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Chávez diz que reconhecerá resultados e chama à reconciliação

Dois projetos de país estão em disputa neste domingo: o “socialismo bolivariano” ou a volta à centro-direita no tabuleiro político

Chavez e Capriles. Continuar o projeto bolivariano ou voltar à centro-direita. Foto: AFP
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Por Claudia Jardim, de Caracas

Na eleição que pode lhe dar o terceiro mandato presidencial e 20 anos no poder, o presidente da Venezuela Hugo Chávez disse que reconhecerá qualquer resultado das urnas e voltou a chamar seus opositores à “reconciliação”.

Dois projetos de país estão em disputa neste domingo: o “socialismo bolivariano” ou a volta à centro-direita no tabuleiro político.

“Não tenham a menor dúvida que reconheceremos os resultados, seja qual for. E nisso há precedentes”, afirmou Chávez, minutos depois de votar no bastião chavista de 23 de Enero, em referência a derrota sofrida pelo governo no referendo da reforma constitucional, em 2008. Na ocasião, a diferença foi de um ponto a favor da oposição.

“Seja (por) um voto de diferença, ou três milhões de votos, os atores políticos responsáveis têm que reconhecer os resultados”, acrescentou.

Nas vésperas do pleito, ventilou-se que a ala radicalizada da oposição, que diz confiar na derrota de Chávez, estaria preparada para “denunciar” fraude caso a diferença de votos de Chávez e Capriles estiver apertada.

Chávez chegou ao centro de votação no início da tarde deste domingo dirigindo seu carro. Uma multidão o esperava com gritos de “Uh, ah, Chavez não se vai”. Alguns simpatizantes lhe entregaram flores.

No país cuja polarização divide a maioria entre chavistas e anti-chavistas, Chávez disse estar disposto a convocar à uma reconciliação nacional, em especial, com os setores econômicos, cujo divórcio ocorreu em 2002, depois do fracassado golpe de Estado contra seu governo.

“Tomara que possamos sentar-nos com alguns setores da vida nacional a conversar sobre a vida econômica (…) o diálogo, a conciliação, a reconciliação. A construção em coletivo de um país”, disse.

Há 14 anos no poder e com a saúde afetada pelo câncer, Chávez foi questionado por jornalistas se planeja deixar um sucessor. O líder venezuelano disse que o projeto da revolução bolivariana já não depende dele. “Somos uma liderança coletiva, isso já não depende de um homem”, disse. Desde a aparição do câncer, a Cúpula do governo e seus simpatizantes passaram a questionar as limitações do chavismo e as consequências da “hiperliderança” do presidente venezuelano que transformou a política venezuelana em “Chávez-dependente”.

Mais cedo, um casal de namorados, atípico, esperava do lado de fora do centro de votação onde Chávez votou. Ela é opositora e ele chavista. “Tentamos não falar de política para não ter briga”, contou entre risos a estudante Daniela Castaneda, de 23 anos. Daniela critica a violência e a ineficiência do governo como as principais razões para não votar por Chávez. “Já fui assaltada. Toda minha família, amigos, têm uma história de violência para contar. Isso tem que acabar”, afirmou.

O namorado de Daniela, Moisés Mata, disse que a violência não é responsabilidade direta do “comandante”. O jovem estudante diz apoiar Chávez devido as mudanças sociais que ele promoveu nos últimos 14 anos. “O povo hoje vive melhor sobretudo por causa das missões (programas sociais)”, disse. Mata diz desconfiar da proposta do candidato Henrique Capriles que prometeu dar continuidade aos programas sociais chavistas, antes criticados pela oposição. “É mentira que o candidato da burguesia (Capriles) vai dar continuidade às missões. Se ele acha que o governo é bom, então porque ele acha que as pessoas devem mudar de caminho?”, questionou.  Ambos votarão pela primeira vez. A juventude e os novos eleitores foram o público alvo das campanhas de Chávez e Capriles.

O casal, que chegou no centro de votação antes de amanhecer, mostrava preocupação quanto à reação dos candidatos e da população diante dos resultados. “Quando eles (opositores) não ganham, sempre dizem que houve fraude e começam a desestabilizar o país. Espero que aceitem a derrota em paz”, afirmou Mata.

