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Chávez sofre de grave insuficiência respiratória, afirma governo da Venezuela

Complicações pós-operatórias reforçam possibilidade de que o presidente não esteja em condições de assumir o quarto mandato na próxima semana. Oposição quer ir a Cuba para constatar o real estado de saúde de Chávez

Chávez sofre de grave insuficiência respiratória, afirma governo da Venezuela
Chávez sofre de grave insuficiência respiratória, afirma governo da Venezuela
Homem observa um calendário com a imagem de Chávez em uma loja de Caracas, na quinta-feira 3. O país vive um clima de tensão por conta da doença do presidente. Foto: Raul Arboleda / AFP
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O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, padece de uma insuficiência respiratória causada por uma severa infecção pulmonar que sofreu após ter sido submetido a uma cirurgia oncológica, afirmou o governo venezuelano na quinta-feira 3. Com isso, aumentam os rumores de que ele não poderá tomar posse no próximo dia 10 de janeiro.

O ministro das Comunicações e Informações da Venezuela, Ernesto Villegas, leu uma nota em que diz que, depois da delicada intervenção, o presidente tem enfrentado “complicações devido à severa infecção pulmonar que resultou em uma insuficiência respiratória que requer o estrito cumprimento do tratamento” por parte de Chávez.

Ele afirmou, ainda, que o governo mantém a confiança na equipe médica que atende o presidente, operado pela quarta vez desde junho de 2011 em sua luta contra o câncer. Os médicos, segundo ele, têm atuado com “rigorosidade absoluta ante cada uma das dificuldades apresentadas” depois da intervenção.

O prefeito de Caracas, o oposicionista Antonio Ledezma, propôs nesta quinta-feira que seja designada uma comissão para viajar a Cuba e constatar o estado de saúde do presidente. “Não estou pedindo permissão para ir a Cuba. Creio que temos o direito de ir até lá e ver o que está acontecendo. Devemos ir e ponto. Já basta de mistérios, a Venezuela não é uma colônia de Cuba.”

Guerra psicológica

Em seu anúncio, Villegas aproveitou para atacar a imprensa internacional, que, segundo ele, está fazendo uma guerra psicológica em torno da saúde de Chávez para desestabilizar a Venezuela, ignorar a “vontade popular expressa nas eleições de 7 de outubro e acabar com a revolução bolivariana liderada por Chávez”.

Horas antes, o vice-presidente Nicolás Maduro – a quem Chávez designou herdeiro político e potencial sucessor – assegurou que o mandatário batalha por sua saúde “com sua força e energia de sempre, com sua confiança e segurança”.

Maduro, que também é ministro das Relações Exteriores da Venezuela, esteve desde o final de semana em Havana e seu regresso à Venezuela nesta quinta-feira eliminou as especulações que asseguravam que ele havia viajado à ilha caribenha para acompanhar Chávez em seus últimos dias de vida.

Ele rechaçou os pedidos da oposição de que o governo entregue informes mais detalhados sobre a doença de Chávez, a menos de uma semana para a posse. “Apresentamos 26 comunicações oficiais, sempre com a verdade. O que ocorre é que temos uma direita necrófila que deseja que se diga uma verdade nefasta, que é o que estão querendo com a vida do nosso comandante e com a nossa pátria”, afirmou.

Além do tratamento de Chávez em Cuba, os olhos do país estão voltados também para a Assembleia Nacional, de maioria governista, que vai eleger neste sábado o seu presidente – e que teria a tarefa de comandar o país interinamente e convocar novas eleições caso o “comandante” não possa assumir na próxima semana.

Alguns colaboradores de Chávez no poder legislativo devem optar por reeleger o atual presidente, Diosdado Cabello. Mas analistas acreditam que conflitos dentro do partido governista poderiam pôr fim às aspirações do ex-vice-presidente e governador, que é um dos principais aliados de Chávez.

A oposição exige o fim do “segredo” em torno da doença de Chávez e também que o governo respeite a Constituição do país caso o presidente não possa tomar posse no dia 10 de janeiro para seu novo mandato até 2019.

Segundo a Constituição, se o presidente eleito morre ou está impossibilitado de assumir o cargo no dia 10 de janeiro, o presidente da Assembleia Nacional assume a presidência e deve convocar eleições para dali a 30 dias. Se o impedimento de Chávez ocorrer antes dessa data, é o vice-presidente que deverá cumprir o mandato e convocar novas eleições.

Caso sejam convocadas novas eleições, é esperado o confronto entre Maduro e Henrique Capriles, que nas últimas eleições presidenciais, mesmo perdendo para Chávez, teve 6,5 milhões de votos – a melhor marca da oposição nos quase 14 anos de governo de Chávez.

Diversos analistas concordam que um chavismo sem Chávez não é impossível na Venezuela e poderia ser um “osso duro de roer”. “Para muitos parece evidente que o chavismo sem Chávez é como uma limonada sem limão. Mas esquecem-se do peronismo (na Argentina) e do sandinismo (na Nicarágua)”, frisou o analista Luis Vicente León na sua conta do Twitter.

O líder socialista, de 58 anos, não tem sido visto em público desde que viajou para a capital cubana, Havana, para realizar sua quarta cirurgia – em 18 meses de luta contra o câncer na região pélvica – no dia 11 de dezembro. Ele tem enfrentado diversos problemas pós-operatórios.

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