Mundo
Berlusconi tenta a fazer a Itália de refém
O ex-primeiro-ministro ameaça o governo em troca de um salvo-conduto para continuar na política após ser condenado por fraude


A condenação por fraude do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, confirmada na sexta-feira 2, jogou a Itália em uma crise política capaz de ameaçar o governo do atual primeiro-ministro, Enrico Letta.
A instabilidade ocorre porque o partido de Berlusconi, o Povo da Liberdade (PDL), de centro-direita, faz parte da coalizão governista cujo líder é Letta, do Partido Democrático, de centro-esquerda. Uma vez condenado, Berlusconi e o PDL passaram a ameaçar, de forma velada, a aliança.
Num discurso feito no domingo 4, diante de milhares de simpatizantes que se reuniram em frente a sua casa, em Roma, para prestar solidariedade após sua condenação, Berlusconi afirmou que não romperá a coalizão. “Nós dissemos de maneira clara e direta que o governo deve seguir em frente”, afirmou. Ao fazer este tipo de discurso, o que Berlusconi consegue é afirmar seu poder político e deixar claro que, se quiser, pode derrubar o governo.
Nesta segunda-feira 5, dois emissários do PDL realizaram encontro com o presidente da Itália, Giorgio Napolitano. Segundo a imprensa local, a visita teve como intenção expor a vontade do partido de buscar um “salvo conduto” para Berlusconi continuar atuando na política.
Berlusconi é hoje senador e pode ser cassado por conta da condenação em definitivo por fraude. A decisão caberá ao Parlamento, mas a Corte de Apelação de Milão também vai reavaliar a pena de cinco anos sem poder concorrer a cargos públicos à qual Berlusconi foi condenado em instância anterior. É principalmente contra a cassação de seu líder que o PDL luta nesses dias.
Enquanto Berlusconi manobra, o primeiro-ministro Enrico Letta tenta manter a Itália governável. Nesta segunda-feira, Letta deu entrevistas lembrando o momento sensível pelo qual passa o país e a necessidade de ser fazer reformas. Foi um recado tanto para Berlusconi quanto para seus aliados do Partido Democrático que podem querer tirar vantagem da crise. “Penso que é preciso ter estabilidade e há sinais de consciência desta necessidade”, afirmou. Letta disse ainda que “o povo italiano” pede respostas concretas e que o tempo é curto para os políticos. “A próxima semana será crucial, porque no Parlamento estão inúmeras medidas importantes para os trabalhadores, as empresas e os cidadãos”.
Os próximos dias vão mostrar se a classe política italiana está preparada para colocar o país no rumo ou jogá-lo em um novo ciclo de instabilidade, eleições e formação de governo.
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