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Congresso do Peru dá voto de confiança a gabinete de Boluarte

A Constituição peruana estipula que os novos gabinetes devem se submeter ao voto de confiança do Congresso em um prazo de 30 dias desde sua nomeação

Parlamentares peruanos avaliam nomeação de Gustavo Adrianzén, novo chefe dos ministros do Peru após o 'Rolexgate'. Foto: Juan Carlos CISNEROS / AFP
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O novo gabinete da presidente do Peru, Dina Boluarte, o terceiro em 16 meses, obteve nesta quarta-feira (3) um crucial voto de confiança no Congresso que lhe permite seguir governando em meio a um escândalo de relógios de luxo que envolve a mandatária.

“Foi aprovada a questão da confiança para o senhor Gustavo Adrianzén, presidente do Conselho de Ministros”, anunciou o presidente do Congresso, Alejandro Soto. A votação contou com 70 parlamentares a favor, 38 contra e 17 abstenções.

O respaldo do parlamento unicameral, controlado por meia dúzia de bancadas de direita, concretizou-se após uma sessão de sete horas durante a qual Adrianzén expôs e debateu sobre a política geral de sua gestão.

O dignitário ofereceu em seu discurso “uma gestão de mãos limpas, um governo transparente para enfrentar a corrupção e a ineficiência”. Entre suas prioridades enumerou a reativação econômica, a ordem pública e a segurança, e a luta contra a corrupção e o narcotráfico.

Direita controla o Congresso

O governo chegou a esta votação enfraquecido depois que estourou o ‘Rolexgate’, um caso no qual o Ministério Público investiga Boluarte por suposto enriquecimento ilícito.

O escândalo, originado em uns supostos relógios Rolex e joias que a presidente não teria declarado entre seus bens, provocou uma debandada no gabinete. Adrianzén, no cargo desde 6 de março, teve que nomear seis novos ministros na segunda-feira.

A Constituição estipula que os novos gabinetes devem se submeter ao voto de confiança do Congresso em um prazo de 30 dias desde sua nomeação.

Em caso de ter o voto de confiança negado, o gabinete inteiro teria que renunciar e Boluarte nomear um novo em um prazo de 72 horas.

Adrianzén agradeceu o apoio recebido “com humildade” e estendeu as mãos ao Congresso para que “nos acompanhem no processo de reativação econômica e de luta pela segurança pública”.

Boluarte se encontra em um momento de fragilidade, com um nível de aprovação que não supera os 10%, embora o Congresso seja tão impopular quanto Boluarte. Sua desaprovação alcança 85%, a aprovação 9% e 6% não deram sua opinião, segundo uma pesquisa nacional da Ipsos de março.

Desde antes da votação, o governo confiava em garantir a metade mais um dos votos sobre os 130 assentos do Congresso graças aos grupos parlamentares que vão desde o centro até a extrema direita aos quais Boluarte se agarrou durante sua Presidência diante da falta de bancada própria.

Vários legisladores dessas bancadas disseram que votariam a favor do governo para evitar uma escalada que leve a um adiantamento das eleições gerais previstas para 2026.

Cenários do Rolexgate

As atenções agora estão todas em Boluarte, de 61 anos e que assumiu o poder em dezembro de 2022 em substituição ao destituído e preso Pedro Castillo por sua tentativa fracassada de autogolpe. A presidente irá depor na sexta-feira diante dos promotores pela primeira vez desde que a polícia realizou buscas em sua casa e no gabinete presidencial em 30 de março.

Seu futuro “é incerto, embora seja jogado em duas cordas separadas que são a judicial e a política”, disse à AFP o analista Augusto Alvarez Rodrich.

O MP pode investigá-la por um período máximo de oito meses depois de iniciada a investigação em março. Para acusá-la, terá de esperar até o final de seu mandato, em julho de 2026, conforme estipulado na Constituição.

Portanto, seria “na arena política, no Congresso, que se decidiria se ela permaneceria na presidência”, enfatizou Alvarez.

O MP também investiga Boluarte pelos supostos crimes de “genocídio, homicídio qualificado e lesões graves”, pela morte de mais de 50 civis “durante as mobilizações sociais entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023” que exigiram sua renúncia e novas eleições.

O Parlamento começou a processar uma moção de vacância (impeachment) por “incapacidade moral permanente” apresentada pelo Peru Libre, o partido de esquerda ao qual Boluarte pertencia. O pedido é apoiado por 30 membros do Congresso, mas para ser admitido para debate é necessário o apoio de mais de cinquenta congressistas.

Uma vez admitido, são necessários mais de 86 votos para destitui-la. A esquerda já apresentou dois pedidos de impeachment contra Boluarte, mas nenhum foi levado a debate.

Com Boluarte, já são seis os presidentes atingidos por casos de corrupção ao longo do século XXI. Desde 2016, o Peru já teve seis mandatários.

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