Mundo
Brasileiros integram flotilha humanitária rumo a Gaza
Iniciativa liderada por Greta Thunberg e Thiago Ávila, que reúne pessoas de 44 países, visa furar bloqueio marítimo imposto por Israel. Organizadores dizem que esta é a maior flotilha já reunida com esse objetivo


Uma flotilha humanitária com ativistas de mais de 40 países, incluindo um grupo de brasileiros e a sueca Greta Thunberg, partiu de Barcelona rumo à Faixa de Gaza neste domingo 31 para tentar romper o que os organizadores chamam de “cerco ilegal” imposto por Israel ao enclave palestino.
A missão Flotilha Global Sumud visa abrir um corredor humanitário até Gaza, onde cerca de 2,2 milhões de palestinos estão ameaçados pela fome após quase dois anos da guerra entre Israel e o grupo islamista Hamas.
Não foi informada a quantidade de embarcações que deverá tomar parte na iniciativa, mas, segundo os organizadores, dezenas de navios deverão se juntar à flotilha em 4 de setembro a partir de portos da Tunísia e de outros pontos do Mediterrâneo.
Ativistas realizarão manifestações simultâneas e protestos em 44 países “em solidariedade ao povo palestino”, escreveu Thunberg, que integra do comitê diretor da flotilha, no Instagram. A iniciativa reúne ativistas de vários países, parlamentares europeus e artistas como Susan Sarandon e Liam Cunningham, além de personalidades como a ex-prefeita de Barcelona, Ada Colau.
Participação de brasileiros
O grupo de 13 brasileiros deve embarcar neste domingo, incluindo o ativista Thiago Ávila, de 38 anos, que foi detido e deportado por Israel em julho por tentar furar o bloqueio à Gaza em um barco com mais 11 pessoas, juntamente com Thunberg.
Ávila é cofundador do movimento ecológico Bem Viver no Brasil. Na viagem barrada pelos israelenses em julho, a atuação de Ávila foi alvo de críticas de publicações pró-Israel, que destacaram negativamente a participação anterior do ativista no funeral de Hassan Nasrallah, o líder máximo do Hezbollah, e um discurso em um evento no Irã.
Na missão anterior, os ativistas tentaram levar uma quantidade simbólica de mantimentos à Faixa de Gaza, mas foram detidos pelas autoridades israelenses.
Ávila concedeu entrevista coletiva ao desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos – Imagem: Reprodução
Também estarão no grupo a vereadora de Campinas Mariana Conti (Psol), a presidente do Psol no Rio Grande do Sul, Gabrielle Tolotti; o médico Mohamad El Kadri, coordenador do Fórum Latino Palestino, e outros militantes pró-Palestina como Magno de Carvalho Costa, dirigente Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp).
“Esta será a maior missão de solidariedade da história, com mais pessoas e mais barcos do que todas as tentativas anteriores juntas”, afirmou Ávila a jornalistas em Barcelona na semana passada.
“Missão como esta não deveria existir”, diz Greta
A Global Sumud – que em árabe significa resiliência – se define como uma iniciativa da sociedade civil financiada através de doações de pessoas físicas e jurídicas. A entidade não divulgou os custos da viagem ou quem seriam os doadores.
“Entendemos que esta é uma missão legal sob o direito internacional”, disse a parlamentar portuguesa de esquerda Mariana Mortágua, que se juntará à iniciativa.
“Isso não deveria depender de nós”, afirmou Thunberg, a jornalistas em Barcelona. “Uma missão como esta não deveria existir. É responsabilidade dos países, de nossos governos e autoridades eleitas agir para tentar respeitar o direito internacional, prevenir crimes de guerra e genocídios”, afirmou.
“Esse é o dever legal deles. E eles estão fracassando em fazê-lo, e assim, traindo não apenas os palestinos, mas também toda a humanidade.”
“Nosso objetivo é chegar a Gaza, entregar a ajuda humanitária, anunciar a abertura de um corredor humanitário e, em seguida, trazer mais ajuda, e assim, acabar com o cerco ilegal e desumano de Israel a Gaza”, relatou a ativista de 22 anos.
Bloqueio marítimo em vigor desde 2007
Israel impôs um bloqueio naval à Gaza desde que o Hamas assumiu o controle do território, em 2007, alegando que o objetivo é impedir o envio de armas ao enclave. No início de março, Tel Aviv também isolou Gaza por terra, não permitindo a entrada de suprimentos durante três meses alegando que o Hamas estava desviando a ajuda.
A guerra entre Israel e o Hamas teve início após os ataques terroristas do grupo palestino ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, que mataram mais de 1.200 pessoas, além de outras 251 que foram levadas como reféns, segundo dados israelenses.
Desde então, a ofensiva retaliatória de Israel contra o Hamas matou quase 63 mil palestinos, segundo a contagem do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas.
(AFP, Reuters, ots)
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Plano dos EUA para Gaza prevê o deslocamento de toda a população, diz ‘Washington Post’
Por AFP
Flotilha com Greta Thunberg zarpa de Barcelona com ajuda para Gaza
Por AFP
Hamas confirma a morte de dirigente em Gaza
Por AFP
Milhares protestam contra ações de Israel em Gaza à margem do Festival de Veneza; veja fotos
Por AFP