Logo após votar, no leste de Caracas, bastião opositor, Capriles indicou que reconhecerá os resultados das urnas. “O que o povo diga hoje, para mim é sagrado.

Tudo o que conquistei foi por vontade popular, pela expressão dos venezuelanos, pelo voto”, afirmou. “Para saber ganhar, é preciso saber perder”.

Capriles disse que telefonará para Chávez assim que os resultados forem anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral. “Os líderes temos que dar o exemplo”, afirmou.

Em tom triunfalista, Capriles disse que na segunda-feira, haverá um novo presidente eleito e que acabará a divisão política no país.

O clima nas ruas é de plebiscito. A maioria dos eleitores consultados pela reportagem da Carta Capital afirmam estar a favor ou em contra Chávez. O programa de governo de Capriles não é visto como prioridade. “Voto contra Chávez, não por Capriles”, afirmou o taxista Rafael Cárdenas. Ele disse estar de acordo com o projeto socialista, mas acusa a Chávez de não aplicar seu programa de governo. “Ele não é socialista, não divide as coisas por igual”. Cárdenas diz ter sido demitido do cargo de assessor no Congresso “por pensar diferente”.  “Capriles é de ultra-direita, estamos consciente, mas queremos mudanças”, disse. O taxista diz que se Chávez for reeleito, muitos opositores deixarão o país. “Tem muita gente de mala pronta, esperando o resultado. Se ele vencer, vão embora”, disse. “Claro, vão aqueles que têm dinheiro”.

Nos bairros populares onde há um amplo apoio à Chávez, os eleitores despertaram ao som da “Diana”, marcha militar utilizada pelos chavistas para acordar os militantes em dia de eleição.

Nas gigantescas filas, via-se um número impactante de idosos, jovens e cadeirantes. “Hoje ninguém deixa de votar”, disse um eleitor. As eleições no país são facultativas.

Com a Organização de Estados Americanos e o Centro Carter fora da missão internacional de observação, será tarefa da missão da Unasul, a união dos países da América do Sul, legitimar o pleito. A expectativa é que ainda na noite deste domingo o Conselho Nacional Eleitoral anuncie o resultado do pleito. Pesquisas de boca-de-urna estão proibidas na Venezuela.

Por Claudia Jardim, de Caracas

Na eleição que pode lhe dar o terceiro mandato presidencial e 20 anos no poder, o presidente da Venezuela Hugo Chávez disse que reconhecerá qualquer resultado das urnas e voltou a chamar seus opositores à “reconciliação”.

Dois projetos de país estão em disputa neste domingo: o “socialismo bolivariano” ou a volta à centro-direita no tabuleiro político.

“Não tenham a menor dúvida que reconheceremos os resultados, seja qual for. E nisso há precedentes”, afirmou Chávez, minutos depois de votar no bastião chavista de 23 de Enero, em referência a derrota sofrida pelo governo no referendo da reforma constitucional, em 2008. Na ocasião, a diferença foi de um ponto a favor da oposição.

“Seja (por) um voto de diferença, ou três milhões de votos, os atores políticos responsáveis têm que reconhecer os resultados”, acrescentou.

Nas vésperas do pleito, ventilou-se que a ala radicalizada da oposição, que diz confiar na derrota de Chávez, estaria preparada para “denunciar” fraude caso a diferença de votos de Chávez e Capriles estiver apertada.

Chávez chegou ao centro de votação no início da tarde deste domingo dirigindo seu carro. Uma multidão o esperava com gritos de “Uh, ah, Chavez não se vai”. Alguns simpatizantes lhe entregaram flores.

No país cuja polarização divide a maioria entre chavistas e anti-chavistas, Chávez disse estar disposto a convocar à uma reconciliação nacional, em especial, com os setores econômicos, cujo divórcio ocorreu em 2002, depois do fracassado golpe de Estado contra seu governo.

“Tomara que possamos sentar-nos com alguns setores da vida nacional a conversar sobre a vida econômica (…) o diálogo, a conciliação, a reconciliação. A construção em coletivo de um país”, disse.

