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Com candidato antivacina e contra imigração, extrema-direita lidera pesquisas na Áustria
Herbert Kickl assume posições pró-russas, pede uma ‘orbanização da Áustria’ e defende posições cada vez mais extremas sobre a imigração


Os austríacos vão às urnas neste domingo 29 para eleger seus deputados e escolher o novo chanceler do país. O partido conservador ÖVP, atualmente no poder, aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás da legenda de extrema direita FPÖ, liderada por Herbert Kickl. Personagem controverso, o candidato ficou conhecido por sua posição contrária às vacinas durante a pandemia de Covid-19, além de sua linha dura contra a imigração.
O conservador Partido Popular Austríaco (ÖVP) e o Partido da liberdade (FPÖ), de extrema-direita, são seguidos nas pesquisas pelo Partido Social-Democrata (SPO). As três principais legendas têm entre 20% e 30% das intenções de voto. Se os números se confirmarem, nenhuma maioria será definida no pleito e, independentemente do resultado, o vencedor terá de negociar com pelo menos um segundo partido para formar uma coalizão.
As pesquisas sugerem que a única aliança com probabilidade de garantir a maioria absoluta (92 dos 183 membros eleitos) seria entre o FPÖ e o ÖVP, sendo os conservadores do governo os únicos que se mostraram abertos a um acordo com a extrema-direita. Os dois partidos compartilham posições comuns sobre regras de imigração mais rígidas e cortes de impostos. No entanto, o radicalismo de Herbert Kickl pode ser um obstáculo.
Kickl, que assumiu a direção da legenda de extrema-direita em 2021, conseguiu restabelecer a imagem do partido, arranhada após um escândalo de corrupção envolvendo seu antigo chefe e então vice-chanceler, Heinz-Christian Strache, em 2019, graças a uma postura radical, tanto no conteúdo quanto na forma.
Ele usa termos que são referências veladas à linguagem nacional-socialista, assume posições pró-russas, pede uma “orbanização da Áustria”, em referência ao líder húngaro Viktor Orbán, e defende posições cada vez mais extremas sobre a imigração. Kickl repete constantemente seu desejo de ter uma “Áustria fortaleza”.
Personagem misterioso
Herbert Kickl gosta de cultivar o mistério. Pouco se sabe sobre sua vida pessoal, além do fato de que ele veio de uma família modesta e cresceu na Caríntia antes de se mudar para Viena para estudar. Ele deixou a escola sem se formar antes de entrar para o FPÖ e deve sua ascensão a Jörg Haider, a figura histórica do partido. Mas durante anos ele permaneceu nos bastidores, até se tornar o porta-voz do movimento antivacina, que teve uma adesão importante na Áustria durante a pandemia de Covid-19.
Sua postura extrema sobre assuntos polêmicos parece funcionar, observa Robert Treichler, autor de uma biografia sobre o candidato. “Kickl é sempre agressivo, sempre atacando”, explica ele. “Esse tipo de atitude e estilo o teria impedido de se tornar um líder, mas hoje se encaixa em nossos tempos, porque as coisas mudaram muito do ponto de vista político, assim como a atmosfera geral.”
Mas o radicalismo que fez Kickl ganhar fama pode impedi-lo de se tornar chanceler. Karl Nehammer, líder dos conservadores, o partido que poderia unir forças com o FPÖ para governar, não exclui totalmente negociar com o FPÖ, mas já disse que recusa qualquer tipo de diálogo com Herbert Kickl.
Alexander Van der Bellen, o atual presidente austríaco e ex-líder dos Verdes, também expressou suas reservas em relação ao FPÖ e, em particular, ao seu líder. O chefe de Estado já avisou que não é obrigado a entrar em um acordo. “É uma prática estabelecida, mas, até onde eu sei, não está na Constituição”, disse ele no ano passado.
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