Mundo
Caracas tem dezenas de protestos contra Maduro
Em meio a grave crise econômica e humanitária, legitimidade do segundo mandato do presidente é contestada


Dezenas de protestos contra o governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ocorreram em Caracas na segunda-feira 21 e na madrugada desta terça, especialmente em áreas da capital consideradas redutos do oficialismo.
Por volta da meia-noite, o Observatório Venezuelano de Conflito Social (OVCS), uma organização não governamental, contabilizou 30 manifestações. Parte dos protestos se estendeu até as primeiras horas desta terça.
Fotos e vídeos de vias fechadas, fogueiras e manifestantes batendo panelas e gritando palavras de ordem contra o governo foram postados nas redes sociais. Alguns manifestantes arremessaram coquetéis molotov durante confrontos com a Guarda Nacional Bolivariana.
Diversas imagens mostram forças de segurança tentando dispersar os manifestantes, em alguns casos disparando gás lacrimogêneo. Em parte dos protestos, a população reclamou estar há mais de 45 dias sem água.
No centro de Caracas, a poucos minutos do palácio presidencial de Miraflores, manifestantes protestaram durante várias horas, obrigando as autoridades a reforçar a presença da Guarda Nacional.
O Programa Venezuelano de Educação e Ação em Direitos Humanos (Provea) denunciou, por meio do Twitter, o uso de tanque da Polícia Nacional Bolivariana (PNB) na paróquia El Valle para tentar acabar com um protesto.
Moradores da capital relataram à agência de notícias Efe terem ouvido disparos e detonações durante a madrugada e que casas tiveram vidros quebrados.
Usuários do Twitter também denunciaram que funcionários da PNB, da Direção-Geral de Contrainteligência Militar (serviços secretos militares) e das Forças de Ação Especial tentaram entrar em várias casas para deter pessoas que protestavam contra o governo e em apoio a um grupo de militares que se rebelou contra o regime e foi preso nesta segunda-feira.
Antichavismo
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As manifestações ocorreram um dia antes de uma jornada convocada pelo antichavismo para rechaçar a legitimidade do segundo mandato presidencial de Maduro, iniciado em 10 de janeiro após a vitória nas polêmicas eleições em maio do ano passado.
O presidente obteve 5.823.728 votos, com uma participação de 8,6 milhões de eleitores dos mais de 20 milhões que estavam aptos a votar, o que representou a maior abstenção da história venezuelana.
As eleições foram convocadas pela Assembleia Nacional Constituinte, uma espécie de parlamento alternativo formado apenas por apoiadores do governo e não reconhecida pela maioria dos países.
A maioria da oposição venezuelana não participou do pleito, ou porque o considerava fraudulento ou porque seus principais líderes estavam presos ou impossibilitados de concorrer. A presença de observadores internacionais não foi permitida.
A legitimidade do segundo mandato de Maduro foi, portanto, questionada pela oposição e por vários governos e instituições estrangeiras que não reconhecem os resultados das eleições – entre eles Brasil, Estados Unidos, União Europeia (UE), Organização dos Estados Americanos (OEA) e Grupo de Lima.
A Venezuela passa por uma profunda crise social, política e econômica, com inflação de quase 1.700.000% ao ano, falta de produtos e remédios e a fuga de 3 milhões de habitantes.
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