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Bispos se preparam para votar sobre a ordenação de homens casados na Amazônia

A possibilidade, se aprovada, vale apenas para regiões isoladas da Amazônia onde a presença de padres é escassa

Papa Francisco, o grande realizador do Sínodo da Amazônia (Foto: Tiziana Fabi/AFP)
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A imprensa francesa desta segunda-feira (21) se concentra no Sínodo da Amazônia. Dois jornais, Le Figaro e La Croix, tratam da possibilidade de que homens casados possam se tornar padres: uma das questões mais debatidas durante o evento realizado no Vaticano até o próximo domingo.

Le Figaro considera que essa é uma semana decisiva para a Igreja Católica. Os bispos votarão no próximo sábado (26) a extensão do sacerdócio a homens casados. O diário lembra, no entanto, que a possibilidade vale apenas para regiões isoladas da Amazônia onde a presença de padres é escassa. A decisão final será divulgada pelo papa Francisco em meados de 2020, através de um documento oficial.

O jornal destaca que é evidente que o sumo pontífice defenda o celibato sacerdotal, mas ele não se opõe que homens casados, em idade avançada, possam ser ordenados para locais onde a falta de padres está prejudicando a comunidade católica. Ao mesmo tempo, salienta Le Figaro, “Francisco é prudente sobre a questão porque ele sabe o choque que esse tipo de exceção provocaria”.

Para o jornal católico La Croix, a proposta é audaciosa, considerando que, desde o século XI o celibato é a regra máxima do sacerdócio. No Sínodo da Amazônia no Vaticano, os maiores opositores à ideia, segundo o diário, seriam os bispos africanos.

Questão urgente

Em coluna publicada no La Croix, Arnaud Join-Lambert, professor de teologia na Universidade Católica de Louvain, escreve que a igreja é obrigada a encontrar uma solução para a questão, mesmo se isso implica em recrutar “padres não-convencionais” ou “padres de proximidade”, explica. Esses seriam sacerdotes que poderiam se dedicar à vida pastoral em meio-período, casados ou não, que tivessem até outros empregos e que, segundo o especialista, “poderiam diminuir a pressão” em comunidades onde o catolicismo está perdendo espaço.

Em menor escala que na Amazônia, Join-Lambert lembra que não é possível negligenciar que a Europa também enfrenta o mesmo problema. De acordo com o professor de teologia, o sistema sacerdotal do oeste europeu só funciona graças a cerca de 10 mil padres vindos de outros países.

O especialista aponta que mesmo na Europa a presença de religiosos em igrejas da periferia não está mais sendo suficiente. Segundo ele, a prática de trazer padres de outros continentes mantém esse sistema com dificuldade.

“Encontrar voluntários esperando dias melhores é irresponsável diante dos desafios da missão diante de todos”, publica. Para ele, embora a Europa não seja a Amazônia, “pensar na escassez de padres também é importante por aqui”, conclui o especialista.

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