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Boko Haram mantém rotina de medo na Nigéria

Seis meses depois, paradeiro das 200 estudantes raptadas continua desconhecido. Governo promete medidas para proteger escolas, mas ataques do grupo radical mostram que meta ainda está distante

Manifestantes protestam com a campanha "Bring back our girls" em frente ao consulado da Nigéria em Nova York, em 14 de outubro de 2014
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“Temos apenas um desejo”, diz Bukky Shonibare em lágrimas, “Deixem as meninas voltarem! Nós exigimos, mendigamos e imploramos para que o governo faça todo o possível para tal.” Ela participa do grupo #BringBackOurGirls, que trabalha na capital nigeriana, Abuja, para a libertação das estudantes raptadas. É difícil esconder o desespero: seis meses depois de os combatentes do Boko Haram raptarem mais de 200 meninas da cidade de Chibok, no norte da Nigéria, a incerteza tornou-se insuportável para muitos dos familiares.

A milícia radical islâmica Boko Haram repetidamente direciona seus atos terroristas contra instituições de ensino: somente em Borno, estado no nordeste nigeriano considerado bastião da milícia terrorista, desde 2011 70 professores foram mortos, e 900 escolas, destruídas, de acordo com números oficiais.

O sequestro de mais de 200 alunas de uma escola secundária em Chibok, em14 de abril de 2014, tampouco foi um ato isolado. Mas, diante do grande número de vítimas, o caso provocou clamor internacional. Já poucas semanas após o sequestro, circulavam rumores de que as forças de segurança do país conheciam o paradeiro das meninas – e tanto maior é a indignação das ativistas do #BringBackOurGirls por o governo ainda não ter libertado as prisioneiras.

O governo do presidente Goodluck Jonathan reagiu às críticas internacionais e inação, criando, entre outras, a Safe School Initiative (Iniciativa Escola Segura), na qual pretende investir 100 milhões de dólares. O objetivo da campanha é as crianças do norte da Nigéria poderem voltar a ir à escola sem medo de atentados terroristas.

Em entrevista à Deutsche Welle, em julho último, a ministra nigeriana das Finanças, Ngozi Okonjo-Iweala, mencionou, por exemplo, um sistema de alarme e melhor iluminação das escolas. Além disso, na construção de novas escolas deverá ser usado material à prova de fogo de alto desempenho. As comunidades locais também deverão participar da proteção, disse a ministra.

Entre os iniciadores do programa está Gordon Brown. O ex-primeiro-ministro britânico é o enviado especial da ONU para Educação. Em maio último, ele prometeu mais de 10 milhões de dólares para a iniciativa de segurança. Empresas privadas nigerianas também pretendem doar a mesma quantia. Berlim quer igualmente apoiar a iniciativa: o Ministério da Cooperação Econômica anunciou que a Alemanha apoia a iniciativa para escolas mais seguras com até 2 milhões de euros.

No entanto, para as ativistas da #BringBackOurGirls, o programa do governo ainda não é convincente. “Nós não podemos falar de uma iniciativa para escolas seguras enquanto as meninas de Chibok não tiverem voltado”, rechaça Bukky Shonibare. Do ponto de vista de seu grupo, o programa de segurança deveria se concentrar principalmente nas meninas.

No nordeste da Nigéria, a porcentagem de jovens que não frequentam a escola é particularmente alta, disse Shonibare: “As meninas ainda têm medo de ir à escola.” A ex-ministra da Educação Oby Ezekwesili, uma das co-organizadoras dos protestos do #BringBackOurGirls diz que a prova mais importante de que as escolas na Nigéria estão seguras seria o retorno das alunas de Chibok.

Um dos estados nigerianos mais afetados pelo terrorismo é Adamawa. Ali, o governo já introduziu novas medidas de segurança. Numa escola secundária na cidade de Mubi – cerca de 100 quilômetros a sudeste de Chibok –, guardas estão agora patrulhando em uniforme, mas desarmados. Os escolares, no entanto, têm dúvidas de que essa proteção seja suficiente. “O governo deveria também disponibilizar armas e equipamentos para o pessoal de segurança”, disse uma aluna à Deutsche Welle. “Só quando isso acontecer, eu vou poder me concentrar no estudo.”

Os professores também estão preocupados. “Sempre que os alunos saem, eu me preocupo se eles vão retornar sãos”, conta Alhaji Muhammad Garga. Além de pessoal de segurança devidamente equipado, ele apela ao governo para cercar as escolas.

Contudo, mesmo se o governo atender a todas essas demandas, o especialista em segurança nigeriano Kabiru Adamu está cético quanto à capacidade do governo nigeriano de garantir uma real proteção: “Estamos numa situação em que até mesmo centros de treinamento militares são atacados, apesar de todas as suas precauções e de seu pessoal”, informou à DW.

Ele afirmou não ver “nenhuma possibilidade de as escolas serem protegidas da mesma forma que os acampamentos militares”. Portanto, a iniciativa para escolas mais seguras não deverá levar a nenhum progresso, a menos que o governo consiga combater efetivamente o Boko Haram. No entanto, os repetidos ataques da milícia terrorista mostram que a Nigéria ainda está longe disso.

  • Autoria Philipp Sandner (ca)

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