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Chefe da ONU pede na fronteira de Gaza o fim do ‘pesadelo’ da guerra

Após a visita de Guterres, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, chamou a ONU de “organização anti-Israel”

Antonio Guterres, chefe da ONU, em frente a passagem para Rafah, que liga Gaza e Egito. Foto: Khaled DESOUKI / AFP
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O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu neste sábado (23), na fronteira de Gaza com o Egito, uma trégua no território palestino, confrontado com um “pesadelo sem fim” depois de quase seis meses de guerra entre Israel e o Hamas.

“Agora, mais do que nunca, é hora de um cessar-fogo imediato, hora de silenciar as armas”, declarou Guterres em frente à passagem de Rafah, na fronteira fechada entre Gaza e o Egito.

“Os palestinos de Gaza, mulheres, crianças e homens, estão presos em um pesadelo sem fim, comunidades foram eliminadas, casas foram destruídas, famílias e gerações inteiras foram aniquiladas”, alertou, acrescentando que “a fome e a inanição” afetam a população.

Após a visita de Guterres, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, chamou a ONU de “organização anti-Israel”.

“Sob a sua liderança, a ONU tornou-se uma organização antissemita e anti-Israel que abriga e encoraja o terrorismo”, escreveu Katz na sua conta da rede X, estimando que o chefe da ONU “veio hoje ao lado egípcio da passagem da fronteira de Rafah e culpou Israel pela situação humanitária em Gaza”.

Quase 1,5 milhão de pessoas estão amontoadas em Rafah, a maioria deslocadas de outras áreas da Faixa desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em 7 de outubro.

A passagem terrestre entre o Egito e Rafah é a única na Faixa de Gaza que não faz fronteira com Israel. Mas, na realidade, Israel tem o direito de controlar as entradas e saídas do território, através do qual a ajuda humanitária e o fornecimento de alimentos para uma população de 2,4 milhões de pessoas também entraram a conta-gotas desde o início da guerra.

“Nada justifica os ataques horríveis do Hamas em 7 de outubro. E nada justifica o castigo coletivo sofrido pelo povo palestino”, insistiu Guterres, que afirmou ecoar “grande parte do mundo”.

Apesar da pressão internacional, Israel está determinado a invadir Rafah, onde afirma estarem localizados os últimos batalhões do Hamas.

“Espero fazer isso com o apoio dos Estados Unidos, mas se necessário, faremos isso sozinhos”, disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na sexta-feira, durante uma visita a Israel do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken.

A comunidade internacional tenta pôr fim aos bombardeios e combates, que já deixaram pelo menos 32.142 mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do território governado pelo Hamas.

Pelo menos 72 pessoas morreram nas últimas 24 horas, informou o ministério, em um momento em que especialistas alertam que a população está à beira da fome.

“Todos os dias choramos por um ente querido”

A última tentativa do Conselho de Segurança da ONU de chegar a uma trégua falhou na sexta-feira, quando China e Rússia vetaram uma proposta dos EUA.

Fontes diplomáticas indicaram que um novo texto será votado na segunda-feira na máxima instância da ONU.

No terreno, os combates não dão trégua, especialmente em torno do complexo hospitalar Al Shifa, onde as forças israelenses afirmaram neste sábado que mataram mais de 170 combatentes e prenderam centenas de suspeitos.

Em um funeral realizado na sexta-feira em Khan Yunis, no sul de Gaza, os participantes relataram a dor das perdas contínuas. “Todos os dias choramos por um ente querido”, disse Turkiya Barbaj no funeral.

“No início da guerra perdi o meu sobrinho e agora a minha irmã, o seu marido e os seus filhos. Quase toda a família morreu”, lamentou ela. “Quanto tempo mais teremos que aguentar isso?”.

Guterres estava programado para se encontrar com trabalhadores humanitários no lado egípcio da fronteira com Rafah neste sábado.

A ofensiva planejada de Israel contra Rafah concentrou divergências entre Netanyahu e Blinken durante a reunião de sexta-feira em Tel Aviv.

“Não temos como derrotar o Hamas sem entrar em Rafah e eliminar os batalhões que lá permanecem”, afirmou o líder israelense.

Blinken, que insistiu que o seu país “compartilha o objetivo” de derrotar o Hamas, respondeu que uma invasão de Rafah “não é a forma de fazê-lo”.

O governo de Netanyahu anunciou o confisco de 800 hectares na Cisjordânia ocupada, coincidindo com a visita de Blinken. A organização israelense Peace Now garantiu que esta apreensão é a maior desde os Acordos de Oslo entre Israel e os palestinos na década de 1990.

O próprio Blinken criticou a expansão da colonização como “contraproducente para alcançar uma paz duradoura”.

Fome e guerra

A guerra eclodiu com os ataques do Hamas em 7 de outubro, que deixaram cerca de 1.160 mortos em Israel, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em números israelenses.

Os combatentes também fizeram 250 reféns, dos quais Israel acredita que cerca de 130 permanecem em Gaza, incluindo 33 que teriam morrido.

Israel impôs um cerco quase total a Gaza, restringindo o fluxo de ajuda humanitária que vem principalmente do Egito.

“Antes de 7 de outubro, uma média de 500 a 700 caminhões entravam em Gaza todos os dias. Hoje, a média é de apenas 150”, disse o chefe da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini.

Alertas de fome têm sido emitidos diariamente, e o chefe dos direitos humanos da ONU, Volker Turk, acusou esta semana Israel de travar uma guerra de uma forma que “poderia ser equivalente a usar a fome como método de guerra”. Israel rejeitou a acusação.

Para aliviar a situação, vários países lançaram alimentos por via aérea e abriram um corredor marítimo de Chipre a Gaza. Mas a ajuda é insuficiente para todos os habitantes de Gaza.

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