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Comunidade internacional expõe indignação com operação policial de Israel no funeral de jornalista palestina

O caixão de Shireen Abu Akleh quase caiu, mas foi salvo no último momento, de acordo com as imagens exibidas pelas emissoras de TV locais

Foto: Ahmad Gharabli/AFP
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A comunidade internacional criticou a intervenção da polícia de Israel na sexta-feira 13 durante o funeral da jornalista palestino-americana Shireen Abu Akleh, o que quase provocou a queda do caixão após uma ação das forças de segurança contra as pessoas que o carregavam nos ombros.

Milhares de palestinos compareceram ao funeral da jornalista do canal Al Jazeera, que morreu na quarta-feira ao ser atingida por um tiro na cabeça quando cobria uma operação militar israelense na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel desde 1967.

A repórter usava um colete à prova de balas com a palavra “Imprensa’ e um capacete.

Os incidentes explodiram quando a polícia tentou dispersar a multidão depois que o caixão saiu do hospital em Jerusalém Leste, uma área palestina ocupada por Israel.

O caixão da jornalista quase caiu, mas foi salvo no último momento, de acordo com as imagens exibidas pelas emissoras de TV locais.

“As imagens da intervenção policial israelense no cortejo fúnebre nos perturbaram profundamente”, afirmou o secretário de Estado americano, Antony Blinken.

A União Europeia condenou o “uso desproporcional da força e o comportamento desrespeitoso da polícia israelense com os participantes no cortejo fúnebre”.

A representação francesa em Jerusalém disse que a violência policial era “profundamente chocante” e o secretário-geral da ONU, António Guterres, se declarou “profundamente perturbado”.

ONU condena assassinato

“As forças de ocupação não apenas mataram Shireen (…), mas também aterrorizaram aqueles que a acompanharam até sua última morada”, denunciou o Catar.

“Se os cantos nacionalistas não pararem, teremos de dispersá-los usando a força e impedir a celebração do funeral”, disse um policial israelense com um megafone para a multidão reunida no hospital São José, de acordo com um vídeo divulgado pela força de segurança.

“Os agitadores impediram que os familiares carregassem o caixão em um carro fúnebre para seguir até o cemitério, como havia sido estabelecido com a família (…) A multidão se negou a colocar o caixão no carro fúnebre e a polícia atuou para que não o levassem. Durante os distúrbios provocados pela multidão, garrafas de vidro e outros objetos foram jogados”, afirmou um comunicado da polícia.

De acordo com o palestino Crescente Vermelho, 33 pessoas ficaram feridas durante o funeral e a polícia israelense anunciou a detenção de seis pessoas.

Após a intervenção policial, a multidão seguiu o caixão até uma igreja da Cidade Antiga, onde aconteceu uma missa antes do sepultamento.

Em uma postura unânime, algo incomum, o Conselho de Segurança da ONU “condenou de maneira veemente o assassinato” da jornalista e pediu uma “investigação imediata, exaustiva, transparente e imparcial para garantir a prestação de contas”.

Origem do tiro

A Autoridade Palestina, o canal Al Jazeera e o governo do Catar acusam o exército israelense pelo assassinato da jornalista de 51 anos.

Em um primeiro momento, Israel afirmou que a repórter “provavelmente” morreu ao ser atingida por tiros de combatentes palestinos. Mas, depois, o governo indicou que não poderia descartar a responsabilidade dos soldados israelenses.

De acordo com um comunicado divulgado na sexta-feira pela Promotoria palestina da cidade de Ramallah (Cisjordânia), “os resultados iniciais da investigação mostraram que a única origem dos tiros contra Shireen são as forças de ocupação israelenses”.

O exército de Israel afirmou que não era possível determinar de maneira imediata a origem do tiro.

As autoridades do Estado hebreu querem receber a munição recolhida após a morte da jornalista para um exame balístico e apresentaram uma proposta para que especialistas palestinos e americanos acompanhem a investigação.

Mas a Autoridade Palestina, liderada por Mahmud Abbas, rejeitou a ideia de uma investigação conjunta com Israel e anunciou que deseja enviar o caso ao Tribunal Penal Internacional.

“As autoridades israelenses cometeram este crime e não confiamos nelas”, disse Abbas. 

Neste sábado, Hussein al-Sheikh, uma figura importante da Autoridade Palestina, escreveu no Twitter que “recebe com satisfação a participação de todos os organismos internacionais na investigação do assassinato de Shireen Abu Akleh”.

“O que aconteceu no funeral reforça nossa posição de rejeição à participação de Israel na investigação”, acrescentou.

O funeral aconteceu em um dia de novos confrontos perto de Jenin durante as operações do exército. Um policial israelense foi morto por combatentes palestinos e 13 palestinos ficaram feridos.

O exército israelense executou várias operações no campo de refugiados de Jenin, reduto das facções armadas palestinas, onde vivem os autores dos recentes atentados em Israel.

E um palestino ferido em abril em confrontos com a polícia israelense na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém Leste, morreu neste sábado, de acordo com a família e fontes médicas.

Segundo a agência palestina Wafa, a vítima é Walid Al-Sharif, de 23 anos, natural de Beit Hanina, em Jerusalém Leste.

Desde meados de abril, os confrontos na área da Esplanada deixaram mais de 300 feridos, a grande maioria palestinos.

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