Mundo
Como criar mártires
A estratégia de Israel em Gaza tende a amplificar a “mitologia” em torno do Hamas
No fim de 1935, um pequeno grupo de milicianos comandados por um religioso islâmico nascido na Síria lançou uma campanha de guerrilha contra o governo britânico ocupante, que tinha entre seus objetivos a fundação de um “lar nacional” judaico no que era então a Palestina predominantemente árabe. A campanha foi rapidamente suprimida pelas forças britânicas, e seu líder, Izz as-Din al-Qassam, morto, assim como a maioria de seus homens.
A atitude de Qassam de pegar em armas e morrer a serviço da causa palestina causou, no entanto, uma impressão profunda e duradoura na sociedade palestina, e seu “martírio” tornou-se um símbolo de sacrifício que continuou a reverberar nos últimos 90 anos e acabou por inspirar o nome para a ala armada do Hamas no fim dos anos 1980. O fato de Qassam ter fracassado era essencialmente irrelevante. Mais importante foi sua personificação do espírito de resistência resoluta e altruísta ao domínio estrangeiro, apesar do desequilíbrio de poder e da tênue perspectiva de sucesso. Qassam também colocou o movimento nacionalista palestino no rumo da “luta armada”, mais tarde adotada pelo movimento da “corrente dominante” de Yasser Arafat, o Fatah, a partir do fim dos anos 1950, mas cujo papel diminuiu desde os acordos de Oslo com Israel em 1993.
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.