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Com dificuldades de recrutar novos soldados, governo da Ucrânia lança lei controversa

Volodymyr Zelensky anunciou, na semana passada, que o Estado-Maior quer mobilizar entre 450 mil e 500 mil homens adicionais

Foto: Aris Messinis/AFP
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Depois da Rússia, agora é a vez da Ucrânia ter dificuldades de recrutar soldados. Devido à falta de novos recrutas, muitos militares não puderam voltar para casa durante as festas de fim de ano, o que não ajuda a melhorar a motivação das tropas. Para aumentar recrutamentos, Kiev lança uma lei controvertida que coloca em atrito membros do governo e causa desconfiança em uma população cansada da guerra.

Kiev está longe da empolgação do início da guerra, com milhares de homens que se apresentaram espontaneamente para ingressar no Exército.

Uma volta do ânimo inicial foi observada, mas em menor medida, no começo da contraofensiva ucraniana, no terceiro trimestre deste ano. Mas a situação não durou, pelo contrário, muitos homens agora fazem tudo para não lutar.

No front, os soldados esgotados pedem para serem substituídos, como Oleksandr, mobilizado a alguns quilômetros do front, perto de Avdiivka.

“Faltam homens e saúde. Quanto tempo poderemos aguentar? Os homens não são feitos de ferro”, explica Oleksandre à rádio France Inter.

Volodymyr Zelensky anunciou, na semana passada, que o Estado-Maior quer mobilizar entre 450 mil e 500 mil homens adicionais.

O governo está sob pressão e, para conseguir recrutar, caça as dispensas fraudulentas, os falsos atestados médicos e os contrabandistas que, por € 6 mil ou € 7 mil, ajudam os possíveis voluntários a fugir do país.

Nos restaurantes chiques da capital Kiev, oficiais encarregados do recrutamento fazem controles e verificam se os homens presentes, com idade para serem mobilizados, estão efetivamente inscritos no serviço militar. Caso contrário, são levados imediatamente para serem cadastrados.

Na quarta-feira (27) o Coronel Yevhen Mejevikin, um oficial respeitado, disse que se a Ucrânia não se mobilizasse o suficiente, simplesmente arriscaria uma derrota militar antes do final de 2024. Mejevikin afirmou que entendia os receios da população com relação ao recrutamento militar e que o desafio para o governo era ganhar a confiança da população falando a verdade.​

Lei para redefinir regras

No entanto, o governo Zelensky está fazendo exatamente o contrário. O presidente submeteu ao Parlamento, na segunda-feira (25), durante o Natal, para evitar qualquer discussão pública, uma lei que altera as condições de recrutamento.

O projeto de lei não está disponível na íntegra no site da Rada, o Parlamento ucraniano. Apenas informações sucintas, como a ideia de baixar a idade de recrutamento de 27 para 25 anos, de acabar com os gabinetes de recrutamento e de enviar cartas de mobilização por e-mail, foram disponibilizadas.

A imprecisão também é grande sobre a mobilização das mulheres. Na semana passada, o ministro da Defesa, Rustem Umerov, falou da mobilização dos ucranianos que moram fora do país, mas os assessores de imprensa do governo recuaram, enviando sinais contraditórios.

A imprensa ucraniana soube que o partido do presidente, Servidor do Povo, pediu a todos os seus deputados que não comentassem nos veículos de comunicação a lei de mobilização, mas que encaminhassem todas as questões ao comando militar.

Na terça-feira (26), em uma rara entrevista coletiva, o chefe do Exército da Ucrânia, Valeri Zaloujny, desobedeceu às ordens e expressou frustração com o trabalho dos escritórios de recrutamento militar.

A publicação da lei também causou polêmica nas redes sociais. A reforma do recrutamento militar é um tema altamente sensível para uma população que se tornou desconfiada, uma vez que a guerra já dura quase dois anos, sem fim à vista no horizonte.

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