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Combates em Kiev entre russos e ucranianos, que recebem promessas de armas do Ocidente

A Alemanha autorizou a entrega de 400 lança-foguetes antitanque à Ucrânia, rompendo com sua política tradicional de não exportar armas letais para zonas de conflito

Avanço. Tropas russas vão dar apoio aos separatistas ucranianos - Imagem: Sergei Supinsky/AFP
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Vários países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, anunciaram neste sábado (26) o envio de armas para a Ucrânia, cuja capital Kiev se tornou o principal alvo das forças de Moscou e palco de combates violentos.

O Kremlin deu, por sua vez, ordens para seu Exército expandir a ofensiva, alegando que Kiev rejeitou as negociações.

“Hoje, todas as unidades receberam a ordem de ampliar a ofensiva em todas as direções, de acordo com o plano de ataque”, declarou o Ministério russo da Defesa, em um comunicado.

Ao todo, 198 civis ucranianos foram mortos, e 1.115 ficaram feridos, desde que a Rússia iniciou o ataque em larga escala contra seu vizinho na quinta-feira (24), afirmou neste sábado o ministro ucraniano da Saúde, Viktor Liashko, no Facebook.

As forças russas atacam em diferentes partes da Ucrânia, mas seus esforços parecem estar concentrados em Kiev, onde as tropas ucranianas resistem desde sexta-feira, de acordo com seu presidente, Volodymyr Zelensky.

“Nos mantivemos firmes e repelimos com sucesso os ataques dos inimigos. Os combates continuam em muitas cidades e regiões do país (…) mas é nosso Exército que controla Kiev e as principais localidades ao redor da capital”, afirmou Zelensky em um vídeo postado no Facebook.

“Os ocupantes queriam bloquear o centro do nosso Estado e colocar marionetes, como em Donetsk (a república separatista pró-Rússia no leste do país). Conseguimos atrapalhar o plano deles”, acrescentou.

Segundo Zelensky, seus “aliados” estão enviando “armas e equipamentos” para ajudar os ucranianos a lutar.

Pouco depois dessas declarações, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, anunciou mais US$ 350 milhões em assistência militar para a Ucrânia.

“Este pacote incluirá mais assistência defensiva letal para ajudar a enfrentar as ameaças blindadas, aéreas e outras que a Ucrânia enfrenta atualmente”, disse Blinken, em um comunicado.

Já o Ministério holandês da Defesa indicou que entregará 200 mísseis antiaéreos Stinger a Kiev o mais rápido possível, e a República Tcheca anunciou uma doação de armas no valor de US$ 8,6 milhões.

Toque de recolher reforçado

Em Kiev, um míssil russo atingiu um grande edifício residencial, informou o serviço de emergência estatal da Ucrânia neste sábado, sem fornecer informações imediatas sobre possíveis vítimas.

“Kiev, nossa esplêndida e pacífica cidade, sobreviveu a mais uma noite de ataques de forças terrestres russas e mísseis. Um deles atingiu um prédio residencial em Kiev”, relatou o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba.

Para reforçar a segurança da cidade, e diante de supostos grupos de sabotagem russos, o prefeito Vitali Klitschko anunciou hoje o endurecimento do toque de recolher imposto após a invasão. Ele alertou que quem estiver na rua entre as 17h de hoje e 8h (horário local) de segunda-feira (28) será considerado um “inimigo”.

O metrô de Kiev não está operando e agora serve como um “abrigo” antiaéreo para os habitantes, relatou Klitschko no aplicativo Telegram.

De acordo com uma mensagem no Facebook, os ucranianos destruíram cinco veículos invasores, entre eles um tanque, perto da estação de metrô de Beresteiska, no noroeste da capital.

O Exército ucraniano também relatou “duros combates” em Vasylkiv, uma cidade 30 km a sudoeste de Kiev, onde um avião de transporte militar foi derrubado, e os russos “tentam descarregar paraquedistas”.

Dezenas de militares ucranianos perderam a vida desde quinta-feira, enquanto nenhuma informação sobre isso foi fornecida do lado russo. Kiev afirma, contudo, infligir pesadas baixas ao Exército invasor.

“Rejeição” de negociações

As forças russas retomaram seu avanço sobre Kiev na tarde de sexta-feira (25), pois o lado ucraniano “rejeitou as negociações” propostas pela Rússia, que instou Kiev a depor suas armas, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Ontem, o presidente Vladimir Putin chegou a encorajar o Exército ucraniano a “tomar o poder”.

Dada a continuação da resistência ucraniana, o Ministério russo da Defesa disse neste sábado que o Exército atacou infraestruturas militares com mísseis navais e aéreos.

O porta-voz do ministério, Igor Konashenkov, também afirmou que, no leste da Ucrânia, as forças separatistas de Donetsk e Luhansk ganharam terreno. Esta afirmação ainda não pôde ser verificada por fontes independentes.

Ainda de acordo com o porta-voz, o Exército russo também assumiu “controle total da cidade de Melitopol”, no sul da Ucrânia, perto da Crimeia, península anexada por Moscou em 2014.

Desde o início da invasão, as forças russas destruíram um total de 821 infraestruturas militares ucranianas, incluindo 14 aeródromos, acrescentou Konashenkov.

Colapso na fronteira

Cerca de 115 mil ucranianos cruzaram a fronteira para a Polônia desde o início do ataque russo, anunciou neste sábado o vice-ministro polonês do Interior, Pawel Szefernaker.

Em Mostyska, perto da fronteira polonesa, milhares de ucranianos tentavam deixar o país, causando o colapso de um trecho da rodovia de até 20 quilômetros, confirmou um jornalista da AFP. Diante do congestionamento, alguns exilados iam a pé, arrastando suas malas no meio da noite fria.

“Até agora, 115.000 pessoas cruzaram a fronteira ucraniao-polonesa desde que explodiu a guerra”, disse Szefernaker à imprensa na cidade polonesa de Dorohusk, no leste do país.

Já a agência de refugiados da ONU, o Acnur, informou hoje no Twitter que, “de acordo com a última atualização, 116 mil fugiram para países vizinhos desde 24 de fevereiro, principalmente Polônia, Hungria, Moldávia, Eslováquia e Romênia”.

Este êxodo é evidente nas ruas fantasmagóricas da capital, onde se destaca a onipresença das brigadas de “defesa territorial”, milícias de civis alistados para ajudar o Exército.

Veto russo e sanções

Os países ocidentais adotaram uma série de sanções contra instituições, empresas e líderes russos, incluindo Putin e seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, em resposta à invasão.

Para Zelensky, porém, isso não é suficiente. No sábado, ele pediu que Alemanha e Hungria apoiem uma moção para excluir a Rússia do sistema de transações financeiras internacionais Swift, um instrumento fundamental das finanças globais.

Como havia feito a França no dia anterior, a Itália prometeu seu total apoio às sanções contra a Rússia, incluindo a questão do Swift.

No nível diplomático, não há avanços.

No Conselho de Segurança da ONU, a Rússia vetou uma resolução promovida pelos Estados Unidos e pela Albânia para condenar a “agressão” contra a Ucrânia. E sua porta-voz diplomática, Maria Zakharova, declarou que as relações entre Moscou e as potências ocidentais se aproximam de um “ponto sem volta”.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) anunciou que ativará sua Força de Resposta para reforçar seu flanco oriental, e países como Estados Unidos e França indicaram o envio de tropas adicionais para a área.

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