Mundo
Congresso do Peru rejeita novamente antecipar as eleições para 2023
Os protestos contra a presidenta Dina Boluarte e parlamentares já somam 48 mortes em sete semanas


O Congresso do Peru não aprovou, nesta quarta-feira 1º, um projeto de lei que contemplava a realização de eleições gerais em 2023, em meio a uma onda de protestos contra a presidenta Dina Boluarte e parlamentares que já soma 48 mortes em sete semanas.
Após um debate de cinco horas, o plenário rejeitou a segunda proposta para antecipar as eleições com 54 votos a favor, 68 contra e duas abstenções. Eram necessários 87 votos para aprovar a iniciativa, que propunha a realização do pleito em dezembro.
Os congressistas de esquerda aplaudiram a rejeição ao projeto de lei apresentado pelo partido fujimorista Fuerza Popular, que contava com o apoio de Boluarte.
“O objetivo desta proposta é um só: temos que avançar neste tema porque nosso país está sangrando até a morte”, advertiu o parlamentar do FP e autor do projeto, Hernando Guerra García, ao abrir a sessão plenária.
Boluarte havia convocado o Congresso no domingo para aprovar as eleições antecipadas. Caso isso não aconteça, ela garante que vai promover reformas constitucionais para que o pleito seja imposto.
Esta é a terceira vez desde o início da crise, em 7 de dezembro, que o Congresso rejeita o adiantamento das eleições para 2023, enquanto a principal reivindicação dos manifestantes nas ruas é que haja novas eleições para presidente e para o Congresso. “Que saiam todos”, dizem os cartazes.
“Este é o divórcio total entre a classe política e a população”, disse à AFP Alonso Cárdenas, professor de Ciência Política da Universidade Antonio Ruiz de Montoya.
‘Bomba-relógio’
Após a rejeição do projeto para antecipar as eleições, o Congresso começou a discutir uma nova proposta das bancadas de esquerda, que inclui uma consulta para a realização de uma Assembleia Constituinte, mas o debate durou poucos minutos devido a um debate acalorado entre os congressistas. A sessão foi suspensa e será retomada nesta quinta-feira.
“É uma bomba-relógio, é o pior cenário que poderia acontecer no país, com uma presidente que não renuncia e um Congresso que pretende seguir como se nada tivesse acontecido”, disse o cientista político Cárdenas.
Em um Parlamento fragmentado em mais de dez forças políticas, além de congressistas independentes, as bancadas de direita impulsionam a antecipação das eleições.
Em paralelo à crise política, os protestos continuaram nesta quarta em várias áreas do país, incluído o centro de Lima.
As autoridades de Transporte contabilizaram 81 piquetes que bloqueavam rodovias de seis das 25 regiões peruanas que pedem a renúncia de Boluarte. No sul andino, uma região historicamente desassistida, havia fechamento de rotas com pneus e troncos incendiados.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.