Cineasta brasileira é presa por imigração dos EUA em entrevista para green card

A cineasta brasileira Bárbara Marques, sobrinha da atriz Elisa Lucinda e responsável pelos curtas Dia de Cosme e Damião (2016) e Cartaxo (2020), foi detida há mais de uma semana pelo Serviço de Imigração e Controle de Aduanas dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês) durante uma audiência agendada para obter seu green card – um visto permanente concedido pelo País.

Desde o último sábado, o marido dela, Tucker May, com quem Bárbara se casou em abril deste ano, tem utilizado as redes sociais para chamar atenção sobre o caso. Segundo ele, a cineasta teria sido vítima do que considera uma “armadilha” da polícia norte-americana.

“Ao final do que nos disseram ter sido uma reunião bem-sucedida, o policial usou a desculpa de uma copiadora quebrada para induzi-la a se afastar do nosso advogado. Uma vez separada de seu advogado, ela foi presa”.

O motivo da detenção teria sido uma audiência judicial perdida em 2019. Tucker, porém, diz que sua companheira sequer foi notificada a comparecer. Ele também denuncia as dificuldades de contato entre Bárbara e seu advogado, além de sucessivas transferências entre centros de detenção, sem acesso regular a medicamentos e com relatos de períodos sem alimentação.

Na manhã desta segunda-feira 29, o norte-americano afirmou nas redes sociais que Bárbara estaria em um campo de detenção na Louisiana. “Após quase três dias de viagem algemada, com períodos de mais de 12 horas sem comida ou água e pouco ou nenhum sono, ela não recebeu uma cama nesta unidade. Enquanto escrevo isto, ela está tentando dormir no chão”, informou Tucker.

Barbara, que possui 38 anos, nasceu em Vitória, no Espírito Santo. Formou-se em cinema pela Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, e atuou como atriz e produtora antes de dirigir seu primeiro filme, Dias de Cosme e Damião. Desde 2018, vive em Los Angeles, onde desenvolveu a carreira e conhecer seu marido.

O advogado da cineasta, Marcelo Gondim, disse à BBC News Brasil que ela ingressou no país com visto de turista. Próximo ao vencimento, pediu uma extensão desse visto. Mas ela não foi notificada da negativa nem da data da audiência – provavelmente porque mudou de endereço. Por não ter antecedentes criminais, afirmou Gondim, o correto seria interromper o pedido de concessão do green card enquanto a pendência não fosse resolvida – e não deter a sua cliente.

Sob o governo Donald Trump, agentes têm detido imigrantes e a meta passou a ser deportação massiva de pessoas sem documentos, mesmo que não tenham antecedentes criminais. O objetivo do governo é prender 3 mil imigrantes por dia, sob o argumento de que a imigração afeta índices de segurança e o acesso dos americanos aos serviços públicos. Já os críticos de Trump dizem que o ICE tem violado direitos constitucionais.

Procurado, o Itamaraty afirmou ter conhecimento do caso de Barbara Marques e disse que presta assistência consular à brasileira. Na semana passada, a União Americana pelas Liberdades Civis acionou a Justiça dos EUA sob alegação de que a gestão Trump está negando processo legal para imigrantes que têm esse direito e prendendo as pessoas de forma arbitrária.