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Carney assume o poder no Canadá em meio a ameaças dos EUA; veja o que está em jogo
Mark Carney nunca foi eleito a um cargo público, mas suas habilidades de campanha serão colocadas à prova em breve


Mark Carney, ex-presidente do banco central do Canadá, tomou posse nesta sexta-feira 14 como o novo primeiro-ministro do país, após dez anos de governo de Justin Trudeau, em meio a ameaças comerciais e de anexação por parte dos Estados Unidos.
Trudeau anunciou sua renúncia em janeiro após perder apoio político no ano passado.
O Partido Liberal escolheu Carney para sucedê-lo, esperando que sua experiência à frente dos bancos centrais do Canadá e da Inglaterra durante crises históricas tranquilizasse a população, que enfrenta uma guerra comercial potencialmente devastadora.
Carney, um novato na política que completará 60 anos no domingo, prestou juramento ao cargo em uma cerimônia em Ottawa perante a governadora-geral Mary Simon, representante do rei Charles III, chefe de Estado do Canadá.
O novo primeiro-ministro assume o cargo em meio a uma tempestade gerada pelas tarifas alfandegárias impostas pelo presidente Donald Trump, que repetidamente pediu que o Canadá se tornasse o 51º estado americano.
“Os americanos não devem se enganar: tanto no comércio quanto no hóquei, o Canadá vencerá”, declarou ele em seu discurso de vitória na semana passada, quando foi eleito o novo líder do Partido Liberal.
“O Canadá nunca, jamais fará parte dos Estados Unidos, de forma alguma”, disse ele desafiadoramente. “Isso nunca vai acontecer.”
Carney nunca foi eleito a um cargo público, mas suas habilidades de campanha serão colocadas à prova em breve, já que o Canadá provavelmente realizará uma eleição geral este ano.
“Pronto para negociar”
Carney disse que está “pronto para sentar” com Trump para negociar um novo acordo comercial e evitar mais conflitos econômicos.
Nesta semana, as tarifas de 25% impostas pelos Estados Unidos sobre as importações de aço e alumínio entraram em vigor, e o Canadá respondeu com novas tarifas sobre os produtos americanos.
Carney trabalhou no banco de investimentos Goldman Sachs antes de dirigir o banco central do Canadá durante a crise financeira de 2008-2009 e o Banco da Inglaterra durante a turbulência do Brexit.
Ele se apresenta como alguém solidamente preparado para liderar um país abalado pela guerra comercial alimentada pelos Estados Unidos, que costumava ser seu aliado mais próximo e no qual, segundo Carney, o Canadá “não pode mais confiar”.
O Canadá deve realizar eleições em outubro e provavelmente serão antecipadas em algumas semanas. Pesquisas de opinião recentes refletiram um leve favoritismo pela oposição conservadora.
As ameaças de Trump estarão no centro da campanha eleitoral canadense.
Desde o início de seu segundo mandato, Trump tem usado as tarifas como uma ferramenta de negociação com seus parceiros comerciais, como um incentivo para que empresas se instalem no país e como uma fonte de receita para as finanças federais.
Trump exige que China, México e Canadá façam mais para conter o tráfico de fentanil para os Estados Unidos, embora no Canadá o contrabando através da fronteira seja insignificante.
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