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CPLP apoia assento do Brasil no Conselho de Segurança da ONU

Reunidos em conferência, Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa pediram reforma do órgão, com cadeira permanente para o Brasil e representatividade da África em um “Conselho ampliado”

CPLP apoia assento do Brasil no Conselho de Segurança da ONU
CPLP apoia assento do Brasil no Conselho de Segurança da ONU
CPLP, em São Tomé e Príncipe. Foto: Ricardo Stuckert/PR
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A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) reiterou neste domingo (27/08) o apoio para que o Brasil ocupe um assento permanente em um Conselho de Segurança da ONU “ampliado” e que o continente africano também seja representado.

Na declaração final após a 14ª Conferência de chefes de Estado e de Governo da comunidade lusófona, em São Tomé e Príncipe, os nove países-membros insistem na “necessidade de se avançar na reforma das Nações Unidas, em particular do Conselho de Segurança, com vista a reforçar a sua representatividade, legitimidade e eficácia, por meio da incorporação de novos membros permanentes e não permanentes e da melhoria dos respectivos métodos de trabalho”.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que participou da conferência, já havia defendido neste sábado em Angola uma reforma no Conselho.

“A ONU de 2023 está longe de ter a mesma credibilidade da ONU de 1945”, afirmou na capital angolana, Luanda.

Para Lula, o órgão que “deveria ser a segurança da paz e da tranquilidade” é, justamente, “o que faz a guerra sem conversar com ninguém”.

“A Rússia vai para a Ucrânia sem discutir no Conselho de Segurança. Os Estados Unidos vão para o Iraque sem discutir no Conselho de Segurança. A França e a Inglaterra vão invadir a Líbia sem passar pelo Conselho de Segurança. Ou seja, quem faz a guerra, quem produz arma, quem vende armas são os países do Conselho de Segurança. Está errado“, argumentou em Angola.

A CPLP é formada por nove países: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Criada em 1996, a comunidade tem como objetivo facilitar a integração e cooperação entre essas nações, tanto entre si, como para atuação em conjunto em outras instâncias internacionais.

Ao fim da conferência, os nove Estados-membros também endossaram a candidatura do Brasil ao Conselho de Direitos Humanos (2024-2026), na eleição prevista para outubro de 2023, e do ministro Bruno Dantas, presidente do Tribunal de Contas da União do Brasil, à Junta de Auditores das Nações Unidas (2024-2030), no pleito de novembro.

Acordo comercial

Os chefes de Estado e governo também aprovaram a reforma administrativa da CPLP, com a criação da Diretoria de Assuntos Econômicos e Empresariais, que ampliará parcerias nessas áreas.

Lula lembrou que, juntos, os países da CPLP reúnem quase 300 milhões de consumidores, espalhados por quatro continentes e com um Produto Interno Bruto (PIB) de 2,3 trilhões de dólares.

“As transições digital e ecológica precisam ser aproveitadas para gerar oportunidades e evitar a concentração de renda e a desigualdade. A promoção do comércio e de investimentos deve garantir empregos dignos e verdes, e ter como objetivo a diversificação de nossa pauta exportadora para além das commodities. A iniciativa angolana de incorporar a cooperação econômica como novo pilar da nossa comunidade ajudará a interligar nossos mercados”, argumentou.

Para Lula, os países vivem o desafio de dinamizar as economias para garantir trabalho digno, salários justos e proteção aos trabalhadores. Nesse sentido, ele citou que vai anunciar, em setembro, ao lado do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, um programa conjunto para a geração de emprego e trabalho decente.

São Tomé e Príncipe assume presidência

A presidência temporária da CPLP passou de Angola para São Tomé e Príncipe, para o biênio 2023-2025, que terá como temas principais “Juventude e Sustentabilidade”.

Lula reafirmou que a sustentabilidade deve ser trabalhada nas dimensões social, econômica e ambiental. Ele citou os resultados da Cúpula da Amazônia, realizada no início do mês, em Belém (PA), e disse que o enfrentamento à mudança do clima é um dos eixos centrais da atual política externa brasileira.

“Muitos ali [em Belém] eram jovens que se engajam de diversas formas na luta contra a mudança do clima. Precisamos colocar as pessoas no centro das políticas públicas, criando soluções que remunerem de forma equitativa a preservação das florestas e da biodiversidade. Temos de evitar o neocolonialismo que leve a um novo ciclo de exploração predatória de minerais críticos e outros recursos naturais. A transição ecológica tampouco deve servir de pretexto para novos protecionismos verdes. Com sua energia e criatividade, os jovens são a força motriz na busca por soluções inovadoras para desafios do desenvolvimento sustentável”, disse Lula.

Para o presidente brasileiro, os tempos atuais são muito mais complexos para os jovens, ao mesmo tempo em que as mudanças de clima colocam em xeque o futuro do planeta.

“As novas gerações vivem com a incerteza de um mercado de trabalho que se transforma. As novas tecnologias são uma conquista extraordinária da inteligência humana, mas, com elas, o desemprego e a precarização alcançam novos patamares. O uso irresponsável das redes sociais com a propagação de fake news e discurso de ódio ameaça à democracia. O culto ao individualismo leva a descrenças de muitos jovens na ação coletiva. Essas tendências foram exacerbadas pela pandemia, que afastou crianças e adolescentes da escola e do convívio social, ampliando ainda mais as desigualdades”, afirmou o presidente.

Durante a visita deste domingo, Brasil e São Tomé e Príncipe também assinaram dois novos instrumentos bilaterais de cooperação, um para a facilitação de investimentos mútuos e outro na área de formação e treinamento diplomático.

A conferência da CPLP foi o último compromisso na viagem do presidente à África. Lula chegou ao continente africano na última segunda-feira. A primeira parada foi na África do Sul para a 15ª Cúpula de chefes de Estado do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Na sexta-feira e no sábado ele esteve em Angola.

(Lusa, Agência Brasil, ots)

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