Mundo

Biden envia soldados ao Afeganistão para ajudar na fuga de civis

Presidente afegão deixou o país e o grupo Tabeban retomou o poder

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Foto: AFP
Apoie Siga-nos no

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou neste domingo 15 o envio de mais mil soldados a Cabul, no Afeganistão.

Os militares devem auxiliar a evacuação de milhares de civis americanos e afegãos após a tomada da capital pelos talebans, informou uma autoridade do Pentágono.

Ao todo, seis mil soldados americanos estarão na capital “nos próximos dias”, disse a fonte sob condição de anonimato, enquanto os que tentavam sair com segurança do Afeganistão seguiam para o aeroporto.

Dezenas de insurgentes talebans tomaram o controle do palácio presidencial e clamaram “vitória”, segundo imagens divulgadas pela televisão afegã.

“Nosso país foi libertado e os mujahidin são vitoriosos no Afeganistão”, disse um militante ao canal de notícias Al Jazeera direto do palácio, pouco depois da fuga do presidente Ashraf Ghani para o exterior.

Presidente justifica fuga

O presidente afegão, Ashraf Ghani, disse que fugiu do país para “evitar um banho de sangue”, quando o Talibã entrou na capital, concluindo uma ofensiva relâmpago em todo o território.

Três fontes importantes do Talibã confirmaram à AFP que os insurgentes assumiram o controle do palácio presidencial, acrescentando que uma reunião sobre segurança na capital afegã ocorria no local.

Ghani afirmou que “incontáveis patriotas seriam martirizados e a cidade de Cabul seria destruída” se ele permanecesse.

“O Talibã venceu … e agora é responsável pela honra, propriedade e autopreservação de seus compatriotas”, disse ele em um comunicado postado no Facebook.

“Agora eles enfrentam um novo teste histórico. Ou preservam o nome e a honra do Afeganistão ou dão prioridade a outros lugares e redes”, acrescentou.

Ghani não indicou para onde tinha ido, mas o grupo de imprensa afegão Tolo News indicou que ele pode ter ido para o Tadjiquistão.

O ex-vice-presidente Abdullah Abdullah, que lidera o processo de paz, acusou Ghani de “deixar a população nesta situação”.

Saiba quem são os líderes do Taleban

O funcionamento interno e a liderança do movimento Taleban estão envoltos em mistério, como quando governou o país asiático entre 1996 e 2001.

A seguir, uma breve apresentação dos principais líderes desse grupo radical islâmico.

Haibatullah Akhundzada, o líder supremo

O mulá Haibatullah Akhundzada foi nomeado chefe do Talibã em maio de 2016 durante uma rápida transição de poder, dias após a morte de seu antecessor, Mansour, num ataque com drone americano no Paquistão.

Antes de sua nomeação, pouco se sabia sobre Akhundzada, até então mais focado nas questões judiciais e religiosas do que militares.

Embora esse estudioso já tivesse grande influência dentro da insurgência, da qual liderava o sistema judicial, alguns analistas acreditavam que seu papel à frente do movimento seria mais simbólico do que operacional.

Filho de um teólogo, originário de Kandahar, o coração do país pashtun no sul do Afeganistão e berço do Talibã, Akhundzada rapidamente obteve um juramento de lealdade de Ayman al-Zawahiri, o líder da Al-Qaeda.

O egípcio o chamou de “emir dos crentes”, nome que lhe permitiu consolidar sua credibilidade no mundo jihadista.

Akhundzada teve a delicada missão de unificar o Talibã, fragmentado por uma violenta luta pelo poder após a morte de Mansour e a revelação de que havia escondido por anos a morte do fundador do movimento, o mulá Omar.

O insurgente conseguiu manter o grupo unido e continuou bastante discreto, limitando-se a transmitir raras mensagens anuais nos feriados islâmicos.

Mulá Baradar, cofundador

Abdul Ghani Baradar, nascido na província de Uruzgan (sul) e educado em Kandahar, é o cofundador do Talibã junto com o mulá Omar, que morreu em 2013, mas cuja morte foi escondida por dois anos.

Como muitos afegãos, sua vida foi moldada pela invasão soviética em 1979, que o tornou um mujahideen – combatente islâmico fundamentalista – e acredita-se que ele tenha lutado ao lado do mulá Omar.

Em 2001, após a intervenção dos Estados Unidos e a queda do regime talibã, fez parte de um pequeno grupo de insurgentes disposto a firmar um acordo que reconhecia o governo de Cabul. Mas esta iniciativa não teve sucesso.

Abdul Ghani Baradar era o comandante militar do Talibã quando foi preso em 2010 em Karachi, no Paquistão. Foi libertado em 2018, especialmente sob pressão de Washington.

Ouvido e respeitado pelas diferentes facções do Talibã, foi nomeado chefe de seu escritório político, localizado no Catar.

Do país do Golfo, liderou as negociações com os americanos, que levaram à retirada das forças estrangeiras do Afeganistão.

Sirajuddin Haqqani, chefe da rede Haqqani

Filho de um célebre comandante da jihad anti-soviética, Jalaluddin Haqqani, Sirajuddin é o número dois do Talibã e o chefe da rede Haqqani.

Essa rede, fundada por seu pai, é classificada como terrorista por Washington, que sempre a considerou a facção combatente mais perigosa diante das tropas dos Estados Unidos e da Otan nas últimas duas décadas no Afeganistão.

Também é acusado de ter assassinado algumas autoridades afegãs e de manter ocidentais como reféns para resgate ou mantê-los como prisioneiros, como o militar americano Bowe Bergdahl, libertado em 2014 em troca de cinco presos afegãos da prisão de Guantánamo.

Conhecidos por sua independência, habilidades de combate e relações frutíferas, acredita-se que os Haqqani estejam no comando das operações do Talibã nas áreas montanhosas do leste do Afeganistão e teriam grande influência nas decisões do movimento.

Mulá Yaqoub, o herdeiro

Filho do mulá Omar, Yaqoub é o chefe da poderosa comissão militar do Talibã, que decide os rumos estratégicos da guerra contra o Executivo afegão.

Sua ascendência, fizeram dele uma figura unificadora dentro de um movimento amplo e diverso.

As especulações sobre seu papel exato na insurgência são persistentes. Alguns analistas acreditam que sua nomeação para a chefia dessa comissão em 2020 foi apenas simbólica.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.