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Cristina Kirchner venceu as primárias em Buenos Aires

Demorou quase três semanas, mas a ex-presidente pode, agora, confirmar sua vitória particular nas prévias da Argentina

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“Fraude” era a palavra que repetiam os fiscais das mesas de votação ao ver que os dados das atas do sufrágio não correspondiam com os dados lançados nos cômputos oficiais. Poucas horas depois do encerramento do evento centenas de pessoas denunciavam a falta de votos da Unidad Ciudadana (a chapa de Cristina Kirchner) na contagem comunicada desde o governo. Mauricio Macri veio a público a comemorar a vitória no domingo de eleição 13 de agosto de 2017 às 22.00 horas.

Todos os mais de 300 veículos de informação e entretenimento do grupo Clarin divulgaram: “Venceu Macri!”. O espetáculo da mídia estava montado. Foi preciso chegar até 5 da manhã da segunda-feira para ver que a realidade não era aquela e o governo mandou a parar de contar os votos. Durante a semana se realizaram denuncias públicas e na justiça. Foi pedida a recontagem e a abertura de urnas.

Nesta quarta-feira 30, quase três semanas depois das eleições, quando estava realmente finalizando o escrutínio oficial o resultado era outro: “Venceu Cristina”. Porém, o grupo Clarin se encarregou de minimizar a notícia e falar de outra coisa.  

Unidad Ciudadana é uma frente política composta por peronistas, socialistas, radicais, socialdemocratas, comunistas, anarquistas, sindicalistas, coletivos de mulheres, aposentados, estudantes e vizinhos, cristãos que fazem trabalho social nas favelas e bairros de operários e especialmente por grupos familiares sem partido ou agrupação política.

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Foi fundada em 20 de junho de 2017 e tem como principal objetivo parar o projeto neoliberal e recuperar o poder político para implementar programas de inclusão social, cultural e econômica, redistribuição da renda e da riqueza, de independência econômica do país e da sua soberania política bem como garantir e ampliar a democratização das instituições. Esse programa foi o escolhido na maioria dos distritos eleitorais.

A frente política oficial Cambiemos, do governo de Macri, está aplicando um programa muito semelhante ao de Temer e inveja a reforma trabalhista votada no Brasil. Com esse projeto o oficialismo se impôs em dois dos quatro distritos mais importantes, o segundo e o terceiro: Cidade de Buenos Aires e província de Córdoba. A Unidad Ciudadana venceu nos outros dois: província de Buenos Aires e província de Santa Fé. Na maior parte dos distritos, a Unidad Ciudadana ficou em primeiro lugar, são 14. Nos 10 restantes venceu o oficialismo.

A quantidade de votos do oficialismo não é pouca, supera o 30%, mas o cálculo dos analistas chega à conclusão de que não é suficiente para manter as alianças no congresso e muito menos para se encaminhar com tranquilidade às eleições presidenciais de 2019. Em Buenos Aires, o maior distrito eleitoral, numa eventual eleição presidencial, Cristina Kirchner contaria com os 34% de Unidad Ciudadana, os 6% de Cumplir do ex-ministro Randazzo e uma parte dos votos peronistas e socialdemocratas da frente do deputado Massa.

A candidatura de Macri, por sua vez, conta com os 33% de Cambiemos e uma parte dos votos da agrupação de Massa. Em plena crise econômica nacional e internacional, com aumento das tarifas e serviços, aumento do desemprego e da inflação, diminuição do poder de compra do salário dos trabalhadores fica difícil para o segmento de Macri convencer aos eleitores indecisos. Ainda mais com os anúncios que serão realizados depois das eleições finais de 22 de outubro. O sócio, ex-CEO de Shell na Argentina e atual ministro da Energia do governo nacional Juan José Aranguren avisou que a fatura da eletricidade virá com 58% de aumento. 

No domingo 22 de outubro se realizará a eleição final. Os fiscais de mesa de Unidad Ciudadana e das esquerdas estão treinando para evitar qualquer possibilidade de manipulação ou fraude, tal como o que aconteceu no passado domingo 13 de agosto. Não se esperam grandes mudanças nas porcentagens e números de votos. 

*Daniel Omar Perez é argentino e professor de Filosofia da Unicamp

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