Mundo
Bombardeio israelense a depósito de agência da ONU mata funcionário que distribuía comida a palestinos
Desde o início da guerra, em 7 de outubro, pelo menos 165 membros da agência da ONU foram mortos e mais de 140 de seus centros, incluindo muitas escolas, foram afetados
A agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) anunciou nesta quarta-feira (13) a morte de um de seus funcionários em um ataque israelense a um armazém em Rafah, no sul da Faixa de Gaza. O Ministério da Saúde do movimento islâmico palestino Hamas, por sua vez, relatou quatro mortes no “bombardeio” ao armazém. Mais de cinco meses após o início do conflito, os cerca de 2,4 milhões de palestinos que vivem na região enfrentam uma dramática crise humanitária.
“Pelo menos um funcionário da UNRWA foi morto e outros 22 ficaram feridos durante um ataque israelense a um centro de distribuição de alimentos no leste de Rafah”, disse um comunicado da agência. “O ataque de hoje a um dos poucos centros de distribuição da UNRWA ainda funcionais na Faixa de Gaza ocorre num momento em que a desnutrição e a fome se espalham” no território, segundo o diretor da agência, Philippe Lazzarini, citado no texto.
De acordo com o responsável pela instituição, os dois lados sabiam da atuação dos trabalhadores humanitários no local. “Todos os dias, damos as nossas coordenadas às partes em conflito. O Exército israelense recebeu as coordenadas, incluindo as deste centro, ontem (terça-feira)”, acrescentou Lazzarini.
“Como podemos continuar as nossas operações de ajuda quando nossas equipes e nossos armazéns estão constantemente sob ameaça?”, reagiu o chefe do escritório de operações humanitárias da ONU (Ocha), Martin Griffiths. “Eles devem ser protegidos. Esta guerra deve parar”, acrescentou.
Contatado pela AFP, o Exército de Israel não respondeu imediatamente.
Desde o início da guerra, em 7 de outubro, pelo menos 165 membros da agência da ONU foram mortos e mais de 140 de seus centros, incluindo muitas escolas, foram afetados, acrescenta o comunicado de imprensa. “As Nações Unidas, seu pessoal, suas instalações, devem ser protegidos em todos os momentos. Desde o início da guerra, os ataques contra os centros da ONU tornaram-se habituais”, lamentou Philippe Lazzarini, denunciando “uma flagrante violação do direito internacional”.
Um fotógrafo da AFP viu vítimas chegando ao hospital al-Najjar em Rafah. Pelo menos uma delas foi identificada por outras pessoas no atendimento médico como sendo funcionária da ONU.
Violência durante o Ramadã
“É um centro da UNRWA, esperamos que seja seguro”, disse Sami Abu Salim, residente de Rafah, à AFP. “Algumas pessoas vieram distribuir ajuda a quem precisava de comida durante o Ramadã e, de repente, foram atingidos por dois mísseis”, relatou.
“É Ramadã, como eles podem nos bombardear durante o Ramadã?”, perguntou Hasan Abu Auda, natural de Beit Hanoun, no norte de Gaza, e deslocado para Rafah.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelo ataque de 7 de outubro do Hamas no sul de Israel, que resultou na morte de pelo menos 1.160 pessoas, a maioria civis, segundo uma contagem da AFP estabelecida a partir de fontes oficiais israelenses.
Em retaliação, Israel lançou uma ofensiva militar que até agora matou mais de 31 mil pessoas na Faixa de Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Depois de mais de cinco meses de guerra, a ONU teme a fome generalizada no território.
Face à emergência humanitária, vários países decidiram criar rotas alternativas, marítimas e aéreas, para entregar remessas de ajuda à população. Os comboios terrestres só entram de forma esparsa na Faixa de Gaza, principalmente a partir do Egito, numa passagem controlada por Israel.
“Deixar a população com fome tem sido arma de guerra”, disse o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, na terça-feira.
Um primeiro barco carregado com 200 toneladas de alimentos partiu do Chipre com destino a Gaza na terça-feira, utilizando um corredor marítimo criado pela União Europeia. Este barco da ONG espanhola Open Arms, que reboca uma barcaça, viajava nesta quarta-feira no Mediterrâneo a um ritmo lento.
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