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Cinco jornalistas morrem em ataque israelense contra hospital em Gaza

A guerra teve um balanço trágico para a imprensa: cerca de 200 repórteres morreram em quase dois anos

Cinco jornalistas morrem em ataque israelense contra hospital em Gaza
Cinco jornalistas morrem em ataque israelense contra hospital em Gaza
Hospital Nasser, em Gaza, após ataque israelense em 25 de agosto de 2025. Foto: AFP
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Cinco jornalistas, incluindo repórteres que colaboravam para Al Jazeera, Reuters e AP, morreram nesta segunda-feira 25 em um bombardeio de Israel contra um hospital na Faixa de Gaza que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, classificou como um “trágico acidente”.

A guerra em Gaza teve um balanço trágico para os jornalistas: cerca de 200 repórteres morreram em quase dois anos de conflito, segundo os dados do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) e Repórteres sem Fronteiras (RSF).

A emissora do Catar Al Jazeera e as agências internacionais Reuters e AP noticiaram as mortes de seus jornalistas e expressaram pesar e consternação.

O porta-voz da Defesa Civil de Gaza, Mahmud Basal, relatou que 20 pessoas morreram no ataque ao Hospital Nasser em Khan Yunis, no sul do território, entre elas “cinco jornalistas e um membro da Defesa Civil”.

O Exército israelense reconheceu que lançou “um ataque na área do hospital Nasser” e ordenou uma investigação. O primeiro-ministro israelense afirmou que o bombardeio foi um “trágico acidente”.

As imagens da AFP captadas após o bombardeio mostram fumaça e destroços do lado de fora do hospital. As pessoas corriam para ajudar os feridos e carregavam corpos ensanguentados e mutilados para dentro do complexo hospitalar.

No local ficou a câmera fotográfica ensanguentada de Mariam Dagga, uma fotojornalista de 33 anos, que colaborava com a agência americana The Associated Press (AP) desde o início da guerra.

Uma multidão em lágrimas se despediu de alguns dos repórteres falecidos, cobertos com um véu branco e com seus coletes à prova de balas.

O Hospital Nasser, um dos últimos parcialmente operacionais na Faixa de Gaza, foi alvo de ataques israelenses em várias ocasiões desde o início da guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque sem precedentes do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023.

“Silenciar a verdade”

Bassal afirmou que o primeiro ataque foi executado com um drone explosivo e, em seguida, ocorreu um bombardeio no momento em que os feridos estavam sendo retirados.

A Reuters informou que no momento do primeiro bombardeio, um repórter que trabalhava para a agência estava transmitindo imagens ao vivo do hospital e que o sinal foi abruptamente interrompido.

“Estamos consternados com a morte do colaborador da Reuters Husam al Masri e as lesões sofridas por outro dos nossos colaboradores, Hatem Jaled”, declarou um porta-voz da Reuters.

A emissora Al Jazeera anunciou que um de seus jornalistas, o cinegrafista Mohammad Salama, morreu no ataque.

A emissora condenou, “nos termos mais enérgicos possíveis, o crime horrível cometido pelas forças de ocupação israelenses, que atacam diretamente e assassinam jornalistas como parte de uma campanha sistemática para silenciar a verdade”.

Há duas semanas, quatro repórteres e dois colaboradores da Al Jazeera morreram em um ataque direcionado das forças israelenses, que acusaram um deles de ser integrante do movimento islamista palestino Hamas.

O sindicato de jornalistas palestinos identificou outros dois jornalistas mortos, Moaz Abu Taha e Ahmad Abu Aziz.

O jornalista Hasan Douhan também morreu nesta segunda-feira em outro ataque israelense em Al Mawasi, perto de Khan Yunis, informaram o sindicato dos repórteres e o Hospital Nasser.

A Associação da Imprensa Estrangeira em Jerusalém — que representa jornalistas em Israel e nos territórios palestinos — exigiu do Exército e do governo de Israel uma “explicação imediata” sobre os ataques e pediu “que cessem de uma vez por todas sua prática abominável de atacar jornalistas”.

Com as restrições impostas por Israel aos veículos de comunicação em Gaza e as dificuldades de acesso ao território, a AFP não consegue verificar com fontes independentes os números e as alegações da Defesa Civil ou do Exército israelense.

Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, reiterou que jornalistas e hospitais não são alvos militares.

O diretor da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, denunciou que este ataque equivale a “calar as últimas vozes que denunciam a morte silenciosa das crianças vítimas da fome”.

O presidente francês, Emmanuel Macron, classificou o bombardeio como “intolerável” e instou Israel a “respeitar o direito internacional”.

O ministro das Relações Exteriores britânico, David Lammy, expressou que está “horrorizado” com o ataque e a Alemanha pediu uma investigação.

O ataque contra Israel que desencadeou a guerra em Gaza deixou 1.219 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais.

A ofensiva israelense na Faixa de Gaza matou ao menos 62.744 palestinos, a maioria civis, segundo números do Ministério da Saúde de Gaza, considerados confiáveis pela ONU.

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