Covid-19: estudos reforçam tese de que vírus não escapou de laboratório

O cientista Michael Worobeyda, da Universidade do Arizona, defende que o comércio de animais silvestres no mercado de Wuhan tenha sido o vetor

Mercado em Wuhan, na China. Foto: Hector Retamal/AFP

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Um mercado de animais na cidade chinesa de Wuhan foi o epicentro da pandemia de Covid-19, segundo dois novos estudos publicados pela revista “Science” nesta terça-feira 26. Os cientistas buscam descobrir se a doença surgiu naturalmente e passou de animais para humanos ou se foi resultado de um acidente de laboratório. A resposta é considerada vital para prevenir a próxima pandemia e salvar milhões de vidas.

O primeiro artigo analisou o marco geográfico dos primeiros casos de Covid-19 em dezembro de 2019. Ele mostrou que as infecções se concentraram em torno do mercado Huanan. O segundo estudo analisou o genoma do SARS-CoV-2 na época, para tentar compreender a evolução inicial do vírus.

A conclusão é que é improvável que ele circulasse entre humanos antes de novembro de 2019. Os estudos já haviam sido publicados anteriormente como “preprints”, mas foram revisados por outros cientistas e agora publicados na Science.

O cientista Michael Worobey, da Universidade do Arizona e coautor de ambos os artigos, não descartava a hipótese de que o vírus fosse resultado de um vazamento de laboratório. No decorrer da pesquisa, ele mudou de ideia e agora defende que o comércio de animais silvestres no mercado de Wuhan. Essa “é a única explicação para o aparecimento do SARS-CoV-2”, disse o cientista em uma coletiva de imprensa.

Para isso, a equipe de Worobey realizou uma pesquisa na vizinhança dentro de Wuhan, para garantir que o vírus era “zoonótico”, ou seja, passou de animais para pessoas. A equipe do primeiro estudo usou ferramentas de mapeamento para determinar a localização da maioria dos primeiros 174 casos identificados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), descobrindo que 155 deles estavam em Wuhan.

Esses casos se concentravam ao redor do mercado, e alguns dos primeiros pacientes sem histórico recente de visita ao mercado moravam muito perto dele. Os mamíferos apontados como prováveis vetores eram todos vendidos vivos no mercado, segundo a equipe.


Duas linhagens

As equipes também compararam amostras positivas de pacientes do início de 2020 com outras recolhidas na parte oeste do mercado, que vendia animais vivos ou recém-abatidos no fim de 2019. Os primeiros casos contrastaram com a forma como o vírus se espalhou pelo restante da cidade entre janeiro e fevereiro. Essa confirmação foi feita através da análise de dados de registro em redes sociais do aplicativo Weibo.

“Na verdade, ele teve origem nesse mercado, de onde se propagou”, escreveu o autor do estudo em um comunicado. O segundo estudo se concentrou em entender a evolução inicial do vírus. Os pesquisadores concluíram que, antes de fevereiro de 2020, existiam duas linhagens do vírus – A e B -, e que ambas foram resultado de dois eventos separados de transmissão para pessoas, os dois no mercado de Wuhan. Estudos anteriores sugeriram que a linhagem B havia evoluído a partir da A.

É provável que outras transmissões de animais para pessoas ocorreram no mercado, mas que não se manifestaram como casos de Covid. O estudo conclui que é pouco provável que houvesse circulação em pessoas antes de novembro de 2019.

“Nós refutamos a teoria de vazamento de laboratório? Não, não o fizemos. Algum dia saberemos? Não”, ressaltou o coautor Kristian Anderson, do Scripps Research Institute. “Mas acredito que o que é importante aqui é a existência de cenários possíveis e plausíveis. É realmente importante entender que possível não significa provável”, disse.

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