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Cinco pontos para entender a importância das eleições legislativas na Argentina

A votação que pode definir o futuro do governo de Javier Milei será realizada no próximo domingo 26

Cinco pontos para entender a importância das eleições legislativas na Argentina
Cinco pontos para entender a importância das eleições legislativas na Argentina
Javier Milei, presidente da Argentina. Foto: Luis ROBAYO / AFP
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O presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta no domingo 26 as eleições legislativas de meio de mandato, nas quais buscará consolidar seu poder no Congresso para aplicar uma série de reformas sistemáticas nos dois anos restantes de seu governo.

Milei precisa de maior governabilidade para conseguir a urgente reativação de uma economia em recessão e impactada por desastres financeiros.

Estes são cinco pontos essenciais sobre as eleições de 26 de outubro, que renovarão metade dos 257 deputados e um terço dos 72 senadores de um Congresso de minoria governista.

Vencedor e perdedor

Milei revolucionou o panorama eleitoral em 2023 com um discurso antipolítica que cristalizou em sua figura o descontentamento geral.

Em novembro daquele ano, conseguiu uma vitória contundente nas eleições presidenciais com 56% no segundo turno, mas seus 30% no primeiro turno o deixaram em minoria no Legislativo.

O Congresso pôde, então, frustrar suas principais reformas, aprovar leis que, segundo o mandatário, atentam contra o equilíbrio fiscal e até mesmo reverter vetos presidenciais.

O partido de Milei, A Liberdade Avança, não conseguirá obter maioria absoluta nas câmaras após as eleições. No entanto, considera-se um fato que aumentará sua estreita base de 37 deputados.

O presidente argentino afirmou que conseguir um terço dos legisladores em cada câmara já seria “um bom resultado”, pois é o mínimo para impedir a reversão de um veto presidencial.

Três forças

O governo se apresenta sozinho ou junto ao partido de direita Proposta Republicana (PRO), dependendo da província. Esta aliança mostra uma unidade legislativa na qual o PRO quase sempre acompanhou o governo nas votações.

Do outro lado está a oposição peronista (centro-esquerda), que governou durante 17 dos últimos 23 anos e que busca se recompor após a derrota de 2023.

O governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, emerge como o novo líder deste espaço que tem como referência a ex-mandatária Cristina Kirchner (2007-2015), atualmente presa e inabilitada por corrupção.

Uma terceira força tenta emergir e romper esta polarização: “Províncias Unidas”, que reúne meia dúzia de governadores e partidos do centro-direita à centro-esquerda.

“Pior que há dois anos”

O governo de Milei reduziu drasticamente a inflação em seu primeiro ano de mandato e em 2025 manteve esta tendência às custas de reduzir os gastos públicos e eliminar subsídios que encareceram o acesso à moradia, saúde e educação.

“Estamos pior do que há dois anos“, lamenta Héctor Sánchez, um garçom de 62 anos que trabalha há mais de 40 anos no setor gastronômico.

“Este governo prometeu muito e não vejo nada (…), não criou fontes de trabalho”, diz Sánchez, que votou em Milei em 2023 e agora está indeciso: “Não quero voltar ao que era antes”.

O discurso antipolítica e anticorrupção foi afetado por escândalos. O mais recente levou um economista próximo ao presidente a renunciar à sua candidatura por supostos vínculos com o tráfico de drogas.

Resgate dos EUA

Os Estados Unidos atuaram no resgate da economia argentina com uma linha de crédito de 20 bilhões de dólares (108 bilhões de reais, na cotação atual), a promessa de outros 20 bilhões de dólares do setor privado e intervenções diretas no mercado de câmbio local para defender um peso que muitos analistas consideram supervalorizado.

Os argentinos temem uma desvalorização após as eleições, que pode impactar negativamente seu poder aquisitivo.

Para Mauricio Monge, economista para a América Latina na Oxford Economics, o auxílio de Washington “não é suficiente para contrabalançar a crescente probabilidade de que os resultados eleitorais impeçam reformas adicionais”.

Milei receptivo?

Na reta final da campanha, o presidente insultou menos opositores e jornalistas, estendeu a mão aos governadores e demonstrou empatia com os argentinos “vulneráveis”, que “ainda não sentiram em sua realidade” o “sucesso” de seu governo.

Seu tom se moderou quando seu partido perdeu por quase 14 pontos em eleições regionais determinantes.

“Talvez o pragmatismo de Milei esteja funcionando, que ele esteja fazendo acordos temporários para uma reforma menos radical do que gostaria”, acredita Gabriel Vommaro, cientista político do centro de pesquisa do Conicet.

“Mas me custa pensar que um Milei normalizado tenha algo a ganhar em termos de popularidade”, afirmou.

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