Bolsonaro vota contra palestinos na ONU e fere tradição diplomática

Desde 2006, o Brasil votava a favor das resoluções contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU

Destruição em Gaza (Foto: Oxfam)

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O governo de Jair Bolsonaro rompeu uma tradição diplomática brasileira e votou contra os palestinos no Conselho de Direitos Humanos da ONU e em favor de Israel. As informações são do jornalista Jamil Chade, publicadas no Portal UOL.

Trata-se de uma ruptura histórica, já que o Brasil alternava entre um apoio explícito aos palestinos ou decidia se abster nas votações. Em 29 resoluções contra Israel colocadas em votação, o país, mesmo em diferentes governos, vou a favor de todas.

Mesmo dentro do Itamaraty, a decisão de votar contra os palestinos na ONU foi vista com dúvidas, já que a posição do governo Bolsonaro vai contra as diretrizes de política externa seguidas pelo Brasil há décadas.

O país votou contra resoluções que condenavam Israel, entre as quais a que pedia justiça diante de supostas violações e crimes cometidos em conflitos registrados em 2018, em Gaza.

No total, foram cinco resoluções que o Brasil votou na Comissão de Direitos Humanos da ONU. Todas elas se referiam à relação entre sírios e palestinos em Israel.

A tensão permanece na Faixa de Gaza (Said Khatib/AFP)


A primeira resolução tratava do pedido de justiça pelas violações e crimes cometidos por Israel em conflitos registrados em 2018 em Gaza. A resolução resulta de uma investigação de comissão internacional na qual soldados israelenses mataram 189 palestinos, todos manifestantes que se encontravam desarmados. O governo Bolsonaro votou contra.

O documento de denúncia do caso alerta que “algumas das violações podem constituir crimes de guerra ou crimes contra a humanidade”. Além do Brasil – único país latinoamericano a se posicionar contrário – apenas outros sete países votaram contra a resolução, entre eles aliados tradicionais dos EUA, como Austrália, Ucrânia e Hungria.

Durante seu voto, a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, demonstrou “solidariedade” às vítimas, lamentando a violência cometida aos palestinos, apesar do voto contrário. O Itamaraty justificou que houve “flexibilidade por parte dos palestinos na redação do texto”. Ainda assim, a resolução foi aprovada, apoiada por 28 países.

A segunda resolução se referia à condenação de Israel por violações aos direitos humanos em ocupação israelense das Colinas de Golã. O governo brasileiro também votou contra. A resolução foi aprovada com 26 votos à favor da condenação.

Em contradição a seus votos anteriores, em uma terceira resolução referente ao direito de autodeterminação do povo palestino, o Brasil votou a favor. Entretanto, em seu discurso, a embaixadora brasileira deu indicações de que o país deixaria de tomar a palavra para debater a situação se a ONU não deixasse de ser tendenciosa em relação a Israel.

Logo depois, em resolução sobre a situação de Jerusalém e outros territórios ocupados, o Brasil votou a favor do texto que pedia que os direitos humanos dos palestinos sejam respeitados.

Já em resolução que condenava Tel Aviv pela construção de assentamentos israelenses em terras ocupadas, o Itamaraty se absteve. O embaixador palestino na ONU, Ibrahim Khraishi, criticou o posicionamento: “É algo muito estranho. O Brasil não está adotando sua posição histórica e optou por se abster no caso de uma catástrofe”.

Os votos brasileiros marcaram uma mudança na postura brasileira em relação à diplomacia internacional. Desde 2006, o Conselho de Direitos Humanos da ONU já votou 29 resoluções contra Israel. Independentemente do presidente em exercício, Lula, Dilma ou Temer, o Brasil sempre votou a favor das condenações.

Na próxima semana, o presidente Jair Bolsonaro tem viagem marcada para Tel Aviv.

 

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