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Caso George Santos: o que as mentiras do congressista dizem sobre a política dos EUA

O político, filho de pais brasileiros, está sob pressão desde que o NY Times revelou as muitas zonas cinzentas de seu currículo

Foto: Reprodução/Redes Sociais
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O republicano George Santos, filho de brasileiros, admitiu ter inventado sua biografia e é investigado nos Estados Unidos e no Brasil. Ainda assim, o congressista eleito foi ao Capitólio esta semana para prestar juramento.

Sob pressão desde que o jornal The New York Times revelou as muitas zonas cinzentas de seu currículo perto do Natal, Santos, de 34 anos, apareceu bastante isolado esta semana na Câmara de Representantes e evitou as perguntas dos jornalistas.

Criticado até mesmo no canal conservador Fox News, onde reconheceu seu “erro”, o legislador eleito está na mira de várias investigações judiciais, incluindo uma no Rio de Janeiro por estelionato com cheques roubados. Mas o novato no Congresso se nega a renunciar.

Entre os republicanos, atualmente incapazes de eleger o presidente da Câmara Baixa, nenhum grande nome pediu publicamente que ele ceda seu assento, tirado dos democratas no distrito 3 do estado de Nova York, nos subúrbios da megalópole.

Sonho americano

Usando grandes óculos, Santos se apresenta em seu site como filho de imigrantes brasileiros em busca do “sonho americano”, que cresceu no distrito nova-iorquino do Queens e é abertamente homossexual.

Várias menções de sua biografia, no entanto, desapareceram. Já não se lê mais que ele tenha se formado no Baruch College, nem estudado na Horace Mann School, uma prestigiada escola privada no Bronx, nem que tenha trabalhado com finanças para o Citigroup ou a Goldman Sachs, conforme havia alegado.

Santos também é acusado de mentir ou exagerar ao se apresentar como “um judeu americano orgulhoso”: cresceu em uma família católica, mas afirma que sua “herança é judaica”, como neto de sobreviventes do Holocausto que fugiram da barbárie nazista.

Chefe de uma firma de consultoria financeira, também supostamente inflou sua renda e seus bens.

“Velha história”

Além dos apelos pela renúncia do campo democrata, as revelações causaram certo espanto.

Para Joshua Tucker, codiretor do Centro para Estudo de Mídias Sociais e Política da Universidade de Nova York, trata-se mais de uma “velha história política” do que uma questão de “desinformação nas redes sociais”.

“Mas o louco dessa história é extensão de sua mentira (…) É surpreendente que na era da informação digital moderna ele tenha se safado por tanto tempo”, disse à AFP.

Alguns observadores o veem como um sintoma das dificuldades da imprensa americana, em um país onde desaparecem mais de dois jornais por semana, segundo um relatório de 2022 da Escola de Jornalismo Medill da Universidade Northwestern, de Illinois.

A todo custo

Um jornal conservador local, The North Shore Leader, havia indicado sérias dúvidas sobre a situação financeira de Santos antes de sua eleição, mas a informação foi agora retomada a nível nacional. Para se eleger, Santos também se beneficiou do desgaste dos democratas no estado de NY.

“A imprensa é um alvo muito fácil”, escreveram dois professores da Universidade Estadual de Middle Tennessee, Ken Paulson e Kent Syler, no jornal The Tennessean.

De acordo com eles, as repreensões deveriam ser direcionadas aos partidos Republicano e Democrata, responsáveis por não terem identificado muito antes os desvios de George Santos.

“A cultura política hiperpolarizada de hoje é alimentada por uma mentalidade de ganhar a todo custo, em que os fins justificam os meios”, acrescentaram.

“As pessoas sempre mentiram sobre seus currículos”, observou Tucker. Mas o que “talvez tenha mudado” após o mandato do magnata republicano Donald Trump (2017-2021) é que aumentou o limite do que é necessário para um político se ver obrigado a renunciar.

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