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Como a extrema-direita portuguesa reagiu à declaração do presidente sobre a escravidão
André Ventura, líder do partido Chega, disse que Rebelo de Sousa foi “eleito pelos portugueses, e não pelos guineenses, pelos brasileiros, nem pelos timorenses”
O presidente do partido Chega, André Ventura, líder extrema-direita de Portugal, acusou, nesta quinta-feira 25, o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, de trair a nação ao reconhecer a culpa do país pelos crimes escravocratas da era colonial e mencionar a possibilidade de reparações.
O líder do Chega disse que Marcelo Rebelo de Sousa “tem de respeitar” os portugueses “antes de tudo”, porque foi “eleito pelos portugueses, não foi pelos guineenses, pelos brasileiros, pelos timorenses”, em referência a algumas nações que foram colônias do país.
A declaração aconteceu em plena Assembleia da República, na sessão solene que assinala os 50 anos da Revolução dos Cravos.
“O senhor Presidente da República traiu os portugueses quando diz que temos de ser culpados e responsabilizados pela nossa História, que temos de indenizar outros países pela História que temos connosco”, criticou Ventura.
“Pagar o quê? Pagar a quem? Se nós levámos mundos ao mundo inteiro. Se hoje em todo o mundo se elogia a pátria e o mundo da língua portuguesa”, acrescentou.
Em pouco mais de quatro décadas, Portugal traficou cerca de 6 milhões de africanos, vendendo-os como escravos. Essas pessoas eram transportadas à força, principalmente por mar, para colônias como Brasil, Cabo Verde, Timor Leste e partes da Índia, onde eram submetidas à exploração. Além disso, sofriam assassinatos e violência sexual, principalmente contra mulheres e crianças.
Para o líder da extrema-direita no País, não haveria necessidade de “prender ninguém, nem responsabilizar”. “Eu amo a História deste país e o senhor Presidente também devia amar a História deste país”, reforçou.
Quem também se manifestou sobre o assunto, foi o presidente do partido Iniciativa Liberal, Rui Rocha, que defendeu a tese de que a obrigação de Portugal “indenizar terceiros” pelo passado atenta “contra os interesses do país”.
“História não é dívida. E História não obriga a penitência”, defendeu.
A recusa em falar do passado escravocrata também partiu do líder do partido conservador CDS-PP, Paulo Núncio, que afirmou que o seu partido não sente “necessidade de revisitar heranças coloniais”.
“Não queremos controvérsias históricas nem deveres de reparação que parecem importados de outros contextos fora do quadro lusófono”, afirmou. “A História é a História, e o nosso dever é o futuro, construído e alicerçado entre estados soberanos espalhados pelos quatro continentes sem discriminações ou preconceitos entre os hemisférios norte e sul, desde o ocidente ao oriente”.
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