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Colômbia exuma corpos de civis assassinados por militares

Na guerra civil, soldados assassinavam inocentes para inflar as estatísticas de mortes de combatentes das Farc

Especialistas cavando em um cemitério em Las Mercedes. Segundo fontes militares, haveria uma vala comum com civis executados por soldados. Foto: HO / SPECIAL JURISDICTION FOR PEACE PRESS OFFICE / AFP
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Autoridades colombianas informaram neste sábado 14 que investigadores do país deram início à exumação de dezenas de corpos enterrados em um cemitério no departamento de Antioquia que eles acreditam terem relação com um conhecido escândalo militar.

Os chamados “falsos positivos” são civis inocentes que foram mortos por militares colombianos e falsamente identificados como guerrilheiros, a fim de elevar as estatísticas de mortes de rebeldes das antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Com essas mortes, soldados ganhavam honrarias militares, promoções e outros benefícios.

“Acredita-se que os restos mortais de mais de 50 pessoas declaradas de forma ilegítima como mortes de combatentes estejam no cemitério de Dabeiba”, afirmou a Jurisdição Especial para a Paz (JEP) neste sábado, acrescentando que a exumação começou no início da semana.

A JEP é um tribunal estabelecido como parte do acordo de paz entre o governo em Bogotá e as Farc, que formalmente deu fim a meio século de conflito no país sul-americano. A corte julga crimes e atrocidades cometidas durante a guerra entre a guerrilha e as forças colombianas.

Segundo o tribunal, a informação sobre “falsos positivos” enterrados no cemitério católico Las Mercedes, em Dabeiba, veio voluntariamente de um ex-membro das Forças Armadas. A dica foi depois confrontada com outras evidências.

 

Avaliações iniciais indicam que as vítimas eram homens de idades entre 15 e 56 anos. “Entre eles há pessoas com deficiência”, afirmou a Jurisdição Especial para a Paz.

De acordo com o jornal colombiano El Espectador, soldados suspeitos de envolvimento com os crimes foram ao cemitério com investigadores e colocaram bandeiras verdes nos locais onde as vítimas foram enterradas.

A irmã de um desses mortos contou ao jornal que seu pai foi ao cemitério em busca do irmão após seu desaparecimento em 1997. Um empregado do cemitério teria mostrado a ele três corpos não identificados. Embora o pai tenha identificado um deles como seu filho, o empregado não quis entregar o corpo, alegando medo de ser morto por isso.

A família entrou com uma queixa, mas até agora não obteve respostas. “Meus pais nunca deixaram de perguntar sobre ele. Essa é a última esperança”, afirmou a irmã.

Mais de 150 oficiais militares testemunharam sobre a existência de “falsos positivos” à JEP, com casos que remontam desde 1988 a até mais recentemente, em 2014. Eles fazem parte do chamado “Caso 3” do tribunal.

Em alguns casos, militares atraíam civis pobres com promessas de emprego em um falso processo de recrutamento. As vítimas eram então transportadas para áreas de conflitos, onde eram executadas, vestidas com roupas de guerrilheiros e identificadas como combatentes. Por vezes pólvora era plantada em suas mãos.

Segundo promotores colombianos, cerca de 5 mil casos envolvendo tais mortes extrajudiciais foram atribuídos às Forças Armadas. Mas apenas soldados de baixa patente foram condenados até agora, e muitas famílias ainda clamam por justiça.

EK/afp/ap/efe

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