesa de liderança política da coalizão, entre as quais Cristina é a melhor para nós”.

Na Argentina, especialmente após a vitória de Lula, adeptos do peronismo sonham com a volta de Cristina à Casa Rosada a fim de reeditar, ao menos parcialmente, uma “onda de esquerda” na América Latina, com o reforço de países como Chile, Bolívia, Colômbia, Peru, Honduras e México. Alberto, por sua vez, é frequentemente visto como representante de uma ala mais ao centro do espectro peronista.

Enquanto isso, Cristina Kirchner continua a enfrentar uma longa batalha judicial. O Ministério Público defende uma pena de 12 anos de prisão e inabilitação política em um julgamento por suposta prática de corrupção. O caso está em fase final e pode ter um veredito ainda neste ano.

Como vice-presidenta da República e presidenta do Senado, ela não pode ser presa até o anúncio de uma decisão final do Supremo Tribunal de Justiça, o que deve levar anos para acontecer.

Cristina classifica o processo como uma perseguição política e afirma, em diversas ocasiões, que a Justiça – ou, em suas palavras, o ‘Partido Judicial’ – quer vê-la “presa ou morta”.

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