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Combates intensos em cidade do sul de Gaza cercada por tropas israelenses

Ataques ocorrem após Israel forçar uma fuga de refugiados para o sul do enclave

Exército de Israel no sul de Gaza. Foto: GIL COHEN-MAGEN / AFP
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Tropas israelenses bombardearam, nesta quarta-feira (6), a cidade sitiada de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, onde os moradores tentam encontrar abrigo em meio aos combates mais intensos em dois meses de guerra contra o Hamas.

As ruas da cidade, onde também operam as tropas terrestres israelenses, estavam praticamente vazias na manhã desta quarta-feira, enquanto os hospitais não param de receber mortos e feridos, segundo os correspondentes da AFP.

Centenas de milhares de civis reúnem-se nesta cidade e nos seus arredores, muitos deles deslocados várias vezes desde o início desta guerra, que os empurra para um perímetro cada vez mais estreito perto da fronteira fechada com o Egito.

Milhares deles continuam fugindo em direção à cidade de Rafah, no sul, seguindo as instruções do Exército israelense.

“Estávamos no centro de Khan Yunis. A cidade inteira sofre destruições e bombardeios incessantes. Há muitas pessoas lá que chegam do norte em condições desastrosas, sem refúgio, em busca de seus filhos”, disse Hassan al Qadi, morador de Khan Yunis, deslocado em Rafah.

“Queremos entender. Se eles querem nos matar, deveriam nos cercar em um lugar e nos eliminar todos juntos. Mas nos forçar a mudar de um lugar para outro não é justo”, disse ele.

Khan Yunis cercada

Depois de entrarem no norte da Faixa de Gaza por terra, em 27 de outubro, as tropas israelenses expandiram as suas operações a todo o território controlado pelo movimento islamista Hamas.

Israel prometeu eliminar o grupo após o ataque de 7 de outubro, no qual milicianos islamistas mataram 1.200 pessoas, a maioria civis, e fizeram cerca de 240 reféns, segundo as autoridades israelenses.

A ofensiva contra Gaza deixou 16.248 mortos, a maioria mulheres e crianças, segundo o governo dirigido pelo Hamas.

O comandante do Estado-Maior israelense, Herzi Halevi, anunciou na terça-feira que suas tropas estão “cercando a área de Khan Yunis”. “Tomamos muitos redutos do Hamas no norte da Faixa de Gaza e agora estamos agindo contra os seus redutos no sul”, disse ele.

Fontes do Hamas e da Jihad Islâmica explicaram à AFP que os seus milicianos estão combatendo as tropas israelenses para impedir que entrem em Khan Yunis.

Segundo a assessoria de imprensa do governo do Hamas, o fogo de artilharia deixou “dezenas de mortos e feridos” na madrugada de terça para quarta-feira no leste desta cidade.

O Ministério da Saúde do movimento também reportou um bombardeio contra o campo de refugiados de Nuseirat (centro de Gaza), que deixou seis mortos, e outro com vários mortos em Jabaliya (norte).

“Um horror absoluto”

Israel instou os civis do norte de Gaza a procurarem refúgio no sul deste território densamente povoado. Muitos fugiram para Khan Yunis por acreditarem que seria mais seguro.

Mas com a expansão das suas operações, Israel instou a população a deslocar-se ainda mais ao sul, provocando “pânico, medo e ansiedade”, segundo Philippe Lazzarini, diretor da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA).

“A situação humanitária é catastrófica”, disse o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk. “Os palestinos em Gaza vivem em um horror absoluto que só piora”, acrescentou.

Segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA), a distribuição de ajuda em Gaza é “quase impossível” e o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) afirmou que a ajuda só chega, e em quantidade limitada, à cidade de Rafah.

O Exército israelense envia mensagens diárias a Khan Yunis com alertas sobre um bombardeio iminente e instando a população a abandonar os seus bairros.

Mas a ONU, que calculou que 28% da Faixa de Gaza é afetada por estas ordens de evacuação, considerou “impossível” estabelecer áreas seguras para acomodar civis como Israel pretende.

“Nenhum lugar é seguro em Gaza”, criticou o chefe humanitário da ONU, Martin Griffiths. “Nem os hospitais, nem os abrigos, nem os campos de refugiados. Ninguém está seguro”, insistiu.

A ONU calcula que 1,9 milhão de pessoas (cerca de 75% da população) foram deslocadas pela guerra em Gaza.

“Missão crítica” para resgatar reféns

Os combates foram retomados após o fim da trégua negociada com a mediação do Catar, que permitiu a troca de dezenas de reféns israelenses por prisioneiros palestinos.

O governo de Israel afirma que 138 reféns ainda estão detidos em Gaza, cujo resgate é uma “missão crítica”, nas palavras do porta-voz do Exército, Daniel Hagari.

“Cada minuto de cativeiro coloca suas vidas em risco”, destacou o porta-voz, que afirmou que “a Cruz Vermelha deve ter acesso aos reféns detidos pelo Hamas”.

Em meio às hostilidades, as manobras diplomáticas continuam para tentar parar o conflito. O emir do Catar, Tamim bin Hamad al Thani, afirmou que seu país “trabalha constantemente para renovar” a trégua.

Durante uma conversa por telefone, os chefes da diplomacia dos Estados Unidos e da China, Antony Blinken e Wang Yi, concordaram sobre a necessidade de desescalar o conflito.

O presidente russo, Vladimir Putin, chegou a Abu Dhabi nesta quarta-feira para uma viagem diplomática aos Emirados Árabes Unidos e à Arábia Saudita, na qual também abordará a guerra.

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