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Copa Africana de Nações está ameaçada pelo ebola

Medo de contrair a doença cresce entre jogadores e torcedores, levando ao cancelamento de jogos das eliminatórias

Torcedores de Gana em jogo em 2008. O país vai sediar as partidas de todas as seleções cujos territórios foram atingidos pelo vírus ebola
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A mensagem vinda do Egito foi bem clara: ou a Costa do Marfim sedia a partida eliminatória da Copa Africana de Nações contra Serra Leoa ou a seleção do país será desclassificada do torneio, antes mesmo do início da fase de grupos.

A ordem partiu da Confederação Africana de Futebol (CAF), com sede no Cairo, e deu resultado. Na terça-feira 2, o Conselho de Segurança Nacional da Costa do Marfim anunciou que a partida eliminatória contra Serra Leoa será realizada, como planejado, neste sábado 6 na capital Abidjan.

Há poucos dias do início das eliminatórias da Copa Africana das Nações, que começou em 5 de setembro, o episódio revela o crescente medo de que jogadores e torcedores das 28 seleções participantes contraiam o vírus ebola. No início de agosto, a seleção de Seychelles cancelou a partida contra Serra Leoa e desistiu do torneio.

A Costa do Marfim faz fronteira com os países mais afetados pela epidemia: Libéria, Guiné e Serra Leoa. Desde o início do surto, mais de 1.500 pessoas já morreram de ebola na região, e não se sabe exatamente a quantidade de infectados. Mas, aparentemente, a perspectiva de participar de um grande campeonato de futebol no Marrocos acabou sendo mais importante para o país.

A atual campeã, a Nigéria, também já sentiu quão grande é o medo do vírus ebola. Após casos da doença terem sido identificados em Lagos, a maior cidade do país, a seleção de Lesoto desistiu de viajar para a Nigéria para a partida contra a seleção local.

“E isso que o jogo seria realizado em Kaduna, que fica a milhares de quilômetros de distância de Lagos”, comenta o jornalista esportivo nigeriano Shehu Saula. Mesmo assim, ele compreende a decisão. “Nós estamos falando de medo. Jogadores e torcedores que viriam de outros países têm medo de pegar ebola”, diz.

No início de agosto, a CAF transferiu todos os jogos que seriam realizados nos países atingidos pelo ebola para Gana. “Felizmente, esses países entendem por que essas medidas foram tomadas”, afirma Erick Mwanza, porta-voz da confederação.

“Claro que os jogadores sabem que eles perdem a vantagem de poder jogar em casa com a presença do público nacional”, comenta. Mas a proteção também é do interesse dos atletas. Muitos jogadores da Guiné e de Serra Leoa jogam no exterior, como o guineano Ibrahima Traoré, que atua no Borussia Mönchengladbach, da Alemanha. Ele e os demais atletas ficariam expostos ao risco da infecção caso jogassem na terra natal.

A Copa Africana de Nações começa daqui a cinco meses no Marrocos. Saula acredita que o campeonato pode estar em perigo caso a epidemia de ebola não seja controlada. “É uma situação mortal. Ou controlamos a doença ou teremos de organizar um torneio ao qual muitos torcedores não poderão comparecer, e assim estádios ficarão vazios”, afirma.

Para o jornalista, a CAF precisa adotar medidas drásticas para garantir a realização da Copa no Marrocos. O dirigente esportivo nigeriano Saidu Tanimu cita alguns exemplos de medidas que poderiam ser aplicadas. “A Nigéria deve examinar todas as pessoas que desejam viajar para a Copa e não deixar ninguém que apresente sintomas da doença sair do país. Além disso, controles devem ser realizados nos aeroportos do Marrocos, e suspeitos de estarem infectados devem ser proibidos de entrar no país”, exemplifica.

Isso será um enorme esforço para o Marrocos. Mas o país pode estar disposto a assumir essa tarefa, pois tem mostrado grande solidariedade com os países atingidos pelo ebola. A companhia aérea estatal Royal Air Marocco (RAM), por exemplo, foi instruída a não reduzir seus voos para esses países – um caso único em todo o mundo.

  • Autoria Katrin Matthaei (cn)

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