Há 14 anos no poder e com a saúde afetada pelo câncer, Chávez foi questionado por jornalistas se planeja deixar um sucessor. O líder venezuelano disse que o projeto da revolução bolivariana já não depende dele. “Somos uma liderança coletiva, isso já não depende de um homem”, disse. Desde a aparição do câncer, a Cúpula do governo e seus simpatizantes passaram a questionar as limitações do chavismo e as consequências da “hiperliderança” do presidente venezuelano que transformou a política venezuelana em “Chávez-dependente”.

Mais cedo, um casal de namorados, atípico, esperava do lado de fora do centro de votação onde Chávez votou. Ela é opositora e ele chavista. “Tentamos não falar de política para não ter briga”, contou entre risos a estudante Daniela Castaneda, de 23 anos. Daniela critica a violência e a ineficiência do governo como as principais razões para não votar por Chávez. “Já fui assaltada. Toda minha família, amigos, têm uma história de violência para contar. Isso tem que acabar”, afirmou.

O namorado de Daniela, Moisés Mata, disse que a violência não é responsabilidade direta do “comandante”. O jovem estudante diz apoiar Chávez devido as mudanças sociais que ele promoveu nos últimos 14 anos. “O povo hoje vive melhor sobretudo por causa das missões (programas sociais)”, disse. Mata diz desconfiar da proposta do candidato Henrique Capriles que prometeu dar continuidade aos programas sociais chavistas, antes criticados pela oposição. “É mentira que o candidato da burguesia (Capriles) vai dar continuidade às missões. Se ele acha que o governo é bom, então porque ele acha que as pessoas devem mudar de caminho?”, questionou.  Ambos votarão pela primeira vez. A juventude e os novos eleitores foram o público alvo das campanhas de Chávez e Capriles.

O casal, que chegou no centro de votação antes de amanhecer, mostrava preocupação quanto à reação dos candidatos e da população diante dos resultados. “Quando eles (opositores) não ganham, sempre dizem que houve fraude e começam a desestabilizar o país. Espero que aceitem a derrota em paz”, afirmou Mata.

Logo após votar, no leste de Caracas, bastião opositor, Capriles indicou que reconhecerá os resultados das urnas. “O que o povo diga hoje, para mim é sagrado.

Tudo o que conquistei foi por vontade popular, pela expressão dos venezuelanos, pelo voto”, afirmou. “Para saber ganhar, é preciso saber perder”.

Capriles disse que telefonará para Chávez assim que os resultados forem anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral. “Os líderes temos que dar o exemplo”, afirmou.

Em tom triunfalista, Capriles disse que na segunda-feira, haverá um novo presidente eleito e que acabará a divisão política no país.

O clima nas ruas é de plebiscito. A maioria dos eleitores consultados pela reportagem da Carta Capital afirmam estar a favor ou em contra Chávez. O programa de governo de Capriles não é visto como prioridade. “Voto contra Chávez, não por Capriles”, afirmou o taxista Rafael Cárdenas. Ele disse estar de acordo com o projeto socialista, mas acusa a Chávez de não aplicar seu programa de governo. “Ele não é socialista, não divide as coisas por igual”. Cárdenas diz ter sido demitido do cargo de assessor no Congresso “por pensar diferente”.  “Capriles é de ultra-direita, estamos consciente, mas queremos mudanças”, disse. O taxista diz que se Chávez for reeleito, muitos opositores deixarão o país. “Tem muita gente de mala pronta, esperando o resultado. Se ele vencer, vão embora”, disse. “Claro, vão aqueles que têm dinheiro”.

Nos bairros populares onde há um amplo apoio à Chávez, os eleitores despertaram ao som da “Diana”, marcha militar utilizada pelos chavistas para acordar os militantes em dia de eleição.

Nas gigantescas filas, via-se um número impactante de idosos, jovens e cadeirantes. “Hoje ninguém deixa de votar”, disse um eleitor. As eleições no país são facultativas.

Com a Organização de Estados Americanos e o Centro Carter fora da missão internacional de observação, será tarefa da missão da Unasul, a união dos países da América do Sul, legitimar o pleito. A expectativa é que ainda na noite deste domingo o Conselho Nacional Eleitoral anuncie o resultado do pleito. Pesquisas de boca-de-urna estão proibidas na Venezuela.

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