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Covid-19: Argentina inicia vacinação nesta terça-feira

País começa campanha de imunização contra o coronavírus com a Sputnik V, produzida na Rússia

Foto: ESTEBAN COLLAZO / Argentinian Presidency / AFP Foto: ESTEBAN COLLAZO / Argentinian Presidency / AFP
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Com a distribuição dos últimos lotes da Sputnik V nesta segunda-feira 28, a Argentina inicia a maior campanha de vacinação da história do país a partir desta terça-feira 29. Porém, a vacina russa, ainda sem publicações científicas suficientes, gera desconfiança na população.

 

Os caminhões refrigerados, especialmente condicionados para transportar milhares de vacinas russas a -18ºC, partiram do centro de distribuição na periferia de Buenos Aires na madrugada do domingo 27, acompanhados de forte proteção das forças de segurança. Para as duas províncias mais distantes, Santa Cruz e Terra do Fogo, o caminho foi aéreo.

A logística traçada previu que todas as entregas terminassem em cada província nesta segunda-feira. A partir das 9h da manhã desta terça-feira 29, a Argentina se tornará o primeiro país latino-americano a aplicar a Sputnik na população, apesar de os dados sobre o testes clínicos ainda serem escassos.

A distribuição das 300 mil doses seguiu uma lógica proporcional à quantidade de profissionais da Saúde disponíveis em cada uma das 24 províncias. Na capital argentina, por exemplo, a primeira a ser vacinada será uma enfermeira do Hospital Argerich. Esse primeiro estoque será para o pessoal responsável pelas unidades de terapia intensiva.

O governo definiu a campanha de vacinação como a maior da história argentina. Ela terá 36 mil vacinadores, 80 mil assistentes e 10 mil voluntários, distribuídos em 7.749 postos de saúde. “Vamos vacinar 60% a mais de pessoas do que as habituais campanhas de vacinação”, calculou o ministro da Saúde, Ginés González García.

Urgências marcam o ritmo

A pressa do governo obedece a três urgências: política, sanitária e econômica. A política tem a ver com a necessidade de subir ao pódio dos primeiros países da América Latina a vacinar, embora México, Chile e Costa Rica tenham começado a usar a vacina da Pfizer desde o dia 24, enquanto a Argentina apostou na russa Sputnik.

A urgência sanitária está ligada à preocupação com o novo aumento dos casos nas duas últimas semanas, que levaram o país temer a chegada de uma segunda onda, fechando as suas fronteiras a diversos países, incluído o Brasil.

A Argentina é também uma das economias mais castigadas do mundo pela pandemia, depois da mais prolongada quarentena. Além disso, 2021 será um ano eleitoral – as eleições legislativas estão previstas para outubro e será influenciada pelo fracasso ou sucesso da campanha de vacinação.

O objetivo é exibir o processo de vacinação como um triunfo governista. Em janeiro, chegarão outras cinco milhões de doses e, em fevereiro, mais 14,7 milhões, totalizando 20 milhões, suficientes para 10 milhões de pessoas. A previsão é de 51 milhões de doses ao longo do ano entre todos os acordos com farmacêuticas, a maioria em negociação.

“O objetivo é que, quando o outono chegar, esteja vacinada a maior quantidade das pessoas que integram o grupo de risco. Abre-se um caminho de esperança”, exaltou o presidente Alberto Fernández.

Os grupos prioritários definidos pelo governo (pessoal da Saúde, grupos de risco, agentes das forças de segurança e professores) abrangem 14 dos 45 milhões de habitantes. Há ainda 15 milhões de jovens abaixo dos 14 anos que não são prioridade. No total, 28 milhões de pessoas estão no foco da campanha de vacinação.

População desconfia

Mesmo assim, boa parte da população argentina desconfia de uma vacina que, ao contrário das hoje aplicadas na Europa e nos Estados Unidos (Pfizer e Moderna), não publicou dados suficientes sobre seus testes clínicos.

“Na Argentina, 30% das pessoas diziam antes da chegada da Sputnik que não se vacinariam com nenhuma, mas a vacina russa, particularmente, caiu na polarização que divide a sociedade. Como vem da Rússia, um país aliado deste governo, a outra metade rejeita porque também desconfia da falta de informação”, diz o analista político e consultor em opinião pública, Jorge Giacobbe.

“O governo pulou etapas do processo e acelerou os tempos apenas com fins políticos. Nenhuma agência internacional aprovou a vacina russa. A Argentina deveria ter acesso aos estudos científicos pormenorizados primeiro. Não alteraria em nada do ponto de vista epidemiológico começar a vacinar duas semanas depois”, critica o ex-ministro da Saúde, Adolfo Rubinstein.

Para combater o ceticismo, o presidente Alberto Fernández avalia tomar a vacina, usando o próprio corpo como aval. “Estamos avaliando que ele (Alberto Fernández) seja vacinado como uma imagem para desmistificar qualquer tipo de descrédito”, disse o chefe do gabinete de ministros, Santiago Cafiero.

Segundo as autoridades russas, a Sputnik tem uma eficácia de 91,4%, mas não há publicações científicas. A fase III está ainda na reta final. Somente no sábado, Moscou autorizou a vacinação em maiores de 60 anos.

A Administração Nacional de Medicamentos, Alimentos e Tecnologia Médica (ANMAT), órgão argentino que autoriza vacinas, apenas “recomendou” o uso da Sputnik considerando que “os benefícios são superiores à incerteza”, mas a autorização oficial saiu do Ministério da Saúde no dia 23 de dezembro, menos de 24 horas antes da chegada da vacina, algo que fez aumentar as dúvidas da população em torno da segurança do processo.

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