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Biden passou um mês sem saber que o chefe do Pentágono está com câncer

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, afirmou que Lloyd Austin não seguiu os procedimentos

O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, que confirmou um ataque militar na Síria. Foto: SIMON WOHLFAHRT / AFP
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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, passou quase um mês sem saber que seu secretário de Defesa, Lloyd Austin, tem câncer, apesar de o funcionário ter sido operado em dezembro e internado na unidade de cuidados intensivos, o que gerou enorme polêmica no país.

O encobrimento coloca Biden em apuros em um ano eleitoral no qual ele já tem de lidar com crises externas graves como as de Israel e Ucrânia.

Como secretário de Defesa, Austin, de 70 anos, supervisiona pessoalmente os destacamentos militares para tentar conter as consequências da guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, que desencadeou ataques às forças americanas no Iraque e na Síria e a navios comerciais no Mar Vermelho.

O Pentágono resistiu durante dias a divulgar detalhes sobre a saúde de seu chefe, até que publicou um informe sobre os problemas de Austin nesta terça, uma mudança de estratégia que, segundo a Casa Branca, chega tarde demais.

O câncer de próstata de Austin foi detectado como resultado de um exame de rotina no início de dezembro, assinalaram dois médicos do Centro Médico Militar Nacional Walter Reed.

Em 22 de dezembro, ele se submeteu a uma cirurgia e recebeu alta no dia seguinte, mas teve de ser hospitalizado novamente em 1º de janeiro devido a complicações “que incluíam náuseas com fortes dores abdominais, nos quadris e nas pernas”, acrescentaram.

“A avaliação inicial revelou uma infecção do trato urinário”, mas os médicos detectaram “acúmulo de líquido abdominal que afetava o funcionamento do intestino delgado” após transferi-lo para a unidade de cuidados intensivos em 2 de janeiro.

‘Que não se repita’

A Presidência criticou a demora. O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, deixou claro que Austin não seguiu os procedimentos.

“Não é ótimo que uma situação como esta se prolongue tanto sem que o comandante em chefe ou o assessor de Segurança Nacional soubesse – ou, francamente, outros líderes do Departamento de Defesa”, declarou Kirby aos jornalistas.

“Não é a forma na qual se supõe que isto deve acontecer. Não está bom. Queremos garantir que isso não se repita.”

O chefe de gabinete da Casa Branca, Jeff Zients, ordenou nesta terça uma revisão urgente das normas para quando os funcionários de alto escalão tenham problemas de saúde.

Segundo Kirby, espera-se que, “se um funcionário do gabinete é hospitalizado e, por qualquer razão, não puder seguir desempenhando suas funções, mesmo que temporariamente, se notifique a cadeia de comando até chegar ao comandante em chefe”.

O caso de Austin provocou uma chuva de críticas dos republicanos, mas também de congressistas democratas.

Mesmo assim, Kirby reiterou que Biden “confia plenamente” em Austin e espera vê-lo de volta ao Pentágono.

‘Recuperação total’

Austin “está progredindo e prevemos uma recuperação completa, mas pode ser um processo lento”, afirmam os médicos do Pentágono em comunicado.

O dano político também pode tardar a curar.

Apesar de Austin ter sido hospitalizado em 1º de janeiro, o Pentágono levou quatro dias para anunciar publicamente e também demorou para notificar Biden e o Congresso.

Algumas das prerrogativas de Austin foram delegadas à vice-secretária de Defesa, Kathleen Hicks, em 2 de janeiro, mas não foi informado que ele estava hospitalizado até dois dias depois, declarou na segunda-feira aos jornalistas o porta-voz do Pentágono, Pat Ryder.

O conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, foi informado em 4 de janeiro e o Congresso, um dia depois.

Ryder reiterou nesta terça-feira que Austin não prevê renunciar. “Segue de bom humor” e “supervisionando as operações cotidianas [do Departamento de Defesa] em todo o mundo”, assegurou.

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